Lula diz que Bolsonaro "roubou" do povo Dia da Independência
9 de setembro de 2022O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, afirmou nesta quinta-feira (08/09) em um comício em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que Jair Bolsonaro "roubou do povo brasileiro o direito de comemorar o Dia da Independência". Ele referia-se ao ato político-eleitoral conduzido pelo presidente no dia anterior na orla de Copacabana, que se fundiu às comemorações do bicentenário.
"Ele se apoderou, da forma mais vergonhosa, de um dia que é de 215 milhões de brasileiros, e fez de uma festa do nosso país uma festa pessoal", afirmou Lula, que comparou o evento liderado pelo presidente em Copacabana a uma reunião da Ku Klux Klan, grupo supremacista branco dos Estados Unidos. "Não tinha negro, não tinha pardo, não tinha pobre, não tinha trabalhador", disse.
Lula acusou ainda o governo Bolsonaro de gastar "a maior quantidade de dinheiro em uma campanha eleitoral que já foi gasta na história deste país", e mencionou um decreto editado pelo presidente na terça-feira que alterou regras de programação orçamentária para permitir a liberação de mais R$ 5,6 bilhões em emendas de relator antes dos primeiro turno das eleições.
O petista subiu ao palanque com Marcelo Freixo, candidato do PSB ao governo fluminense, e André Ceciliano, candidato do PT ao Senado e atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Como vem ocorrendo na sua campanha, o comício foi realizado em uma área cercada e todos os presentes foram revistados, por medida de segurança.
Ao defender o voto em Freixo, Lula disse que os eleitores do Rio não poderiam "repetir o erro" de 2018, quando o estado elegeu Wilson Witzel, "um juiz desconhecido, alguém do qual vocês nunca tinham ouvido falar na vida". "Como houve uma campanha para difamar a política, vocês deixaram de votar num homem como o Freixo para votar num juiz que ia acabar com a corrupção. E o que aconteceu? Ele foi cassado por corrupção como governador do estado do Rio de Janeiro", disse.
Lula repetiu um de seus bordões desta campanha ao dizer que, se eleito, a população terá poder aquisitivo para comer mais carne, mencionando um "direito elementar" a fazer churrasco. "Não há nada mais gostoso do que reunir a família da gente num sábado, as pessoas que a gente ama, acender uma churrasqueira, agitar sal na carne e tomar uma cervejinha. Isso é um direito elementar do povo brasileiro", disse. "Carne neste país virou artigo de luxo. E o Brasil é o maior produtor de carne do mundo."
Ele também acenou aos trabalhadores da economia informal, como os por aplicativos, prometendo dar a todos direito a descanso semanal remunerado, férias e seguridade social, e disse que manteria um programa de renda mínima de R$ 600, valor hoje pago pelo Auxílio Brasil, cuja permanência no próximo ano ainda é incerta.
Freixo deve disputar segundo turno contra Castro
Ao assumir a palavra, o candidato do PSB ao governo fluminense acusou o atual governador do Estado, Cláudio Castro (PL), de estar cometendo "o maior crime eleitoral já cometido na história do Rio", com uma campanha que segundo ele seria paga "com dinheiro desviado, de corrupção, de [funcionários] fantasmas".
Freixo prometeu, se eleito, "trazer emprego para a Baixada [Fluminense]" e firmar parcerias com um eventual terceiro governo Lula para melhorar a qualidade dos trens urbanos do Rio.
Professor e ativista de direitos humanos, Freixo iniciou sua carreira política como deputado estadual em 2007 pelo então recém-fundado PSOL. Reeleito duas vezes, notabilizou-se na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo enfrentamento das milícias, e foi presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a ligação de parlamentares com esses grupos criminosos.
Em 2019, foi eleito deputado federal, e dois anos depois deixou o PSOL e filiou-se ao PSB, já com o objetivo de ampliar seu arco de alianças para se lançar ao governo do Rio. Neste ano, ele deu mais um passo ao centro ao retirar sua defesa da legalização das drogas e da renegociação do pagamento da dívida do Rio com a União no Regime de Recuperação Fiscal, e reduziu as críticas às ações policiais no estado.
Questionado sobre esse reposicionamento, Freixo afirmou em agosto que não havia sido ele que mudou, mas sim o Brasil, e defendeu a necessidade de ampliar as alianças para enfrentar Bolsonaro e seus aliados. "A mudança passa por ter conseguido conversar com as mulheres pobres, as mães, com as pessoas que vivem em lugares com drogas, armas e mortes", disse. Freixo conta com o apoio de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central nomeado durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e tem como candidato a vice o ex-prefeito Cesar Maia, do PSDB.
Segundo a última pesquisa Datafolha, realizada em 30 de agosto e 1º de setembro, Freixo tem 26% das intenções de voto, enquanto Castro pontua 31%. Ambos estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro, de três pontos percentuais.
Esquerda fluminense dividida para o Senado
Enquanto Lula e Freixo motivavam união e celebração entre os presentes no comício, o nome do candidato do PT ao Senado, André Ceciliano, provocava divisão. Quando ele assumiu a palavra, ou quando seu nome era mencionado por oradores, parte do público vaiava – em função de uma disputa com o PSB que ameaçou a aliança entre os dois partidos no estado.
Setores do PT do Rio afirmam que o acordo entre as duas legendas, no qual Freixo seria o candidato da coligação ao governo, incluía o PSB abrir mão de lançar nome próprio ao Senado. O deputado federal Alessandro Molon, do PSB, e líder da oposição na Câmara, porém, nega que esse compromisso tenha existido e lançou-se também ao Senado.
Após algumas semanas de tensão entre as duas legendas, a aliança seguiu de pé e ambos mantiveram suas candidaturas – mas Lula declarou apoio apenas a Ceciliano. A identificação com o padrinho político é tão relevante que uma busca por André Ceciliano no Google traz como primeiro resultado, patrocinado, a frase: "Único senador do Lula".
Enquanto isso, Molon foi ao comício de Lula em Nova Iguaçu, mas ficou do lado de fora e tirou foto com apoiadores.
Segundo a última pesquisa Datafolha, a tendência é tanto Molon como Ceciliano ficarem de fora do Senado. O líder é o senador Romário (PL), que tem 31% das intenções de voto. Molon pontua 12% e Ceciliano, 6%.
"Bolsonaro não gosta das coisas que eu sou"
A estudante Gabriela Álamo, de 18 anos, foi ao comício em Nova Iguaçu pois acredita que Lula "é o único candidato que me dá oportunidade para eu alcançar o que quero". Ela afirma ser "do candomblé, bissexual e criada na periferia da Baixada" e que o atual presidente "não gosta nem um pouco das coisas que eu sou".
Beneficiária da política de cotas para estudantes criada no governo do PT, ela diz que, no governo Bolsonaro "ficamos sem comer direito, porque tudo aumentou de preço".
Atuante em uma organização ambiental, ela afirma ainda que Lula seria "o único que favorece o meio ambiente". "A Amazônia está sendo destruída, e a gente precisa dela. O Bolsonaro não se importa com isso", diz.
"Hoje muita gente tem celular e carro graças ao Lula"
O vigilante José Murilo Camões, de 67 anos, eleitor do petista que também foi ao comício, enfatizou que, na sua opinião, as condições econômicas do povo melhoraram durante as gestões do PT, e ele espera que o mesmo ocorra num eventual terceiro governo Lula.
"Hoje muita gente tem celular e carro, e foi através do Lula. Ele abriu essas portas", diz, citando a criação da modalidade do empréstimo consignado em 2006, que reduziu os juros para operações de crédito a aposentados e pensionistas.
Ele avalia o governo Bolsonaro como "péssimo". "Nunca imaginei que o pobre ia comer pé de galinha aqui no Rio de Janeiro. Tudo está aumentando. Ele fez uma média com a gasolina agora, mas isso já estava programado com o Lula, o Lula já ia baixar", diz.
Camões criticou também o fim da política de aumentos reais do salário mínimo, que havia sido adotada por Lula e foi interrompida no governo Michel Temer. "Ninguém está comendo como comia antigamente", diz.