Lukashenko ordena às Forças Armadas "total rigor"
22 de agosto de 2020Em meio à onda de protestos antigoverno e à pressão internacional por democracia e transparência em Belarus, o presidente Alexander Lukashenko ordenou neste sábado (22/08) as Forças Armadas a tomarem as "medidas mais rigorosas" para impedir o que diz serem tentativas de golpe de Estado. Ele acusa Estados Unidos e a Europa de agirem para desestabilizar o país.
Lukashenko afirmou aos militares em uma base da cidade de Grodno, próxima às fronteiras com a Polônia e Lituânia, que poderes estrangeiros agem para derrubar o governo. "Está claro que a situação da política interna no país está sendo incensada por um plano para criar uma revolução colorida", afirmou o presidente, segundo a agência estatal de notícias BeITA.
Ele instou as Forças Armadas a "aplicarem as medidas mais rigorosas para proteger a integridade territorial" do país, que vive protestos em massa após denúncias de fraude nas eleições presidenciais de 9 de agosto, supostamente vencidas por Lukashenko por mais de 80% dos votos. Observadores internacionais foram proibidos de acompanhar o processo eleitoral, o que aumenta as suspeitas em relação ao pleito.
Com o resultado oficial, Lukashenko, de 65 anos, obteve o sexto mandato à frente da presidência, após governar a ex-república soviética por mais de 26 anos.
As forças de segurança do regime bielorrusso, considerado "a última ditadura da Europa", impuseram uma violenta repressão aos protestos, prendendo mais de 7 mil pessoas. Muitos dos que foram mais tarde libertados denunciaram práticas de tortura. Ao menos três manifestantes morreram durante a ação da polícia.
O líder bielorrusso acusa os Estados Unidos de instigarem os protestos iniciados após as eleições. "Os EUA planejaram e dirigiram tudo isso, e os europeus ampliaram a situação", disse Lukashenko na sexta-feira.
No mesmo dia, a União Europeia (UE) declarou que as eleições bielorrussas "não foram livres, tampouco justas" e condenou a violência policial contra os manifestantes, acusando as autoridades de lançarem mão de "violência desproporcional e inaceitável".
O bloco dos 27 países não reconhece o resultado da votação e prepara novas sanções contra as autoridades responsáveis pela suposta fraude e pela repressão violenta aos protestos.
Washington, que também contesta o resultado e a transparência das eleições, pediu que o governo em Minsk inicie uma aproximação com os líderes da oposição. Lukashenko, entretanto, rejeitou ofertas de países do Ocidente , como a Alemanha e a França, de intermediarem o diálogo entre governo e opositores.
"Eles deveriam, em primeiro lugar, resolver seus próprios problemas", disparou. "Não deveriam se preocupar com isso. É um problema meu, que eu tenho de resolver. E, acreditem, resolveremos isso nos próximos dias."
A polícia prendeu o líder de uma greve de operários de uma fábrica de caminhões, que ganhou apoio dos manifestantes nos últimos dias. Os trabalhadores, parados desde a segunda-feira, pedem a renúncia de Lukashenko.
Greves semelhantes ocorrem em várias fábricas pelo país e se tornaram um dos principais desafios para o presidente, para quem é fundamental o apoio das classes trabalhadoras, que há décadas formam o núcleo de sua base política. O presidente ameaçou prender os grevistas, que prometeram manter as paralisações. Além dos operários, centenas de funcionários da rede de televisão estatal também entraram em greve.
A Procuradoria-Geral do país abriu um inquérito para investigar a criação de um conselho de oposição para coordenar a transição de poder, que, segundo afirma, seria uma violação à Constituição e representaria uma ameaça à segurança nacional. Vários líderes opositores foram intimados para depor. Eles rejeitam as acusações e dizem agir dentro da lei.
O conselho pede a realização de novas eleições, organizadas por uma nova comissão eleitoral, além de uma investigação sobre a repressão aos protestos e compensações às vítimas da violência policial.
A candidata da oposição Svetlana Tikhanovskaya, derrotada nas contestadas eleições de agosto, afirmou que a população "jamais aceitará" a continuação do regime de Lukashenko "O povo de Belarus acordou e não quer mais conviver com o medo e as mentiras". "Eleições novas e transparentes têm de ser realizadas", ressaltou.
Após a votação em agosto, Tikhanovskaya se exilou na Lituânia, temendo ser presa pelo regime de Lukashenko. Do país vizinho, ela vem convocando os bielorrussos a saírem às ruas a favor da democracia. Nesta sexta-feira, em mensagem de vídeo, ela pediu que os trabalhadores continuem as greves.
Segundo a agência estatal russa de notícias Tass, Tikhanovskaya não planeja se candidatar caso haja novas eleições no país. "Não pretendo concorrer eu mesma", respondeu, ao ser perguntada se seu marido, um blogueiro oposicionista preso desde o mês de maio, seria um possível candidato à presidência.
RC/dpa/ap/rtr
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