Violência na Inglaterra
10 de agosto de 2011Novos distúrbios foram registrados na noite de terça para quarta-feira (10/08) em várias cidades inglesas, incluindo Manchester, Birmingham e Liverpool e, pela primeira vez e em menor escala, em cidades como Reading, Oxford, Leicester, Gloucester, Wolverhampton, West Bromwich e Milton Keynes.
Em Londres, onde a violência começou no sábado passado, a maciça presença de forças policiais permitiu uma noite tranquila. As prisões da cidade estão cheias. Somente na capital, foram detidas até esta quarta-feira mais de 750 pessoas, das quais mais de 100 foram indiciadas. Entre os acusados está uma criança de 11 anos.
Cameron: nada está descartado
Na manhã desta quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que todas as medidas necessárias serão tomadas para devolver a ordem às ruas. Ele disse que os responsáveis pela violência serão identificados e punidos.
Após uma reunião de emergência com a polícia, Cameron anunciou que todas as hipóteses estão sendo consideradas para conter os distúrbios, incluindo o emprego de jatos d'água e de balas de borracha. "Nada está fora da mesa", garantiu, adiantando que a polícia já foi autorizada a usar balas de borracha e que existe um plano de contingência para que, se necessário, jatos d'água estejam disponíveis em 24 horas.
Esta seria a primeira vez que jatos d'água seriam usados na ilha principal do Reino Unido para controlar multidões, embora Cameron tenha ressaltado que a medida ainda não é necessária. "Precisávamos de um contra-ataque e um contra-ataque já está a caminho", anunciou o político.
O primeiro-ministro britânico atribuiu a responsabilidade pela violência a criminosos, não fazendo menção aos problemas sociais de algumas regiões, acusados como principal motivo por alguns políticos locais. "Há partes da nossa sociedade que são simplesmente doentes", afirmou.
Jatos d'água são usados na Irlanda do Norte desde os anos 1970, onde frequentemente se registam distúrbios nas ruas devidos aos conflitos entre unionistas (protestantes) e republicanos (católicos). Mas, caso as autoridades inglesas decidam recorrer a eles, teriam de solicitá-los às forças daquele território.
Peter Shirlow, um perito em ordem pública, afirmou à BBC que este pode ser um meio útil para conter motins em espaços abertos. Porém, enviaria também a "mensagem de que perdemos o controle" e poderia agravar as tensões "num país que nunca esteve confortável com a ideia de militarização".
Violência em Manchester e Birmingham
Em Manchester e em Liverpool, no norte do país, lojas foram vandalizadas e saqueadas e carros e edifícios, incendiados. Na região de Manchester, que inclui a cidade vizinha de Salford, mais de cem pessoas foram detidas durante a noite. "Uma coisa é absolutamente clara: eles não têm nada contra o que protestar", disse o vice-chefe de polícia local Garry Shewan. "Não há injustiça alguma e nenhum fato que tenha provocado isso", criticou.
Em Birmingham, três homens de origem asiática morreram ao serem atropelados num posto de gasolina e um suspeito foi detido. Testemunhas afirmaram que eles foram mortos ao tentarem proteger sua comunidade de saqueadores.
A polícia afirmou que prendeu um homem e que ele responderá inquérito por assassinato, após o incidente que aconteceu de madrugada. Paramédicos disseram que encontraram cerca de 80 pessoas no local, depois que os homens foram atingidos por um carro. Dois deles foram dados como mortos no lugar do incidente, e o terceiro morreu no hospital.
Birmingham foi um dos maiores focos de distúrbios na noite passada. Mais de 100 pessoas foram presas na região da segunda maior cidade britânica. Também em outras cidades, dezenas de manifestantes foram presos. Outros incidentes foram registados em Wolverhampton e West Bromwich, no centro de Inglaterra, e em Nottingham, onde um posto policial foi incendiado.
Londres mais calma
Em Londres, onde o número de policiais passou de 6 mil para 16 mil na noite passada, não se registraram distúrbios como os das três noites anteriores. A cidade permaneceu tranquila, após três noites de violência. Em muitos bairros, quase não havia pessoas na rua. Muitas lojas fecharam já de tarde e várias empresas mandaram seus funcionários mais cedo para casa devido ao temor de novos ataques.
Cameron, que na segunda-feira antecipou o regresso de férias para lidar com a crise, chefiou nesta quarta-feira uma nova reunião de emergência com as autoridades policiais e civis. Ele prometeu fazer "o que for necessário para restaurar a ordem" e convocou uma sessão extraordinária do Parlamento para quinta-feira.
Os tumultos começaram na noite de sábado no bairro de Tottenham, no norte de Londres, tendo se alastrado rapidamente para outras regiões nos últimos dias. O estopim das revoltas foi a morte de um motorista de táxi de 29 anos, que foi baleado pela polícia. Testes balísticos comprovaram que a vítima não tinha disparado contra policiais, como havia sido alegado pela Scotland Yard.
MD/afp/lusa/dpa/dadp
Revisão: Alexandre Schossler