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Livro celebra inovações alemãs

(as)24 de julho de 2005

O que têm em comum o formato de arquivo mp3, o creme dental e o filtro de café? Todos são invenções alemãs, assegura uma cartilha lançada pelo governo e a indústria do país.

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O mp3 é o formato utilizado pela Apple no sucesso de vendas iPodFoto: AP

Que o automóvel – criado por Karl Benz e Gottlieb Daimler em 1886 – e o motor a diesel – idéia de 1890 de Rudolf Diesel – foram inventados por alemães, é sabido de todos. Mas o mp3, o creme dental e o filtro de café? Pois é o que nos lembra a cartilha "Estrelas alemãs – 50 inovações que todos deveriam conhecer", lançada em formato de livro de bolso pela iniciativa Parceiros pela Inovação, criada pelo governo federal e pela indústria com o intuito de estimular a inventividade dos alemães.

O livro lista 50 inovações que o mundo deve aos alemães. O formato de arquivo digital mp3, por exemplo, surgiu nos laboratórios do Instituto Fraunhofer em 1987. A intenção dos pesquisadores não era revolucionar – ou, dependendo do ponto de vista, irritar – a indústria da música, mas apenas melhorar a qualidade de ligações telefônicas.

Já o filtro de café foi patenteado em 1908 por Melitta Benz, a fundadora da empresa que leva seu nome. Para se livrar do gosto de pó no seu cafezinho, ela usou folhas de papel mata-borrão retiradas do caderno escolar de seus filhos e uma panela furada para coar o líquido. Estava criado o príncipio do filtro de café.

Levi Strauss era alemão!

Até aí, tudo bem. Mas a lista final sugere que os responsáveis pela publicação tiveram alguma dificuldade para chegar ao número 50. Senão, como explicar o que faz a Reforma, desencadeada pelas idéias do monge agostiniano Martinho Lutero, entre as "50 inovações que todos deveriam conhecer"? O texto dedicado ao tema é ainda mais sui generis: compara Lutero ao papa Bento 16, um conservador que causa preocupações aos protestantes alemães.

501 Levis Jeans
Uma das mais antigas calças Levi's existentes, com mais de cem anosFoto: AP

Outra escolha questionável é a de Levi Strauss, o criador da calça jeans. É verdade que ele nasceu na Alemanha, mas trocou sua terra natal ainda adolescente, com a mãe e duas irmãs, pelos Estados Unidos. E sua invenção está intimamente ligada à formação do país americano: a calça jeans surgiu como uma peça suficientemente resistente do vestuário dos mineiros que participavam da corrida do ouro na Califórnia.

Salsicha e ursinho de goma

Algumas escolhas fazem óbvias concessões ao gosto local. Só mesmo um livro editado na Alemanha poderia considerar a salsicha à moda curry, a popular currywurst, como uma "grande idéia de importância mundial", como diz o texto de apresentação do livrinho. E o que dizer dos ultradoces ursinhos de goma da Haribo, que só os alemães conseguem comer?

Produktion von Anti-Baby-Pillen bei Schering
Linha de produção de anticoncepcionais da ScheringFoto: AP

Já outras inovações parecem ter contado com uma "mãozinha amiga" para entrar no livro. É o caso dos elevadores gêmeos desenvolvidos pela ThyssenKrupp, que, coincidência ou não, é uma das patrocinadoras da obra.

A outra é a Schering, mas ninguém tiraria mesmo os méritos da pílula anticoncepcional de fazer parte da lista. Só fica a dúvida se ela é alemã: a Wikipedia, por exemplo, atribui seu surgimento aos esforços do químico Carl Djerassi (austríaco) e do físico e biólogo Gregory Pincus (americano).

E se os planos da iniciativa Parceiros pela Inovação forem cumpridos à risca e o livro ganhar versão para o inglês com distribuição pelo Instituto Goethe, uma boa briga pode estar a caminho. Os orgulhosos americanos podem não gostar de saber que os alemães andam dizendo que a lâmpada elétrica e o telefone não são invenções de Thomas Edison e de Graham Bell, mas de Heinrich Göbel e de Philipp Reis. Uma pendênga que os brasileiros também conhecem: afinal, foi Santos Dumont ou foram os irmãos Wright que inventaram o avião?

Aos interessados: o livro tem distribuição gratuita na Alemanha (basta solicitá-lo pelo site da Parceiros pela Inovação), e alguns dos 50 mil exemplares serão distribuídos em todo o mundo pelo Instituto Goethe.