Liberdade de imprensa se deteriora na Europa
25 de abril de 2018Em nenhuma outra região do mundo a situação da liberdade de imprensa se deteriorou tanto quanto na Europa no ano passado, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A entidade internacional, que divulgou nesta quarta-feira (25/04) o seu ranking anual da liberdade de imprensa no mundo, afirma que campanhas difamatórias contra jornalistas estão envenenando o clima político na UE.
Segundo a RSF, esse ambiente hostil costuma preparar o terreno para ações violentas ou até repressão estatal contra profissionais da imprensa.
Leia também: Opinião: Malta é um caso para a União Europeia
Quatro dos cinco países que registraram as maiores quedas no ranking da RSF são europeus: os membros da União Europeia (UE) Malta (-18 posições, para o 65º lugar), República Tcheca (-11 posições, 34º lugar) e Eslováquia (-10 posições, 27º lugar); e Sérvia (-10 posições, 76º). Nesses países, políticos do alto escalão chamaram atenção por meio de hostilidades, xingamentos e ações judiciais contra jornalistas.
Também em países muito diferentes, como Estados Unidos (-2 posições, para o 45º lugar no primeiro ano de governo de Donald Trump), Índia (-2, 138º) e Filipinas (-6, 133º), personalidades políticas em níveis elevados caluniaram jornalistas como traidores de forma direcionada. No ranking, 42% dos 180 países avaliados registraram deterioração da situação da liberdade de imprensa em comparação com o ano anterior.
"Brincar com fogo"
"Democracias vivem do debate aberto e da crítica. Quem polemiza contra jornalistas incômodos ou os difama, ou questiona a credibilidade dos meios de comunicação de forma generalizada, destrói conscientemente as bases de uma sociedade democrática", disse a porta-voz da sucursal alemã da organização, Katja Gloger, em comunicado.
"Fomentar ódio e desprezo contra jornalistas é brincar com fogo num momento em que forças populistas avançam. Infelizmente, vivenciamos cada vez mais [essa situação] também em países-membros da União Europeia", avaliou.
De acordo com a RSF, programas estatais de difamação de meios de comunicação já não são mais restritos a regimes repressivos como os da Turquia e do Egito, "onde, rotineiramente, governos difamam e perseguem jornalistas críticos como 'traidores' e 'terroristas'", diz texto do órgão divulgado para a imprensa.
"Cada vez mais chefes de Estado e de governo eleitos democraticamente questionam a liberdade de imprensa e, com isso, um dos pilares de qualquer sociedade plural, tratando abertamente a mídia crítica como inimiga, a exemplo da Hungria e da Polônia", continua a explicação.
Em Malta, o assassinato da repórter investigativa e blogueira Daphne Caruana Galizia colocou um foco sombrio sobre a situação da liberdade de imprensa na Europa, diz a RSF. Galizia escrevia sobre a corrupção no governo do país insular do Mediterrâneo e foi morta após a explosão de uma bomba em seu carro no dia 16 de outubro de 2017. Para a associação internacional de jornalistas, Galizia demonstrou a pressão exercida sobre profissionais do setor e como política, justiça e economia estão ligadas em Malta.
A Turquia (queda de duas posições para o 157º lugar) é o país do mundo com mais jornalistas presos. "O estado de direito agora é apenas fachada na Turquia: até sentenças do Tribunal Constitucional favoráveis a jornalistas encarcerados não têm garantia de serem cumpridas", diz a RSF.
A Síria, por sua vez, continua sendo o país mais perigoso do mundo para jornalistas. Em 2017, 13 profissionais foram mortos por motivos diretamente ligados ao exercício do trabalho, e mais de 20 jornalistas estão nas mãos de grupos armados.
Brasil sobe uma posição
Na América Latina, o Brasil subiu uma posição no ranking, passando a ocupar o 102º lugar da lista de 180 países publicada anualmente. Em 2017, o barômetro da liberdade de imprensa da RSF, que contabiliza os profissionais comprovadamente mortos ou presos devido à sua atividade jornalística, denunciou o assassinato do jornalista Luis Gustavo Silva, autor do blog De Olho, em Aquiraz, no Ceará, em junho. Neste ano, o órgão já registrou mais uma morte no país, de Jefferson Pureza, da Rádio Beira Rio FM, em 17 de janeiro.
A Venezuela (143º lugar, queda de seis posições) foi destacada no relatório da RSF. No país, polícia e serviço secreto "agem de maneira rigorosa contra matérias da imprensa sobre a crise duradoura na economia e na política", diz o comunicado da RSF, que ainda exemplifica a má situação da liberdade de imprensa no país com o "abuso [de jornalistas] durante interrogatórios, destruição do equipamento e deportação de repórteres estrangeiros".
Em Cuba (+1, 172ª posição), "apesar de toda a retórica de abertura, os meios privados de comunicação continuam proibidos pela Constituição e são perseguidos pela polícia e pelo serviço secreto, e jornalistas ou blogueiros continuam sendo presos por algum tempo no país".
A Noruega continua encabeçando a lista de 180 países, seguida de Suécia, Holanda e Finlândia. Assim como em 2017, os últimos lugares do ranking de liberdade de imprensa da RSF ficaram com a Coreia do Norte (180ª posição), Eritreia (179ª) e Turcomenistão (178ª) – "ditaduras que não permitem a publicação de informações independentes pela imprensa", diz o órgão sediado em Paris.
RK/dpa/rsf
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram