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Liberal-democratas: um partido alemão em constante crise

5 de janeiro de 2013

Primeiro Westerwelle, agora Rösler: há 12 anos o FDP amarga decepções com seus jovens líderes. No encontro do Dia dos Reis, em Stuttgart, liberais buscam novos rumos. Mas os motivos para esperança são bem poucos.

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Foto: dapd

"Eu lhes prometo: a partir de hoje, finalmente está dada a partida para a nova ascensão dos liberal-democratas." Essa declaração foi feita por Philipp Rösler, pouco depois de sua eleição como presidente do Partido Liberal Democrático alemão (FDP), em 13 de maio de 2011.

Quase 20 meses mais tarde, está claro que o político, na época com 38 anos de idade, estava enchendo demais a boca. Seu partido se encontra pelo menos tão mal quanto antes e cada eleição é motivo de nervosismo. Em quatro dos seis pleitos estaduais realizados desde o empossamento de Rösler, os liberais foram parar na oposição extraparlamentar. E em 20 de janeiro, poderão ter o mesmo destino na Baixa Saxônia, o reduto político do líder do partido.

Para aquele que já foi a grande esperança liberal, seria especialmente trágico terminar sua ainda breve e tortuosa carreira no mesmo lugar onde começou. Pois antes de ser chamado para Berlim como ministro pela premiê Angela Merkel, em 2009, Rösler havia tirado o FDP da oposição parlamentar, colocando-o no governo da Baixa Saxônia.

Mas não foi apenas essa vitória que levou a crer que o jovem político encarnava, como nenhum outro, o futuro do partido. Simpático, sensível, espirituoso e loquaz, Philipp Rösler fazia boa figura: qualidades que parecem ter sumido desde que ele se tornou líder partidário.

Saída de Westerwelle: alívio para o partido

Do ponto de vista do programa político, Rösler lembra cada vez mais seu antecessor, o atual ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, cujo mantra eram a privatização e a redução dos impostos. Recentemente, Rösler apresentou uma proposta de venda do patrimônio público a fim de reduzir a dívida do Estado. Ou seja, o atual presidente do FDP tem se tornado cada vez mais parecido com o antigo líder do partido, sendo que a maior parte dos liberal-democratas tinha ficado aliviada quando Westerwelle finalmente liberou o posto, após dez anos à frente do partido.

Angela Merkel Philipp Rösler FDP CDU Regierung Koalition
Philipp Rösler (esq.) e premiê Angela Merkel: líderes dos dois partidos da coalizão em BerlimFoto: dapd

Hoje, ninguém mais se lembra da fulminante vitória de 14,6% da facção nas eleições parlamentares de 2009. Afinal, logo em seguida e por culpa própria, o FDP despencou na preferência eleitoral. O partido não conseguiu nem cumprir sua grande promessa eleitoral de redução tributária generalizada, nem se livrar da imagem de facção clientelista.

Os liberais são o único agrupamento a rechaçar teimosamente a adoção do salário mínimo na Alemanha, como fazem quase todas as nações industrializadas – uma medida que beneficiaria milhões de cidadãos de baixa renda. Em contrapartida, os relativamente poucos proprietários de hotéis do país lucraram com benfícios fiscais generosos sugeridos pelo partido.

Briga dentro e fora dos bastidores

Após 11 anos na oposição, o FDP, enquanto partido da coalizão governamental, conseguiu se encurralar numa situação aparentemente sem saída, e em tempo recorde. Segundo pesquisas de intenção de voto, o partido mantém-se estavelmente abaixo dos 5%, o que significa que, no momento, faltaria à facção o mínimo necessário para manter uma representação no Parlamento.

Há meses, a liderança liberal encontra-se em conflito. No final do ano, o ministro do Desenvolvimento, Dirk Niebel, expressou em diversas entrevistas o desejo de que haja numerosos candidatos à presidência do partido na convenção marcada para o início de maio, em Nurembergue. Este seria um bom sinal de democracia intrapartidária, justificou o ministro.

Niebel in Afghanistan
Ministro do Desenvolvimento Dirk NiebelFoto: picture-alliance/dpa

Na realidade, a coisa não passa de um truque de retórica para enfraquecer Rösler ainda mais, pouco antes da reunião deste domingo (06/01), em Stuttgart. Desde o século 19, os liberal-democratas da Alemanha inauguram o ano político no Dia de Reis, na capital do estado de Baden-Württemberg.

Tudo indica que os correligionários liberais irão forjar uma união no Teatro Nacional de Stuttgart, embora o combate entre eles seja feroz tanto à frente quanto por trás dos bastidores. Falando ao jornal Rheinische Post, a líder liberal do estado de Baden-Württemberg, Birgit Homburger, procurou rebater essa impressão: "Vamos deixar claro em Stuttgart que nos mantemos unidos", prometeu.

Última chance para Rösler?

Não faz muito tempo que Homburger pôde sentir na própria pele quão perigosas são as armadilhas do FDP. Na escolha dos principais candidatos para as eleições do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), em setembro de 2012, ela foi preterida em favor do ministro Dirk Niebel.

Esta foi uma segunda humilhação para a liberal-democrata, depois de, no ano anterior, ela haver perdido para Rainer Brüderle a presidência da bancada liberal do Bundestag. O ex-ministro da Economia, de 67 anos de idade, discursará depois de Homburger e Niebel, no encontro do Dia de Reis. E mais de uma vez Brüderle já provou que sabe aquecer os corações liberais e fazer ferver os ânimos no auditório.

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Rainer Brüderle (esq.) ao lado de Guido WesterwelleFoto: picture alliance/Alexander Sandvoss

Por isso, muitos correligionários desejam Brüderle como sucessor de Rösler à frente do partido. Um desejo que muito provavelmente se tornará realidade, caso o FDP perca as eleições estaduais na Baixa Saxônia, duas semanas depois da reunião em Stuttgart.

Neste 6 de janeiro, Philipp Rösler terá talvez sua última chance de conquistar para si as simpatias do partido. Ele será o último orador do evento. E é bem provável que, já dentro de poucas semanas, todos se lembrem de como o atual líder fez, neste dia, sua última aparição no grande palco da política liberal-democrata.

Autoria: Marcel Fürstenau (av)
Revisão: Soraia Vilela