"Le Pen seria um enorme problema para a França"
5 de maio de 2017Neste domingo (07/05), os franceses vão escolher entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron no segundo turno da eleição presidencial na França. Nenhum dos candidatos pertence aos partidos tradicionais da política francesa.
Para Frank Baasner, diretor do Instituto Franco-Alemão (DFI) em Ludwigsburg, no sudoeste alemão, o fato de, nesta eleição, nem socialistas nem conservadores terem conseguido chegar ao segundo turno é uma punição por eles estarem envolvidos num escândalo após o outro.
"Ao mesmo tempo, um fenômeno como Macron também é possível na França atual", explicou Baasner. "Acredito na vitória de Macron. A questão fundamental é: como ele vai ganhar? O povo vai elegê-lo somente para evitar Le Pen ou porque está realmente convencido das ideias do candidato?", questiona o especialista.
Deutsche Welle: O que acontece com as relações franco-alemãs se o candidato pró-europeu Emmanuel Macron for o próximo presidente da França?
Frank Baasner: Se Macron ganhar a eleição presidencial e conseguir uma maioria no Parlamento, haverá um novo movimento dentro das relações franco-alemãs. Em toda a Europa haverá novos impulsos. E isso é uma coisa boa. Ultimamente, o governo alemão tem se mostrado muito passivo, de acordo com o lema: os outros têm que resolver primeiro os seus próprios problemas. Espero que, com Macron, isso venha a acabar.
DW: Que novo movimento seria esse?
FB: Quando Macron foi ministro da Economia, ele colaborou muito com o ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel. Haverá, entre outros, avanços no sentido de um orçamento para a zona do euro – isso é algo que já foi muito discutido também na Alemanha. A crítica de que o superávit comercial alemão seria grande demais não é nova. Isso também se escuta de Bruxelas, Paris e Washington. Vamos ver até que ponto Macron poderá impor reformas na França, dependendo disso, ele vai receber atenção na Alemanha.
DW: Esse conceito de "mais Europa" não poderia contrariar os muitos eurocéticos na França?
FB: Nesse ponto, é preciso que se distinga claramente: sim, o voto de uma parte dos eleitores franceses é, definitivamente, de protesto. Eles são contra o capitalismo e a globalização. Eles votam, em parte, no extremista de esquerda Jean-Luc Mélenchon, mas também na extremista de direita Marine Le Pen e, assim, em dois partidos de orientação protecionista.
Eles prometem aos franceses que podem protegê-los fazendo com que a França se volte para o próprio casulo. Um possível presidente Macron teria que convencer esses eleitores de que a sua abordagem de uma sociedade aberta traz alguma coisa.
DW: Que efeitos uma vitória da líder da Frente Nacional Marine Le Pen teria sobre as relações franco-alemãs?
FB: Se Le Pen vencer, a França vai ter, primeiramente, um enorme problema. Se ela realmente implementasse metade de suas promessas eleitorais, o país se isolaria imediatamente. Basta pensar na saída da União Europeia (UE). No caso de uma vitória de Le Pen, a Alemanha iria, a princípio, esperar para ver – da mesma forma que faz em relação ao presidente americano, Donald Trump.
No entanto, eu teria antes preocupações quanto a distúrbios súbitos e tumultos na França. Atualmente, muitas pessoas já não estão mais dispostas a escolher entre Macron e Le Pen. Por trás disso, há uma química social explosiva, muito descontentamento entre a população. Se Le Pen vencer, tais explosivos podem detonar rapidamente.
DW: Como a chanceler federal Angela Merkel poderia reagir diante de uma vitória de Le Pen?
FB: Ela não iria reagir de forma alguma. Ela precisa apenas tomar conhecimento. Seria uma escolha desaprovada por muitas pessoas. Angela Merkel teria que enfatizar que a França – como também o Reino Unido – está comprometida com os tratados da UE e que o Estado de Direito também se aplica para uma presidente Marine Le Pen.
DW: A crescente popularidade de Marine Le Pen também poderia estar relacionada com a grande influência da Alemanha na UE?
FB: Na França, houve períodos com posições mais claras contra os alemães. De qualquer forma, Berlim sempre vai estar presente nas discussões. Já devido ao desempenho econômico do país, sempre houve uma tradição de "medir forças" com a Alemanha. O vizinho é, ao mesmo tempo, parceiro e ameaça. Le Pen tentou repetidamente aliar o ódio contra Bruxelas a uma desconfiança frente à Alemanha.
De acordo com pesquisas oficiais, no entanto, isso não se reflete na população. Em relação à Alemanha, os franceses têm uma atitude bastante positiva. Ou seja, ressentimentos contra os alemães não vão ajudar muito Marine Le Pen.
DW: Em sua opinião, qual seria a razão para que os franceses, nesta eleição, estejam se orientando fortemente para a esquerda ou para a direita e para que os partidos tradicionais não tenham chegado ao segundo turno?
FB: Trata-se de um cenário muito contraditório. De um lado, deu-se uma imensa bofetada nos dois antigos blocos tradicionais: "centro-esquerda" e "centro-direita". Eles foram punidos por estar envolvidos num escândalo após o outro. Isso remonta até Nicolas Sarkozy e Jacques Chirac. Então veio um François Hollande querendo ser honesto e sincero, mas seu ministro do Orçamento tem uma conta ilícita na Suíça. É compreensível que os franceses digam em algum momento: Agora chega!
Ao mesmo tempo, um fenômeno como Macron também é possível na França atual. Ele veio do nada, subiu sozinho no palanque e fundou um movimento. Isso mostra que a democracia funciona. Essa dinâmica positiva, que Macron tem por trás, só precisa agora prevalecer.
DW: Tem alguma intuição para o resultado do segundo turno?
Acredito na vitória de Macron. A questão fundamental é: como ele vai ganhar? O povo vai elegê-lo somente para evitar Le Pen ou porque está realmente convencido das ideias do candidato?