Latino-americanos na Documenta 14
Em 2017, a maior mostra mundial da arte contemporânea traz para Kassel grandes nomes da arte latino-americana da atualidade e do passado. Veja aqui alguns desses ilustres convidados.
Abel Rodríguez
Ele nasceu como indígena e agora resgata de memória o saber de sua cultura sobre o uso de plantas como alimentos, para vestuário e construção, mas também como parte de ritos sagrados. Na Documenta 14, o colombiano Abel Rodríguez, nome artístico de Mogaje Guihu, descreve em sua obra "Ciclo anual da floresta de várzea" (foto) a aparência e vida mutantes da selva inundada ao longo do ano.
Antonio Vega Macotela
"Moinho de sangue" é o nome da obra de Antônio Veja Macotela. O artista mexicano reproduziu em escala real uma máquina impulsionada por indígenas a grandes altitudes, usada para explorar prata e cunhar moedas em minas na Bolívia colonial. Os visitantes também podem manuseá-la e vivenciar, no próprio corpo, esse símbolo inumano de poder, cunhando moedas que são verdadeiros "monumentos de bolso".
Antonio Vidal
Segundo os curadores da maior mostra mundial da arte contemporânea, o cubano Antonio Vidal (1928-2013) foi um opositor da ditadura e de todas as formas de totalitarismo. Vidal foi o último sobrevivente de uma geração que mudou a arte cubana nos anos 1950 e cujo abstracionismo "abriu mão da separação entre arte e vida em prol da sempre controversa relação entre arte e política."
Beatriz González
Desde os anos 1960, a colombiana Beatriz González se ocupa de grandes mestres europeus, substituindo originais por reproduções baratas. Esses são os "quadros" exportados para o chamado Terceiro Mundo, como aqui em "Cortina da natureza móvel e mutante". Apesar do apelo pop, seus trabalhos "não nos revelam as condições onipresentes do consumismo, mas marcações semióticas do subdesenvolvimento."
Cecilia Vicuña
Além de uma performance cerimonial onde insta a humanidade a uma revolução pelo amor, a chilena Cecilia Vicuña trouxe para Kassel pinturas figurativas que realizou nos anos 1970, como estes heróis revolucionários, entre eles, Karl Marx, Lênin, Fidel Castro e Salvador Allende. Através de seu estilo pop, a artista compromete de forma divertida a masculinidade indomável desses personagens.
Ciudad Abierta
O coletivo chileno Ciudad Abierta engloba uma comuna, um experimento pedagógico e um laboratório de prática arquitetônica. Em Kassel, ele demonstra a sua forma improvisada e ecológica de construir. No gramado da Orangerie, encontra-se uma imensa bola feita com hastes de metal e revestida de malha. A obra de arte serve a um dos elementos centrais do coletivo de artistas que é organizar jogos.
Guillermo Galindo
Em suas performances sonoras, o artista mexicano Guillermo Galindo dá voz aos migrantes, transformando em instrumentos musicais objetos deixados por eles durante a sua fuga. Os utensílios usados pelo artista mexicano provêm de naufrágios, de praias da ilha de Lesbos na Grécia, de campos de refugiados na Alemanha ou também do Texas, onde foram abandonados por migrantes latino-americanos.
Lorenza Böttner
Transexual, a teuto-chilena Lorenza Böttner perdeu os braços quando criança. Sua obra pode ser vista como resistência: enquanto o discurso médico e os modos de representação pretendem dessexualizar e transformar o corpo deficiente em algo sem definição de gênero, o trabalho de Lorenza erotiza o corpo trans e sem braços, equipando-o com potência sexual e política.
Marta Minujín
A argentina Marta Minujín é responsável pela obra símbolo da Documenta 14 em Kassel: o "Parthenon dos Livros", uma reprodução em tamanho real do templo grego, revestida de livros proibidos por ditaduras atuais e passadas. "Os memoriais de Minujín em prol da democracia e da educação através da arte trazem vida nova aos rituais de sociedades arcaicas", escrevem os curadores da mostra.
Regina Galindo
A guatemalteca Regina José Galindo denuncia na performance "El Objetivo" a violência com armas alemãs exportadas para regiões politicamente instáveis. Segundo ela, a obra propõe "uma dicotomia bastante crítica sobre a postura passiva do público diante das situações pelas quais o mundo passa." Galindo nos convida a sentir o que é estar por trás do canhão de uma arma ou na posição de vítima.
Sergio Zevallos
Arte e violência também se veem na obra do peruano Sergio Zevallos. Na instalação "A War Machine" ("Uma máquina de guerra"), ele mescla retratos em preto e branco de políticos e bandidos, enche tubos com fluídos corporais de conhecidos generais, expõe cabeças encolhidas de pessoas famosas, criticando o que é normal e patológico e "representações estabelecidas pelo sujeito da modernidade colonial".
Ulises Carrión
Carrión foi um artista, escritor, editor e livreiro mexicano. Na Documenta 14, a Sociedade dos Amigos e Amigas de Uises Carrión (1941-1989) faz da obra do artista o seu ponto de partida para explorar estratégias e práticas culturais na interface entre literatura, performance, arte conceitual e vida. Na Documenta, Carrión está presente com vídeos, livros, manuscritos e material de arquivo.