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Kadafi faz primeira visita à Europa em 15 anos

ef27 de abril de 2004

A primeira visita do antigo arquiinimigo do Ocidente, Muammar Kadafi, à Europa, em 15 anos, encerra o isolamento internacional da Líbia, que já dura décadas. Ele é hóspede da União Européia, em Bruxelas.

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Tenda beduína de Muammar Kadafi em BruxelasFoto: AP

A Comissão Européia declarou-se disposta a conversar com o presidente líbio sobre uma melhoria das relações da União Européia com o seu país, mesmo antes do seu hóspede Muammar Kadafi chegar em Bruxelas para conversações nesta terça-feira (27). O coronel foi arquiinimigo do Ocidente durante décadas, mas nos últimos tempos vinha se esforçando para melhorar a imagem da Líbia.

As conversações no quartel-general da UE durante esta sua primeira visita à Europa em 15 anos deverão encerrar o isolamento internacional de décadas que Kadafi iniciou com o seu golpe militar de 1969.

Kadafi tomou o poder da monarquia através de um golpe sem derramamento de sangue, quando tinha 27 anos de idade. Ele implantou, a seguir, uma república socialista islâmica. A situação melhorou principalmente para os mais pobres, que receberam casas gratuitamente e melhores possibilidades de educação. O líder revolucionário não cumpriu, todavia, a sua promessa de incluir o povo nas decisões políticas e governa ditatorialmente o país há 35 anos.

Atentados e isolamento

- As relações da Líbia com o Ocidente pioraram após o golpe. Em 1974, os Estados Unidos colocaram o país na lista dos que apoiavam o terrorismo e, dois anos depois, romperam as relações diplomáticas bilaterais. Uma ataque aéreo contra a capital líbia, Trípoli, foi a resposta de Washington ao atentado na discoteca "La Belle" em Berlim, em 1986, que matou um soldado americano e deixou várias pessoas feridas. A seguir, os EUA decretaram um embargo comercial total contra a Líbia, acabando com o comércio bilateral.

A Organização das Nações Unidas (ONU) impôs um embargo internacional contra a Líbia em 1992, em represália à trágica derrubada de um avião americano sobre Lockerbie, na Escócia, em 1988. O atentado que matou 270 pessoas foi atribuído ao regime líbio.

Blair und Gaddafi, Libyen
Kadafi recebeu recentemente a visita do primeiro-ministro britânico Tony BlairFoto: AP

Indenização e reaproximação

- A posição da Líbia começou a melhorar em 2003, depois que assumira a responsabilidade do atentado de Lockerbie e indenizou as famílias das vítimas. Em compensação, a ONU suspendeu o embargo internacional contra o país.

Os EUA e a Grã-Bretanha iniciaram, simultaneamente, em Trípoli, negociações secretas sobre as armas líbias de destruição em massa. O sucesso veio rápido: em dezembro de 2003, Kadafi anunciou a paralisação do trabalho de construção de bombas atômicas e destruição de suas armas químicas. Trípoli aceitou que inspetores internacionais inspecionassem o cumprimento do acordo.

Os elogios que a Líbia colheu por esta conduta estão sendo seguidos por vantagens práticas. Os EUA anunciaram o fim do seu embargo e acenaram com uma retomada das relações diplomáticas. Empresas americanas já podem investir na Líbia e importar produtos de lá, principalmente petróleo, pois o país possui grandes reservas. Estes fornecimentos a partir de 2004 devem ajudar na anunciada implantação da economia de mercado na Líbia. A participação de firmas estrangeiras, agora, é expressamente desejada.

Ajuste de contas e parceria

com a UE – Diante de tais perspectivas, as conversações entre a Comissão Européia e Kadafi são principalmente sobre a possibilidade de uma inclusão da Líbia no processo de parceria entre a União Européia e os países vizinhos do Mar Mediterrâneo. É o chamado "Processo de Barcelona", que visa, a longo prazo, uma associação com países do norte da África para uma zona de livre comércio.

Bombenanschlag auf Diskotek La Belle
Escombros da discoteca "La Belle" em BerlimFoto: AP

Mas Trípoli ainda tem que ajustar algumas contas na UE. O Tribunal Estadual de Berlim constatou, em 2001, que o serviço secreto líbio é responsável pelo atentado na discoteca "La Belle". E o ministro alemão das Ralações Exteriores, Joschka Fischer, exige indenização para as vítimas. O resultado das negociações permanece em aberto.