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Somália

31 de julho de 2011

A Al Shabab – "a juventude" em árabe – visa estabelecer um Estado islâmico no Chifre da África. Para financiar a luta armada, o movimento toma a população faminta como refém diante das entidades humanitárias ocidentais.

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In this Sunday, July 24, 2011 photo women line up to sign up for the World Food Program emergency distributions in Dolo, Somalia. Some thousands of people have arrived in Mogadishu seeking aid and The World Food Program executive director Josette Sheeran said they can't reach the estimated 2.2 million Somalis in desperate need of aid who are in militant-controlled areas of Somalia. (AP Photo/Jason Straziuso)
Fila da fome em Dolo, SomáliaFoto: AP

Há 20 anos reina o caos na Somália, devido às guerras civis e às pragas de fome. Os radicais islâmicos do país se aproveitaram desse fato, explica Georges-Marc André, encarregado da Organização das Nações Unidas para aquele país africano.

"Após o fim do regime de Siad Barre [em 1991], formou-se um vácuo, onde entraram os fundamentalistas muçulmanos. Eles fundaram escolas corânicas no lugar das instituições de ensino público e pregaram o islamismo wahhabista."

Assim, num país acostumado a uma forma branda da fé muçulmana, criou-se uma nova geração de jovens fundamentalistas, a Al Shabab, que no idioma árabe significa "a juventude".

Influência da Al Qaeda

A Al Shabab almeja a criação de um Estado islâmico segundo os princípios da charia – o código de leis do islã. O grupo radical criou-se a partir da milícia de elite da Union of Islamic Courts, um convênio de tribunais da charia que, desde 2006, controlava a capital Mogadíscio, assim como grande parte do sul e centro da Somália.

Com o passar do tempo, forças árabes da Al Qaeda ganharam forte influência sobre o movimento, e a Al Shabab ampliou sua agenda, incluindo as metas dos djihadistas, partidários da "guerra santa". "A dimensão terrorista na Somália é obra da Al Qaeda", afirma André.

Para a rede de terrorismo, o país no Chifre da África é uma base para desestabilizar o Oriente Médio. Em 2006, a vizinha Etiópia enviou tropas à Somália, porém teve que retirá-las cerca de dois anos mais tarde. "Do ponto de vista da Al Qaeda, a Etiópia é um anacronismo, por ser um Estado cristão em território muçulmano", da mesma forma que Uganda ou o Quênia.

Para além das fronteiras somalis

Presume-se que o atentado terrorista mais espetacular do Al Shabab tenha sido o perpetrado em 2010, durante a Copa do Mundo, justamente na vizinha Uganda. Durante a transmissão do final do campeonato de futebol, uma bomba explodiu num restaurante, matando 74 pessoas.

O massacre deixou claro que a agenda perseguida pela organização radical ultrapassa cada vez mais as fronteiras da Somália. Combatentes clandestinos são recrutados a dedo na diáspora somali das metrópoles estadunidenses.

Para Matthias Weber, politólogo alemão e especialista em assuntos somalis, está claro que "a Al Qaeda utiliza a Somália como local de retiro para seus guerrilheiros, como antes ocorria com o Afeganistão. Existem provas de que numerosos combatentes estrangeiros – do Paquistão, do Afeganistão e do Iêmen, mas também membros da etnia oromo da Etiópia – circulam pela Somália e lutam".

Uma das provas da atual presença da Al Shabab na Somália foi o assassinato de Fazul Mohammed, seu líder na África Oriental, num bloqueio de rua em Mogadíscio, em junho último.

Lucro para as milícias

A recém-iniciada campanha internacional de ajuda à população necessitada é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para as milícias Shabab. Elas podem exigir pedágios e outros favores, em troca do acesso às regiões sob seu controle. Entre estas contam as província Bakool e Lower Shabelle, declaradas zona de calamidade pelas Nações Unidas.

Desse modo, a Al Shabab elevaria consideravelmente seus ganhos financeiros – que a ONU estima em 100 milhões de dólares por ano – obtidos por meio de impostos forçados, contrabando e doações do exterior.

Segundo Matthias Weber, há sério perigo que a rede também financie assim as armas utilizadas contras os soldados do governo de transição, apoiado pelo Ocidente e pela União Africana. "Já aconteceu na província de Bakool, este ano, de lotes de ajuda humanitária serem entregues à Al Shabab e, em seguida, transformadas em dinheiro no mercado local", exemplifica o especialista.

Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, somente cerca de 30% dos bens de ajuda humanitária para a Somália chegaram de fato a seus destinatários nas zonas controladas pelos radicais islâmicos – isso quando as organizações conseguem acesso a elas.

Até há pouco, a maioria dos organizações estavam proibidas de atuar nas províncias do centro e sul do país. A justificativa da Al Shabab era que as ONGs ocidentais perseguiam "metas políticas" nas regiões assoladas pela fome do Chifre da África.

"Eles têm medo que missionários cristãos entrem no país e vejam o que se passa na Somália. Pois lá a população é oprimida em massa. As mulheres são obrigadas a trajar véu de corpo inteiro e os homens têm que usar barba", relata Weber.

Segundo dados da Anistia Internacional, os radicais também recrutam crianças-soldados para suas milícias. A ONU calcula que, atualmente, do meio milhão de menores subnutridos da Somália, cerca de 80% viva nas áreas controladas pela Al Shabab.

Entrevista: Daniel Scheschkewitz (av)
Revisão: Bettina Riffel

Some 10 tonnes of relief food from the World Food Programme (WFP) is unloaded after landing in Mogadishu airport, Wednesday July 27, 2011. More than 11 million people are estimated to need help in East Africa's worst drought in 60 years, in Kenya, Ethiopia, Somalia, Eritrea and South Sudan. (Foto:Feisal Omar, Pool/AP/dapd)
Ponte aérea da ONU leva mantimentos a zonas atingidasFoto: dapd
Somalis from southern Somalia receive food at a feeding center in Mogadishu, Somalia, Tuesday, July 26, 2011. The U.N. will airlift emergency rations this week to parts of drought-ravaged Somalia that militants banned it from more than two years ago _ a crisis intervention to keep hungry refugees from dying along what an official calls the "roads of death." The foray into the famine zone is a desperate attempt to reach at least 175,000 of the 2.2 million Somalis whom aid workers have not yet been able to help. Tens of thousands already have trekked to neighboring Kenya and Ethiopia, hoping to get aid in refugee camps. (Foto:Farah Abdi Warsameh/AP/dapd)
Centro de atendimento aos flagelados em MogadíscioFoto: dapd