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Justiça alemã liberta jornalista da Al Jazeera

22 de junho de 2015

O conhecido jornalista da Al Jazeera, Ahmed Mansur, estava preso desde sábado em Berlim. Ele é procurado pela justiça egípcia e tinha mandado de prisão internacional expedido em seu nome.

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Foto: Getty Images/AFP/A. Berry

O jornalista da emissora de TV árabe Al Jazeera, Ahmed Mansur, foi solto nesta segunda-feira (22/6), após passar todo o final de semana sob custódia em Berlim. A detenção obedecia a um mandado de prisão internacional expedido pela Justiça egípcia. Ele estava detido na capital alemã desde o meio-dia de sábado.

Várias acusações da justiça egípcia pesam contra Mansur, entre as quais o seu suposto envolvimento em um caso de tortura de um advogado na praça Tahrir, no Cairo, em 2011. O jornalista foi condenado à revelia a 15 anos de prisão por este crime.

A Justiça egípcia também acusa o jornalista de estupro e roubo. Mansur nega todas as acusações. A Al Jazeera noticiou a libertação e declara em seu site que o mandado de prisão é uma “tentativa inconsistente de difamação contra um jornalista de liderança.”

No limite do jornalismo

Ahmed mansur nasceu no Egito em 1962. O jornalista é membro da Irmandade Muçulmana, perseguida pelo Judiciário egípcio desde a queda do presidente Mohammed Morsi, em julho de 2013. O ex-presidente foi condenado à morte em maio deste ano, juntamente com outros cem réus. A sentença foi confirmada no dia 16 de junho. Morsi ainda pode recorrer da decisão.

Mansur é um dos jornalistas mais conhecidos do mundo árabe e apresenta diversas entrevistas polêmicas no programa "Bi La hudud" ("Sem Fronteiras", em tradução livre), transmitido pela Al Jazeera. Geralmente ele recebe no programa personalidades conservadoras e até islamistas radicais. Há pouco tempo, ele entrevistou Abu Mohamed al-Jolani, chefe da frente jihadista Al-Nusra, em operação na Síria.

Protesto contra a prisão de Ahmed Mansur na Alemanha
Protesto contra a prisão: "Exigimos que as autoridades alemãs libertem Ahmed Mansur"Foto: Getty Images/AFP/A. Berry

Jornalistas egípcios sob pressão

A Al Jazeera mostra clara simpatia pela Irmandade Muçulmana. Em dezembro de 2013, um tribunal egípcio sentenciou três jornalistas da emissora do Catar a longas penas de prisão. O repórter australiano Peter Greste e seu colega egípcio Mohamed Fadel-Fahmy foram condenados a sete anos de prisão. Outro integrante da equipe, o também egípcio Baher Mohamed teve condenação de 10 anos.

O tribunal considerou que os jornalistas disseminaram notícias falsas para colocar em risco a segurança nacional. A condenação provocou protestos internacionais. Em fevereiro de 2015, Greste foi deportado para a Austrália. Fadel-Fahmy e Mohamed foram libertados após pagamento de fiança.

No ano passado, o Egito expediu um mandado internacional de prisão contra Mansur, que deveria ser cumprido pela Interpol. No entanto, no final de outubro de 2014, a Interpol teria rejeitado o pedido de investigação.

Não são somente os jornalistas da Al Jazeera sofrem com a pressão do regime militar egípcio. Em outubro do ano passado, 17 editores de veículos estatais e privados divulgaram comunicado opondo-se a todas as tentativas de "descrédito" por parte das instituição do Estado. Os jornalistas também se voltaram contra os "abusos de exército, polícia e judiciário". Desta forma, quem assinou a carta atraiu "especial atenção negativa" a seu trabalho.

Ägypten Mursi Urteil
Morsi foi condenado à morte no EgitoFoto: picture alliance/AP Photo/T. el-Gabbas

Em abril de 2015, três jornalistas da revista eletrônica Rassd foram condenados à prisão perpétua. A argumentação do juiz foi que os profissionais teriam veiculado "notícias falsas" e "tentado disseminar o caos" durante a cobertura de um protesto sangrento da Irmandade Muçulmana em agosto de 2013. Os réus ainda podem recorrer da sentença.

A organização de direitos humanos Anistia Internacional informa que, atualmente, 18 jornalistas estão presos no Egito. Dezenas de integrantes de meios de comunicação foram processados. Em conversa com a DW, muitos jornalistas egípcios declaram que não conseguem mais fazer seu trabalho.

"As autoridades egípcias usam como pretexto o argumento de segurança e luta contra o terrorismo. Jornalistas que não se enquadram na linha oficial são colocados na mira", escreve o Comitê para a Proteção de Jornalistas. "A condenação arbitrária [contra os jornalistas da Rassd] agravou a já preocupante situação dos profissionais de imprensa", conforme a organização.

Alemanha colocava reputação em risco

As acusações contra Ahmed Mansur não foram totalmente esclarecidas. Ainda é esperada uma posição das autoridades judiciais de Berlim. Na Alemanha, setores já começavam a se mobilizar, acusando a justiça do país de auxiliar o regime egípcio, que acumula centenas de condenações contra oposicionistas de todos os matizes.

"A justiça de Berlim não pode, sob quaquer circunstância, ser um agente do regime arbitrário do Cairo", defendeu a parlamentar do Partido Verde Franziska Brantner. Havia o receio de que a prisão de Mansur em Berlim arruinasse a reputação da Alemanha não somente junto às forças democráticas egípcias, mas também com o resto do mundo árabe.

MP/dw/dpa