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Julia Friese e o aspecto visual da literatura

Joaquim Sciarra29 de agosto de 2013

Participação de vários ilustradores alemães na Bienal do Livro do Rio de Janeiro é prova de que o aspecto visual da literatura segue firme e forte na Alemanha.

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Foto: Verlagsgruppe Beltz

Com a intenção de apresentar todos os aspectos da produção literária e do mercado editorial da Alemanha, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro convidou 11 autores alemães. Ainda que romancistas em sua maior parte, hoje o gênero mais lucrativo para escritores e editores no mercado livreiro, a Bienal traz ainda contistas, um poeta, um ensaísta e também a autora de e livros infantis e ilustradora Julia Friese.

Nascida em 1979 na cidade de Leipzig, Friese estudou em Dublin, na Faculdade Nacional de Arte e Design, e terminou seus estudos na Academia de Artes Visuais de Leipzig em 2006. Logo conseguiu trabalho na conceituada casa de design Estudio Mariscal, em Bilbao. Sua passagem pela Espanha a levou a seguir com seus estudos na Faculdade de Belas Artes de Bilbao.

Seus primeiros trabalhos foram de autoria própria, como Volera, voleras pas? e Anna La Peureuse, escritos em francês e lançados pela editora francesa Lirabelle. A autora, que é fluente em alemão, espanhol, francês e inglês, escreveu seu último trabalho em colaboração com o escritor austro-egípcio Christian Duda, Alle seine Entlein (Todos os seus patinhos) que foi indicado a prêmios como o LUCHS e o Prêmio de literatura juvenil em 2008.

Buchcover Alle seine Entlein Julia Friese Christian Duda
Original em alemão de 'Todos os seus patinhos'Foto: Beltz & Gelberg

É por este último trabalho que Julia Friese pode ser conhecida no Brasil, com tradução de Marcos Mazzari e lançado pela prestigiosa Cosac Naify. Na antiga tradição da fábula, o livro conta a história de uma raposa, chamada Conrado, e um pato, Lourenço, que acabam constituindo família. Ao roubar um ovo de uma pata, a raposa não sabe como comê-lo.

Depois de abandonar a ideia de fazer ovos mexidos, opta por deixar o pato crescer para comê-lo mais tarde, quando estivesse maior, mas ao assistir ao pato crescendo e convivendo com ele, a raposa é tomada por um sentimento paternal e faz dele seu filho. O trabalho em design de Julia Friese tem se espraiada por vários campos, como livros, cartazes para cinema e revistas.

Ilustração e literatura

Hoje associada mais à literatura infantil e aos romances gráficos, a ilustração acompanhou grandes obras da literatura no passado. No Brasil, por exemplo, é impensável hoje publicar o grande romance de Raul Pompeia, O Ateneu (1888), sem as ilustrações que o autor criou para a obra.

Muitos artistas alcançaram mais renome por seu trabalho como ilustradores do que com seu trabalho como autor. Um caso especial é o britânico Aubrey Beardsley, com seu estilo gótico e altamente sofisticado e erótico, que ilustrou, entre outros, Salomé (1894), de Oscar Wilde, e uma edição de luxo para o longo poema narrativo The Rape of the Lock, de Alexander Pope, em 1896.

Apesar de sua morte por tuberculose ainda muito jovem, com apenas 25 anos, Beardsley teve grande influência no desenvolvimento da Art Nouveau e do design de cartazes durante o século 20.

No Brasil, alguns dos trabalhos de ilustração mais conhecidos são os que acompanharam o trabalho de Monteiro Lobato, certamente. Livros infanto-juvenis como os da Coleção Vagalume vinham sempre amplamente ilustrados.

Um grande artista brasileiro ligado à ilustração e que começa a ser resgatado é o mineiro Arlindo Daibert (1952-1993), que ilustrou edições especiais de livros como Macunaíma, de Mario de Andrade, ou Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

Com a presença de autores como Julia Friese na Bienal, assim como a de Reinhard Kleist e Axel Scheffler, os brasileiros podem observar como este aspecto visual da literatura segue firme e forte na Alemanha.