1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Comportamento

20 de setembro de 2009

Sociólogo alerta que embora os tumultos entre torcedores sejam menos frequentes nas arquibancadas da Primeira Divisão, torcedores de categorias inferiores procuram a violência ao redor dos estádios.

https://p.dw.com/p/Jkgn
Tumultos se deslocam para fora dos estádiosFoto: dpa

Os estádios, propriamente ditos, estão deixando de ser palco de violência de torcedores quando se trata de jogos da Primeira Divisão na Alemanha. Mas principalmente em partidas das categorias inferiores, os conflitos acontecem nas proximidades dos estádios e são gerados por jovens que procuram a violência. O sociólogo Gunter Pilz, da Universidade de Hannover, estuda o comportamento de torcedores e adverte que o problema tomou uma nova dimensão.

Deutsche Welle: Num passado recente, houve conflitos na Segunda e na Terceira Divisão da Bundesliga. Está aumentando a violência no futebol?

Gunter A. Pilz: Observamos que entre os torcedores radicais cada vez mais se destacam jovens que veem o futebol no fim de semana como um "evento de violência". Justamente em partidas fora de casa, estes jovens procuram na violência a possibilidade de diversão absoluta.

O mais dramático é que esses jovens não são mais vistos quando o time joga em casa. Eles só vão aos jogos que não são disputados no próprio estádio. E o aspecto novo é que não mais atacam somente outros torcedores, mas sim qualquer um, mesmo pessoas que não estejam envolvidas com o futebol. Isso, de fato, fez com que o problema adquirisse uma nova dimensão.

Os tumultos não acontecem mais nos estádios, mas principalmente fora deles?

Deutschland Fußball Sportsoziologe Gunter A. Pilz
Gunter PilzFoto: picture alliance / dpa

Os conflitos acontecem apenas fora dos estádios. Isso também se deve ao fato de os estádios terem se tornado locais de alta segurança. Lá não acontece mais nada. O interessante é que aqueles que estão proibidos de entrar nos estádios são exatamente os que participam deste novo tipo de violência fora. Com a proibição, evita-se o problema no próprio estádio, mas ele acontece fora.

Também é interessante observar que 80% das proibições se dão em decorrência de atos que nem aconteceram dentro dos estádios. Ou seja, é preciso se perguntar qual o sentido que está por trás da proibição de entrada de uma pessoa num estádio.

Reivindicações populistas

O Sindicato dos Policiais reivindica que os clubes, a Federação Alemã de Futebol (DFB) e a Liga Alemã de Futebol (DFL) participem dos custos da proteção policial. Esta reivindicação é correta?

Esta reivindicação é populista e ingênua, pois neste caso qualquer cidadão teria que pagar, por exemplo, pelo trabalho de um policial no trânsito. Além do mais, a DFB e a DFL já participam do programa de segurança através de três milhões de euros ao ano, gastos com o financiamento de projetos com torcedores, assistência a torcidas e serviços de segurança. E é para isso, afinal, que existe a polícia. Para isso os policiais são treinados. Não entendo por que eles haveriam de ser então pagos com verbas extraordinárias.

O que se pode fazer? Talvez prevenir através de um diálogo maior entre a torcida e a polícia?

Este é um argumento importante: quando se fala em jovens dispostos à violência, seu número é mínimo. O problema é que, no momento em que a polícia entra em ação, também os sensatos se solidarizam com os violentos. Há grandes processos de solidariedade, resultantes de uma imagem negativa da polícia, que é amplamente difundida.

É extremamente importante que se incentive o diálogo e que os envolvidos se aproximem. Acima de tudo, a polícia precisa melhorar sua comunicação, explicar como e por que faz as coisas, para enfrentar suposições arbitrárias.

Em segundo lugar, os torcedores precisam saber que já não basta apenas dizer: 'Sou contra, mas quando a polícia se envolve, me solidarizo'. É preciso esperar dos torcedores que definam claramente sua posição.

Problemas não apenas no leste da Alemanha

Até agora sempre se falou de um desnível entre o leste e o oeste da Alemanha, mas parece que ele não existe mais. O senhor concorda com isso?

Bundesliga Polizei versucht Fans zu kontrollieren April 2008
Forte presença policial nos estádiosFoto: AP

Acho que esse desnível existe, mas não se pode partir do princípio de que os problemas estejam apenas no leste alemão. Temos também problemas no oeste do país, só que de forma menos aberta e mais velada. A cultura da violência como evento existe tanto na parte ocidental como na oriental do país. As diferenças são difusas. Naturalmente há diferenças no tipo desta violência, especialmente quando se observa o papel do extremismo de direita nas ligas inferiores.

O senhor falou sobre os problemas nas ligas de amadores. Lá acontecem tumultos também em campo?

As brigas acontecem porque não há serviços de segurança, nem policiais e nem cercas. Por isso é muito mais fácil chegar no campo. Mas o que acontece nas categorias amadoras é uma espécie de conflito social simbólico principalmente entre jovens de diferentes procedências e de origem migratória.

Muitos jovens cresceram aqui, mas não são alemães. Eles têm as necessidades de um alemão, pensam como um alemão, mas ao mesmo tempo sabem que não dispõem das mesmas chances de se realizarem na sociedade. Então eles reconhecem: 'no futebol, posso competir com os outros, somos iguais. E posso também mostrar que sou tão bom quanto eles, talvez melhor ainda'.

Então temos estes conflitos, que naturalmente escalam mais facilmente quando há provocação de fora e o juiz não tem sensibilidade suficiente. Os jovens supõem então: 'Ele apita porque sou turco e não porque cometi uma falta'.

Autor: Arnulf Boettcher

Revisão: Soraia Vilela