Imprensa europeia: "Jogo de intrigas cada vez mais maluco"
10 de maio de 2016A anulação da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados foi um dos temas da imprensa europeia nesta segunda-feira (09/05), ganhando destaque o fato de a decisão "ter sido uma surpresa para todos", como afirma o diário francês Le Monde.
"Surpreendente reviravolta para a chefe de Estado Dilma Rousseff na luta pelo poder", afirma o site alemão Tagesschau sobre o recente episódio. "O movimento surpreendente gera uma reviravolta absurda no drama político em curso no país que acabaria com a credibilidade de um roteiro de House of Cards", diz, por sua vez, o jornal britânico The Guardian.
Já o site Spiegel Online escreve que "Dilma tem bons motivos para sorrir, mas seus adversários não desistem, e o jogo de intrigas fica cada vez mais maluco".
Nesta segunda-feira, o presidente interino da Câmara, deputado Waldir Maranhão, decidiu cancelar as sessões do dias 15, 16 e 17 de abril, quando os deputados federais aprovaram a continuidade do processo de impeachment. A decisão foi "um gesto de surpresa", afirmam tanto o italiano Corriere della Sera como o Guardian.
Para o britânico, ao decretar a anulação, Maranhão "jogou uma corda de salvação para Rousseff", mas a decisão foi recebida com cautela até mesmo pela presidente.
Maranhão, ao acatar um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), determinou a realização de uma nova sessão para analisar o processo de impedimento na casa e solicitou ao presidente do Senado, Renan Calheiros, a devolução dos autos.
Os senadores, porém, têm sessão marcada para esta quarta-feira para a votação da denúncia, que, se for de fato realizada, pode levar ao afastamento de Dilma por 180 dias. O Corriere della Sera destaca que a anulação da votação na Câmara ocorre "às vésperas da partida programada" da presidente.
"O cumprimento do calendário [do impeachment] é agora uma incógnita", observa o espanhol El País, dizendo ainda que "Rousseff e seus aliados já têm como certo que uma maioria simples do Senado apoiaria sua saída da presidência". "Poucos – mesmo dentro do PT – acreditam que ela poderá vencer", afirma o Guardian.
Depois de o presidente do Senado ter afirmado, nesta segunda-feira, que rejeitaria a decisão de Maranhão e seguiria com a análise do processo no Senado, o El País publicou que "o impeachment de Dilma Rousseff tem provocado uma guerra entre instituições brasileiras", uma vez que se espera, "mais uma vez, que o Supremo Tribunal Federal interfira no destino político do país".
A imprensa europeia também destaca que tanto Cunha – descrito pelo Tagesschau como o "temível adversário de Dilma" – quanto Maranhão são investigados por corrupção, "assim como muitos políticos brasileiros", diz o The Guardian.
"Maranhão assumiu a presidência da Câmara após o afastamento de Eduardo Cunha, acusado de obstruir investigações do escândalo de corrupção na Petrobras. O presidente interino, ele próprio, é suspeito de corrupção no esquema da estatal", escreve o Le Monde.
O diário francês também observa que o vice-presidente, Michel Temer, "ex-aliado da presidente e que agora se tornou seu rival, já está se preparando para assumir a presidência interina e anunciar a formação de um novo governo" – é Temer quem assume o governo caso Dilma seja afastada por 180 dias após votação no Senado.
O italiano Corriere della Sera também destaca que o vice "já está trabalhando na formação de um novo governo". Segundo o diário, "a anulação desta segunda-feira poderá atrasar esse processo, mas dificilmente salvará o mandato de Dilma Rousseff".