Joachim Löw e seu desafio sem fim
16 de junho de 2018"Visionário, interlocutor, relações públicas": assim Joachim Löw resume suas principais funções como treinador da seleção alemã. Ele deve saber do que está falando, afinal já faz esse trabalho há 12 anos, quase tanto tempo quanto Angela Merkel é chefe de governo. Ou seja: parece uma eternidade.
O "Jogi", com seu pulôver de gola em V e sotaque carregado da região de Baden, está há tanto tempo na profissão que poucos alemães conseguem – e muito menos querem – imaginar um torneio de futebol sem ele. E agora ele até prorrogou novamente o contrato com a Federação Alemã de Futebol (DFB), desta vez até 2022, ou seja, até a próxima Copa do Mundo.
Por que age assim o campeão em exercício, que já recebeu a Cruz de Mérito da Alemanha, foi escolhido como treinador do ano pela Fifa e como melhor técnico nacional do mundo, que tem um estádio com seu nome na cidade natal? O que o motiva a prosseguir, quando agora, no Mundial na Rússia, tem tanto mais a perder do que a ganhar?
O técnico de 58 anos argumenta que "a Copa do Mundo de 2014 foi um ponto alto, mas não um ponto final". Um triunfo não lhe basta, ele quer defender o título de campeão mundial, coisa que, antes dele, nenhum treinador alemão conseguiu, e, na história do futebol, só dois países: a Itália em 1938 e o Brasil em 1962.
"Manter o nível máximo exige um esforço tremendo", explica, em entrevista à DW. "Quando se festejam muitas vitórias, é humano se sentir um pouco saciado. A pessoa talvez perde um pouco a fome, e isso significa que outros, ainda mais ambiciosos, vão derrubá-la do pedestal. Por isso a tarefa mais difícil é se manter sempre nesse nível máximo, sem relaxar."
Mas Löw acredita em sua equipe, que, segundo ele, concentra um grau de talento raramente visto antes numa seleção alemã. "Continuo vendo grande potencial neste time. Tenho a mesma alegria de sempre em trabalhar com esses jogadores e fazer que continuem se desenvolvendo."
Além disso, Löw aprecia o fato de, enquanto técnico indisputado da seleção nacional, não estar submetido à pressão semanal de ter sucesso, como é o caso dos treinadores de clubes. Excetuado o período logo antes de uma Eurocopa ou Mundial, ele pode trabalhar com calma e sem pressão de cima.
É aí que coloca em ação seu ponto forte: desenvolver ideias próprias, concepções e filosofias de jogo, de médio ou longo prazo, estudar e analisar os adversários e as tendências mais novas no campo do futebol.
"De um modo ou de outro, a gente quer sempre ditar tendências. Por isso olhamos para o futuro. Também somos um pouco visionários e às vezes imaginamos coisas totalmente malucas, mesmo que pareçam absurdas, ainda assim, em algum momento nós queremos experimentá-las."
Quem sabe a torcida vai ver uma ou outra dessas ideias malucas em ação no Mundial na Rússia? A pergunta não interessa apenas aos torcedores alemães, uma vez que não foram tão convincentes assim os resultados dos quatro últimos amistosos contra a Inglaterra, França, Espanha e Brasil, todos concorrentes fortes à taça: três empates e uma derrota para a Alemanha. Mas isso não é motivo para nervosismo: a seleção da DFB é tradicionalmente um time de torneios, que dá tudo quando chega a hora.
Joachim Löw se preparou intensivamente por pelo menos dois anos para esta Copa do Mundo. "Sem planejamento, não vai haver sucesso. Com uma meta clara diante dos olhos e com tenacidade, se pode chegar relativamente longe."
Mas, embora o sucesso deva ficar o mínimo possível por conta do acaso, os torcedores alemães podem continuar fazendo figa, pois no fim, diz Löw, "talvez venha uma situação em que a sorte tenha o seu papel".
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram