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Islamista alemão era neonazista antes de se converter

28 de fevereiro de 2017

Preso sob suspeita de planejar atentado, Sascha L. publicou na internet, anos atrás, vídeos contra muçulmanos e imigrantes. Especialistas em radicalização dizem que trocar de movimentos extremistas não é incomum.

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Deutschland Symbolbild Razzia Polizei
Foto: picture alliance/dpa/P. Zinken

O suposto terrorista islâmico preso na semana passada na cidade alemã de Northeim era militante neonazista antes de se converter ao islamismo, informou a imprensa alemã. Segundo a agência de notícias dpa e a revista Der Spiegel, investigadores encontraram um canal no Youtube e um perfil no Facebook que pertenciam a Sascha L., nos quais ele xingava muçulmanos, imigrantes e antifascistas.

Sascha L.foi preso em 21 de fevereiro sob suspeita de planejar um ato terrorista e armazenar "itens e produtos químicos" para a fabricação de explosivos. "O acusado pertence à cena salafista", afirmou a promotoria pública, em comunicado, se referindo ao movimento islâmico ultraconservador. "Durante seu primeiro interrogatório, ele admitiu planejar atrair policiais ou soldados para uma armadilha e depois matá-los com um explosivo caseiro", prossegue o texto.

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Em 2013, o suspeito, agora com 26 anos, postou vídeos em que fala de uma "morte lenta do povo", acusando os muçulmanos de tentarem impor a lei da sharia na Alemanha. "Até um cão sabe aonde ele pertence – e onde você pertence? Não seja mais burro do que um cão e salve a população alemã desta extinção planejada!", citou a Der Spiegel.

A retórica da "morte do povo", assim como uma máscara branca que ele usava em alguns dos vídeos, sugerem que Sascha L. se identificava com a campanha neonazista conhecida como "Die Unsterblichen" (Os imortais), que realizou uma série de flash mobs na Alemanha em 2012. Há outro vídeo, datado de maio de 2013, intitulado Dicas para combater baratas, em que ele incita ataques contra imigrantes na Alemanha.

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Aparentemente, Sascha L. se converteu ao islamismo em 2014, quando foi processado, acusado de divulgar na internet mensagens do "Estado Islâmico". Promotores públicos da cidade de Celle, responsáveis pelo caso, se recusaram a comentar as informações divulgadas pela imprensa.

Mudança de radicalismo

Esta não é a primeira vez no país que um criminoso muda de um grupo extremista para outro. Em 2012, Bernhard Falk, ex-membro do grupo de extrema esquerda chamado "Célula Anti-imperialista" convertido ao islamismo na prisão, publicou um documento convocando ataques à base aérea militar de Ramstein, na Alemanha, depois de aparentemente ter jurado lealdade à rede terrorista Al Qaeda.

Salafista Bernhard Falk, antigo extremista de esquerda
Salafista Bernhard Falk era extremista de esquerdaFoto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini

O caso mais famoso na Alemanha é o de Horst Mahler, um membro fundador do grupo terrorista de extrema esquerda Fração do Exército Vermelho (RAF), que mais tarde se voltou para o radicalismo de extrema direita.

"As ideologias do extremismo de direita e do extremismo religioso são muito semelhantes", frisa Thomas Mücke, diretor da Rede de Prevenção à Violência, organização que administra programas de desradicalização na Alemanha. Ele não se surpreende com os casos extremos de conversão, como o de Sascha L. "Onde quer o extremismo esteja presente, há sempre a tentativa de se marginalizar outras pessoas, buscar uma comunidade homogênea e oposta à democracia", afirma.

Psicologia ou condicionamento social?

Michaela Glaser, que dirige na cidade de Halle um grupo de prevenção à violência extremista no Instituto Alemão da Juventude (DJI, na sigla em alemão), acredita que uma tendência em relação ao extremismo tem menos a ver com padrões psicológicos e mais com as condições sociais. "É uma combinação das experiências de alguém, a partir das quais certas coisas se tornam plausíveis", diz, em entrevista à DW. "Há certas experiências de socialização que as pessoas têm que fazem com que, no geral, opções extremistas se tornem mais atraentes", explica.

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"Há motivos muito diferentes para que as pessoas se juntem a esses grupos, mas entre esses motivos está, definitivamente, uma compensação pela falta de reconhecimento, pela falta de um sentimento de pertencer a algum lugar, uma busca por clareza, por saber onde se está", diz. "E essas são coisas que essas ideologias sempre atendem. Cada uma de um jeito diferente e  eles pertencem, claro, a diferentes grupos sociais. Por exemplo, é obviamente muito mais difícil para alguém com histórico de migração ter acesso a um grupo extremista de direita."

Glaser argumenta que o que todas as ideologias extremistas oferecem às pessoas é uma distinção clara entre o bem e o mal e um sentimento de que seus adeptos pertencem a um grupo especial – e que um sentimento de autoestima é transmitido, através da sensação de se pertencer ao grupo. Em outras palavras, enquanto o extremismo de direita atua fazendo distinções entre raças, o extremismo islâmico funciona dividindo as pessoas entre fiéis e infiéis. Mas a estrutura é semelhante.