Isaac Herzog: a voz branda que pode derrotar Netanyahu
10 de março de 2015De pé, atrás do púlpito, Isaac Herzog levanta o dedo indicador e olha para frente: "Só o primeiro-ministro pode resolver o problema da falta de moradia", diz o principal candidato da esquerda israelense, elevando lentamente o tom para além de sua voz natural. "E prometo abordar esta questão pessoalmente como primeiro-ministro."
Nesta curta cena de campanha eleitoral, nota-se tanto a fraqueza quanto a bravura de Herzog. Seu ponto forte: ele aponta na justiça social, um tema que, segundo pesquisas de opinião, deverá decidir a eleição em Israel daqui a uma semana, no próximo dia 17 de março. Nos últimos anos, os preços dos aluguéis subiram um terço. Com a estagnação salarial e preços galopantes, as contas bancárias de quase metade dos israelenses estão no vermelho.
Mas a campanha não vive só dos temas certos – a personalidade também conta. E aqui reside o ponto fraco de Herzog: ele é visto como pouco carismático.
"Ele tem um tom baixo de voz. Ao discursar, não transmite a impressão de poder e autoconfiança", explica Eytan Gilboa, cientista político e diretor do Centro de Comunicação na Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv. "Ele tem trabalhado para melhorar isso. Mas eu não posso constatar nenhum grande avanço."
Como quase todo líder político israelense, Herzog também prestou serviço militar numa unidade de elite. Mas nele não se percebe uma atitude militar: o político de 54 anos tem algo de vendedor de seguros: magro, não muito alto, com cabelos castanhos levemente encaracolados. Ele gosta de vestir camisas azuis, combinando com a cor dos olhos. Da mãe, ganhou um apelido às vezes usado por adversários políticos: "Bougie".
Pela paz, contra o isolamento
O perfil mais brando difere Herzog do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Segundo Gilboa, o discurso do premiê diante do Congresso americano impressionou muitos israelenses – algo oposto à imagem que o apelido "Bibi" pode deixar transparecer: "Eles viram e escutaram um político poderoso", diz o analista político.
Volume de voz de general e duro tom militar – algo assim é bem recebido em Israel. Enquanto Netanyahu buscava em Washington uma grande plateia, Herzog discursava em Nir Moshe, um vilarejo não muito longe da Faixa de Gaza, no deserto do Neguev.
"O premiê é certamente um bom orador", afirmou Herzog em Nir Moshe. "Mas, apesar de suas impressionantes palavras, no final, ele vai acabar sozinho e isolar Israel."
Mas não é só o tom de voz e a política social que diferem Netanyahu de Herzog. O atual primeiro-ministro procura a confrontação na luta contra o programa nuclear iraniano, promove a construção de assentamentos e não pode imaginar "nenhuma concessão" frente aos palestinos.
Herzog, por outro lado, defende um acordo internacional com o Irã e "anseia pela paz" também com os palestinos, que, para ele, têm o direito a um Estado próprio.
"Com Herzog como primeiro-ministro, Israel poderia iniciar um novo capítulo político", afirma Gilboa. "Mas há a expectativa de muitos europeus de que, com um político da ala esquerdista, se possa chegar a um acordo com os palestinos já amanhã. Isso é um total absurdo, a história mostrou o contrário."
Dinastia política
A carreira política de Herzog teve início em 1999, sob o governo de Ehud Barak, a quem ele serviu como secretário de gabinete. Mais tarde, ele foi ministro da Habitação e Obras. Desde 2013, é o líder do Partido Trabalhista israelense. Sua família é quase aristocrática: o pai, Chaim Herzog, foi presidente entre 1983 e 1993; e seu avô, Isaac HaLevy Herzog, foi grão-rabino de Israel.
Agora, Isaac Herzog tem a chance de coroar a carreira política da família. Junto à ex-ministra do Exterior Tzipi Livni e ao partido dela, o Hatnuah (O Movimento), de centro, ele criou no final de 2014 a aliança União Sionista, que concorre agora às eleições. No caso de uma vitória, Livni vai substituir Herzog como primeiro-ministro após dois anos.
Nas pesquisas de intenção de voto, a aliança de Herzog e Livni está quase empatada com o partido Likud, de Benjamin Netanyahu. "Existem ainda muitos eleitos indecisos", explica Gilboa. "Eles perfazem em torno de 12% a 15% dos eleitores. Muitos deles vão se decidir somente no dia das eleições", completa o cientista político.
No entanto, nem o Likud nem a União Sionista podem esperar por uma maioria própria no Parlamento. Uma coalizão entre partidos de direita e partidos religiosos poderia impedir a eleição de Herzog como premiê - a não ser que ele encontre o tom certo nesta fase final da campanha eleitoral.