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Indústria madeireira alemã floresce na pandemia

Hardy Graupner
26 de maio de 2021

A crise do coronavírus atingiu muitos setores da economia na Alemanha, mas não a indústria madeireira. Os preços de seus produtos subiram acentuadamente nos últimos meses.

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Pilhas de madeira em uma madeireira
Com a pandemia, aumentou a demanda por madeira Foto: Jens Büttner/dpa/picture alliance

Andreas Melzer administra uma serraria em Rüdersdorf, nos arredores de Berlim. Seus livros de encomendas estão cheios, disse ele à DW, simplesmente pelo fato de que muito mais pessoas começaram a fazer coisas em casa durante a pandemia do coronavírus.

Questionado sobre reportagens sobre uma grande escassez de madeira no mercado, o empresário insiste que não precisa se preocupar com o fornecimento de matéria-prima. Nunca houve tanta madeira não processada na Alemanha, conta.

Apoiando sua afirmação, o Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis) em 2020 confirmou um recorde nacional de extração de madeira, o nível mais alto desde a unificação alemã em 1990.

Esse aumento na exploração madeireira é parcialmente devido ao aumento da demanda em vários mercados importantes. Mas cerca de metade é resultado dos danos causados ​​às árvores devido aos efeitos das mudanças climáticas.

Árvores mortas em floresta
Seca e praga de besouros causaram grandes danos às florestas alemãs em 2020Foto: Imago Images/argum/F. Heller

"O vasto escopo da extração de madeira no ano passado pode, pelo menos em parte, ser atribuído à necessidade de remover muito mais árvores danificadas por tempestades ou infestadas por besouros", disse à DW Holger Weimar, do Instituto Internacional de Silvicultura e Economia Florestal de Hamburgo.

Segundo ele, os números da extração fornecidos pela Destatis são indicativos das tendências recentes por si só, mas não refletem totalmente a situação real da extração no ano passado. "É preciso dizer que os números oficiais de extração de madeira são até 25% mais baixos do que os reais, já que as estatísticas oficiais não incluem atividades madeireiras em áreas florestais privadas", ressaltou.

O mercado interno pode absorver tudo?

Então, para onde vai toda essa madeira? No momento, boa parte disso não vai a lugar nenhum. Enormes pilhas de madeira estão se acumulando nas florestas de todo o país enquanto aguarda sua vez de ser processada em uma serraria. Estas não tiveram um momento de tédio nos últimos meses, tentando fazer o possível para lidar com o aumento da carga de trabalho.

"O setor diz que as serrarias de todo o país estão trabalhando em plena capacidade há muito tempo. Elas simplesmente não conseguem absorver mais madeira", disse Weimar. "Isso é em parte um problema técnico, pois não há serrarias suficientes, mas também há falta de mão de obra qualificada."

Para o especialista, o problema foi trazido à tona conforme a demanda por produtos madeireiros disparava, mesmo com o avanço da crise do coronavírus. A construção de casas de madeira ganhou força, assim como os projetos de bricolagem em residências, à medida que mais e mais pessoas foram forçadas a ficar em casa. Além disso, também tem havido uma demanda crescente nos principais mercados internacionais.

"Nos Estados Unidos, as atividades de construção já aumentaram de forma tangível na primavera passada, mas as capacidades de processamento de madeira são limitadas, especialmente porque muitas serrarias foram fechadas durante a crise financeira global", explica Weimar.

Esta opinião é compartilhada por Carsten Merforth, diretor-gerente da Mercer Timber Products, uma empresa com sede no estado alemão da Turíngia especializada em produtos de madeira serrada macia.

"Há um boom nas construções de madeira nos Estados Unidos agora, alimentando a demanda por madeira, já que a economia está se recuperando. E os programas de investimento em grande escala anunciados pelo governo Biden também estão contribuindo para o aumento da demanda e o aumento dos preços", contou Merforth à DW.

Escassez de madeira ou não?

Devido às informações contraditórias, muitos compradores alemães e usuários finais de produtos madeireiros acham que o produto vai faltar. Não faltam reportagens na mídia sobre pessoas que não conseguem madeira suficiente para seus negócios.

"A moda nos EUA tem se espalhado pela Alemanha, e alguns estão estocando madeira, enchendo seus depósitos além das próprias necessidades, especulando sobre aumentos de preços e, assim, tornando esse excesso de madeira indisponível para outros", comentou Merforth.

Somado à situação tensa, há o fato de que muitos carpinteiros na Alemanha estão fazendo exigências injustificadamente altas na qualidade da madeira serrada. "O padrão que eles pedem nem sempre pode ser atendido, com tanta madeira infestada por besouros −  outros clientes no exterior utilizam com gratidão este mesmo material para projetos de construção."

E não há razão para não fazê-lo, insiste Peter Aicher, proprietário da empresa familiar Aicher Holzbau na Baviera e presidente da Associação de Carpinteiros Alemães. "A madeira danificada por tempestades ou infestada não é de forma alguma inferior", disse Aicher à DW. "Os produtos dela têm aproximadamente as mesmas propriedades que a madeira não infestada. Além de algumas imperfeições, o material mantém sua capacidade de carga original quando utilizado na construção."

Procura e oferta em sincronia?

Carsten Merforth conclui que seria incorreto falar de uma escassez geral de produtos madeireiros. A demanda doméstica aumentou, mas também a oferta das serrarias. Ele não entende os pedidos de alguns legisladores alemães sobre restrições à exportação.

"Em 2020, as serrarias alemãs exportaram apenas 600 mil metros cúbicos de madeira serrada a mais para os Estados Unidos. Isso é quase insignificante", destacou Merforth, acrescentando que os Estados Unidos ainda obtêm a maior parte de suas importações do Canadá e apenas 4% a 5% vêm da Alemanha.

"No caso da China, estamos falando principalmente sobre a exportação de madeira danificada por tempestades ou infestada que ninguém aqui na Alemanha quer usar", acrescentou. Uma grande parte das exportações para a China em 2020 foram carregamentos inteiros de toras feitos por proprietários de florestas que tentaram aliviar os mercados locais. Aproximadamente 6,1 milhões de metros cúbicos de toras foram exportados da Alemanha, mas apenas 900 mil metros cúbicos de madeira serrada.

Embora não negligencie clientes domésticos e em outras regiões, Merforth não esconde que sua empresa está fazendo negócios lucrativos e dinâmicos com os Estados Unidos, onde os clientes estão dispostos a pagar muito mais.

Tempos difíceis não estão esquecidos

"Houve um período de 15 anos em que os preços da madeira serrada estavam extremamente baixos e ninguém na época pensava em nos apoiar para que a situação melhorasse", disse, destacando que sua empresa investiu muito na melhoria da produtividade e eficiência durante esse tempo.

Merforth salientou que os preços das toras na época eram muito altos para os padrões internacionais, o que significa que sua empresa teve que diversificar em vários mercados, inclusive em nível internacional, para sobreviver àquele período de provações.

"Há cerca de seis meses, os preços finalmente estão subindo, e algumas pessoas estão imediatamente fazendo um alvoroço sobre isso", reclamou Merforth, segundo o qual os preços não permaneceriam tão altos por muito tempo.

O especialista em economia florestal Holger Weimar concorda. Ele não acha que a alta dos preços da madeira serrada continuará por muito tempo, embora ele admita haver pouca experiência com tais picos extremos.

"Os Estados Unidos estão prestes a expandir suas próprias capacidades novamente para produzir mais no mercado inerno", disse Weimar. "A construção de casas de madeira pode desacelerar um pouco na Alemanha e alguns projetos maiores aqui podem ser adiados, mas isso é mera especulação por enquanto", encerra Weimar.