Indústria alemã
21 de março de 2007A Alemanha importa cerca de 75% das matérias-primas usadas na geração de sua energia. Além disso, aproximadamente 1,3 milhão de empregos no país dependem diretamente da transformação de matérias-primas metálicas, na maior parte também importadas.
Estes dois números bastam para entender por que o empresariado e o governo alemão se encontram em estado de alerta diante da crescente escassez e do respectivo aumento de preços das matérias-primas no mercado internacional.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou nesta terça-feira (20/01) um pacote de medidas para que o país não chegue atrasado demais às fontes. Trata-se de uma reação à acirrada disputa pela divisão do bolo de metais, como cobre, zinco, níquel e volfrâmio, indispensáveis a alguns ramos da indústria alemã.
Chegando atrasado
Merkel admitiu que a Europa é muito lenta nessa corrida. "A China, por exemplo, age com mais rapidez e determinação na ocupação desses mercados. Onde quer que cheguemos, constatamos que outros chegaram antes e já asseguraram para seus países o acesso às matérias-primas", disse.
Ela anunciou a criação de uma comissão interministerial para tratar do assunto com a Confederação da Indústria Alemã (BDI) e com peritos em políticas européia, externa, de segurança, de pesquisa e de desenvolvimento, bem como com as embaixadas alemãs. Até 2009, serão investidos 500 milhões de euros em pesquisas de novos materiais para processamento industrial.
Além disso, o governo pretende ajudar na compra de matérias-primas por empresas alemãs, melhorando as garantias oficiais para essas operações. Será melhorado também o acesso a uma linha de crédito especial para a participação alemã em projetos de extração no exterior. Berlim já oferece garantias no valor de 17 bilhões de euros nessa área, mas esses recursos têm sido pouco usados pela indústria.
Preços disparam
Uma das metas do governo é dobrar até 2020 a produtividade das matérias-primas, para reduzir a dependência externa. Merkel conclamou a indústria a diversificar suas fontes e a comprar participações em fornecedores estrangeiros.
De acordo com dados do Arquivo da Economia Mundial, de Hamburgo, de 2003 a 2006, houve um aumento de mais de 80% nos preços das matérias-primas. No caso do minério de ferro, importado principalmente do Brasil, e da sucata de ferro, o aumento teria sido ainda maior. Alguns metais preciosos subiram 500%.
Segundo o diretor da BDI para questões internacionais relacionadas a matérias-primas, Ulrich Grillo, desde 2002, a disparada dos preços do setor causou custos adicionais de 90 bilhões de euros para a indústria alemã. Isso já teria provocado o corte de 140 mil empregos.
Questão explosiva
Na opinião do presidente da BDI, Jürgen Thumann, "a escassez de matérias-primas virou um fator explosivo na cadeia produtiva industrial. Mas, apesar de já afetar indústrias dos setores metalúrgico, mecânico, eletrônico e automobilístico, o assunto não está sendo levado tão a sério quanto a evolução dos preços do gás e do petróleo".
Num estudo apresentado esta semana no congresso da BDI em Berlim, Thumann advertiu que "a Alemanha pode virar joguete dos conglomerados estatais da Rússia e da China. A crescente influência dos especuladores no mercado de matérias-primas agrava a situação". Ele pediu ao governo alemão que inclua essa questão em sua pauta de política externa.
Especialistas advertem que a atual escassez de matérias-primas não é conjuntural. A previsão é que, devido à "fome de crescimento" dos países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), a demanda por estes recursos dobre nos próximos 30 anos. A China já é o maior importador mundial de matérias-primas. O Brasil está entre os maiores exportadores do setor.