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Indenização tardia

rw1 de abril de 2003

Mulher que virou homem, tumores, filhos com malformações. Estas são apenas algumas das conseqüências do doping secreto sistemático dos atletas na ex-Alemanha Oriental. Pelo menos 200 vítimas querem indenização.

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Heidi, aliás Andreas Krieger, masculinizada pelo doping com hormôniosFoto: AP

Cerca de 200 atletas da antiga Alemanha Oriental entraram com um pedido de indenização contra a administração sistemática, sem que soubessem, de doping para melhorar o desempenho esportivo, pelas autoridades esportivas da ex-República Democrática Alemã (RDA), unificada com a Alemanha Federal em 1990.

Cerca de 200 pessoas haviam pedido indenização nesta segunda-feira (31), dia do encerramento do prazo para a entrega dos requerimentos. As autoridades contavam com um número maior de pedidos, pois estima-se em 10 mil o número de esportistas atingidos.

O Ministério do Interior, que administra o fundo de 2 milhões de euros a ser distribuído entre as vítimas, acredita, entretanto, que este número ainda possa aumentar nos próximos dias, à medida em que forem chegando os documentos complementares enviados pelo correio. Também a indústria farmacêutica Schering colocou 25 mil euros à disposição. A empresa sucedeu a Jenapharm, principal fabricante de esteróides anabólicos na ex-Alemanha comunista.

Vítimas enfrentam barreiras psicológicas

Doping in der DDR
Martina Gottschalt, Carola Beraktschjal, Jutta Gottscheid e Karen Koenig nadadoras alemãs orientais vítimas de dopingFoto: AP

De acordo com a lei, o dinheiro será destinado a quem "sofreu graves problemas de saúde, sejam físicos ou psíquicos, por ter recebido, sem conhecimento, substâncias de doping enquanto atletas da ex-República Democrática da Alemanha". Ao encaminhar o pedido de indenização, é obrigatória a apresentação de um atestado médico comprobatório de sua relação com uso de esteróides anabólicos.

A lei também contempla os filhos de atletas que receberam anabolizantes durante a gravidez. Uma das conseqüências são malformações congênitas graves. "Muitos silenciam por causa da vergonha, outros temem prejudicar a carreira se admitirem que tomaram estimulantes", explica Birgit Böse. A ex-arremessadora de peso faz aconselhamento na Sociedade de Ajuda às Vítimas de Doping, em Berlim. Entre as 450 pessoas com quem ela conversou nos últimos meses, muitas têm dificuldades em aceitar o fato de terem sido usadas por médicos e treinadores sem escrúpulos.

O doping com hormônios foi prática usual de muitos treinadores na ex-Alemanha Oriental, que durante vários anos se destacou no cenário esportivo internacional. Os médicos diziam aos jovens atletas – a maioria menores de idade –, que as pílulas que tomavam diariamente eram vitaminas.

Medalhas para a propaganda do regime

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Organizações que representam as vítimas estimam que 10 mil atletas alemães tenham sido dopados entre 1970 e 1989, ano da queda do Muro de Berlim. As vítimas mais freqüentes eram os competidores de esportes como natação, remo, atletismo e esqui. A alta performance dos atletas e as mais de 500 medalhas olímpicas conquistadas foram vitais para a máquina da propaganda do governo alemão oriental.

Principalmente nos últimos anos, as vítimas passaram a sofrer de tumores sem causas aparentes, problemas hepáticos e depressão. Os efeitos típicos listados na nova lei incluem "crescimento de mamas nos homens, desenvolvimento de nódulos mamários em mulheres e a masculinização da aparência de pessoas do sexo feminino. A situação de cerca de mil pessoas pode ser considerada de extrema gravidade, adverte Birgit.

A mulher que virou homem

Uma das principais vítimas foi Andreas Krieger que, com o nome de Heidi Krieger, venceu na categoria feminina o Campeonato Europeu de arremesso de peso em 1986, três anos após começar a tomar as pílulas de hormônio. Onze anos mais tarde, Krieger fez uma cirurgia para mudar de sexo e transformar-se em homem - compulsão pela qual ele responsabiliza os hormônios masculinos recebidos quando era uma jovem mulher.

Em 2000, dois homens foram julgados por graves danos causados à saúde de mais de 20 competidores. Manfred Ewald, chefe da equipe nacional de esportes da ex-Alemanha Oriental, e o médico da equipe, Manfred Hoeppner, mas receberam suspensão de 22 meses e de 18 meses, respectivamente. Ewald foi um dos responsáveis pelas Wundermädchen" (garotas maravilha), as nadadoras alemãs orientais imbatíveis nas décadas de 70 e 80.