Imprensa alemã destaca Marina Silva e custos da eleição
1 de outubro de 2014A apenas cinco dias das eleições no Brasil, são poucos os relatos sobre a corrida presidencial na imprensa alemã. Além de perfis exaltando a origem humilde da candidata Marina Silva, jornais e revistas se restringem a noticiar pesquisas de intenção de voto, os problemas econômicos enfrentado pelo governo Dilma Rousseff e o alto custo das campanhas. Projetos de governo ficam em segundo plano. Assim como o candidato do PSDB, Aécio Neves.
Focus: "Duelo de amazonas"
O site da revista Focus chama a eleição presidencial de "duelo de amazonas", em alusão à disputa entre Marina e Dilma.
Ao enumerar os vários percalços na vida de Marina – pobreza, fome, analfabetismo até os 16 anos de idade e os problemas de saúde, como hepatite e malária – a publicação concluiu que ela é a mais improvável candidata ao principal cargo político do Brasil.
A Focus diz, também, que Marina possui caráter para abrir mão do cargo de ministra do Meio Ambiente por não concordar com a política do governo Lula na questão do desmatamento na Amazônia.
Segundo a Focus, pouco importa o que Marina diz em seus discursos, pois ela tem a fama de ser honesta, enquanto Dilma precisa lidar com escândalos em seu partido. Marina Silva é classificada como o anticandidato e, de acordo com a publicação, muito da campanha dela lembra a eleição de Barack Obama.
Süddeutsche: Primeiro presidente ambientalista?
O conceituado jornal Süddeutsche Zeitung também publicou um perfil sobre Marina Silva. O texto lembra que ela, e não o alemão Joschka Fischer ou o americano Al Gore, pode se tornar o primeiro presidente ambientalista do mundo.
O texto também exalta a trajetória dela, de ex-empregada doméstica no Rio Branco a candidata a presidente. "Empregadas normalmente continuam sendo empregadas", escreve o diário.
No perfil da candidata, o jornal a elogia por se preocupar com o aquecimento global e a mudança climática do planeta. Além disso, o Süddeutsche Zeitung diz que, com Marina Silva, os protestos brasileiros contra a corrupção e o desperdício de dinheiro público ganharam um rosto.
FAZ: Compaixão como arma de campanha
Já o Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos principais jornais da Alemanha, é mais incisivo e afirma que as duas candidatas usam o "bônus da compaixão como arma de campanha". Segundo o diário, Marina se tornou uma opção de voto para esquerdistas decepcionados e católicos fervorosos.
A publicação lembra que antes da morte de Eduardo Campos a chapa do PSB figurava sem muita representatividade nas pesquisas e que Marina – na época vice de Campos – obteve um salto momentâneo, motivado pela já citada "compaixão".
O Frankfurter Allgemeine destaca ainda que Dilma carrega nesta campanha presidencial o fardo de que a sétima maior economia do mundo entrou em recessão técnica e de que o Brasil perdeu assim a confiança de investidores e consumidores.
E isso justamente no ano da Copa do Mundo, que foi propagandeada pelo governo como um evento que iria impulsionar a conjuntura econômica e a infraestrutura do país. O diário cita ainda os protestos durante a Copa das Confederações, em junho e julho de 2013, e os escândalos de corrupção de 12 anos de governo do PT. Mas, segundo o texto, Dilma conta com a lealdade de cerca de 40% dos eleitores, citando os programas sociais criados pelo partido.
O diário lembra a disparidade entre as campanhas políticas das duas candidatas. O PT, afirma, é um partido melhor estruturado, e a atual presidente tem cinco vezes mais tempo de propaganda política na televisão do que Marina.
O Frankfurter Allgemeine diz que Marina e o PSB formam uma espécie de "terceira opção" no cenário político brasileiro. Mas o problema dela, segundo a publicação alemã, é não poder abrir o leque de seu programa de campanha.
O jornal lembra que Marina disse que apoiava o casamento entre homossexuais e que iria aliviar as leis referentes ao aborto, mas voltou atrás após sofrer pressão dos evangélicos, que representam um quinto de seu eleitorado.
Tagesspiegel: Críticas ao programa de Marina
Assim como os outros meios de comunicação da Alemanha, o Tagesspiegel também ignorou Aécio Neves. Com o título "Brasileiros querem mudanças – mas não Marina Silva", o portal publicou que no Brasil rege a vontade por uma troca de líder do país, mas que nenhum dos candidatos consegue fazer uso dessa tendência.
A publicação critica que o programa de Marina Silva é sem conteúdo e que recai em frases comuns, e que, para brasileiros que querem mais transparência na política, a candidata do PSB tem pouco a oferecer.
O Tagesspiegel critica também a proximidade de Marina com a Igreja Evangélica, que em questões sociopolíticas, como a legalização do aborto e equiparação de direitos para os homossexuais, possui uma postura extremamente conservadora.
O portal cita que os reais problemas do Brasil não interessam a nenhum candidato, como por exemplo as urgentes reformas no sistema tributário. Dilma, de acordo com o texto, está usando a maior parte de seu tempo de propaganda eleitoral para retratar a adversária como um risco incalculável para o Brasil.
Para o Tagesspiegel, a insatisfação dos brasileiros está relacionada à estagnação econômica do país. O PT teria montado o seu modelo de crescimento anual em exportações de matérias-primas, principalmente soja, ferro e petróleo, mas agora os preços caíram. Além disso, a publicação diz que a inflação e os créditos bancários, com os quais era mantida satisfeita a classe média, estão ameaçando estourar.
Sem poder enfatizar o crescimento econômico do Brasil, Dilma Rousseff estaria fazendo das eleições presidenciais um plebiscito sobre os programas sociais criados pelo PT, afirma o portal.
Segundo o governo, cerca de 35 milhões de pessoas subiram ao status de classe média no Brasil, algo que o Tagesspeigel elogia, mas sem antes alertar para a definição de classe média estabelecida pelo PT.
O texto lembra também que as eleições do próximo domingo são as mais caras da história do país e que, entre campanhas e organização, vão custar três vezes mais do que a Copa do Mundo.
TAZ: Custo exorbitante das campanhas
Esta também foi a principal crítica do jornal Tageszeitung (taz). Segundo as contas do diário, os cerca de 25 mil candidatos vão gastar em torno de 71 bilhões de reais em campanha.
Citando o site Congresso em Foco, o jornal alemão explica que o valor pagaria os salários dos 594 deputados e senadores, além de seus funcionários, por sete décadas, e poderia financiar os 50 milhões de brasileiros inscritos no Bolsa Família pelos próximos seis anos.