"Impeachment avança para dias decisivos"
12 de abril de 2016A aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff por uma comissão especial da Câmara dos Deputados foi tema da mídia europeia nesta terça-feira (12/04), com destaque para a sessão de votação tumultuada e a difícil situação enfrentada pela líder brasileira.
"A presidente brasileira deve continuar temendo por seu posto", escreve o site alemão Tagesschau. "Dilma Rousseff começou uma semana que poderia salvar ou arruinar seu governo com uma contundente derrota na comissão do impeachment", afirma o The Guardian.
O jornal britânico destaca o debate "caótico" que resultou na abertura do processo de impeachment por 38 a 27 votos. O espanhol El País também ressalta que a sessão na Câmara foi "repleta de gritos, vaias, exibição de cartazes, bonecos e bandeiras". Para o francês Le Monde, o primeiro passo do processo de impeachment foi aprovado "sem surpresa".
Agora, o processo segue para votação no plenário da Câmara, prevista para o próximo domingo ou segunda-feira e quando precisa receber dois terços de votos favoráveis. No entanto, "muito pode acontecer nos próximos seis dias, numa disputa política que tem mais reviravoltas no enredo e mais drama político que a série House of Cards", afirma o The Guardian.
A "última surpresa", aponta o jornal, foi o vazamento do ensaio do discurso do vice-presidente, Michel Temer, para o caso de o impeachment de Dilma ser aprovado. "O mais provável substituto de Rousseff é Temer, que também enfrenta um processo de impeachment [...] Mais da metade dos 65 membros da comissão do impeachment também são acusado de receber propina e outros crimes", destaca o The Guardian.
O italiano Corriere della Sera especifica que Dilma está sendo acusada de excesso de despesa pública e violação da lei de responsabilidade fiscal, "algo que não é um comportamento tão raro assim num governo". "Na realidade, a razão por lhe quererem a cabeça são outras: uma crise econômica sem saída, o escândalo da Petrobras, que avança em direção ao coração do poder, a pressão das ruas e a dramática impopularidade da líder."
O The Guardian, por sua vez, afirma que Dilma está na corda bamba por conta da "recessão econômica, dos escândalos de corrupção e tramas do PMDB e de outros partidos para tomar o poder". "Mas Rousseff, que ainda tem mais de dois anos de mandato pela frente, está longe de estar nocauteada", diz.
Dilma "enfraquecida demais"
Se conseguir a maioria de dois terços na Câmara, o processo de impeachment ainda precisará ser aprovado pelo Senado, inicialmente por maioria simples. Se referendado pelo Senado, a presidente seria afastada do cargo por 180 dias, sendo substituída por Temer enquanto é julgada.
A mídia europeia destaca a improbabilidade de Dilma voltar ao poder após esse possível afastamento. "A presidente está muito enfraquecida para isso, a população, demasiadamente contra ela, e os ânimos no Brasil, exaltados demais", afirma o alemão Berliner Morgenpost.
"A maioria dos analistas crê que, uma vez retirada do poder, Rousseff, cada vez mais debilitada, não retornará", diz o El País, destacando que "o impeachment avança inexoravelmente em direção a seus dias decisivos".
O jornal espanhol aponta que há uma grande quantidade de deputados indecisos, ou que se dizem indecisos, na Câmara, que se converteram em peça-chave. "Eles decidirão no próximo fim de semana se o processo segue adiante e se, portanto, Rousseff dará um passo a mais em direção ao abismo político."
O Le Monde destaca a atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise política, que classifica de "charmoso e hábil estrategista". "O septuagenário luta para salvar sua protegida e limpar sua imagem e a do partido."