"Imigrantes tendem a abandonar cultura machista"
7 de janeiro de 2016O criminologista Christian Pfeiffer se declarou otimista quanto à integração de estrangeiros na sociedade alemã e afirmou que famílias de imigrantes, de um modo geral, tendem a abandonar uma eventual cultura machista com o passar dos anos.
"Integração é algo viável. É muito gratificante concluir que ela foi tão bem nos últimos 20 anos. É por isso que estou otimista de que iremos absorver bem a imigração dos últimos anos, e especialmente a do ano de 2015", declarou em entrevista à DW.
"Tivemos uma forte imigração da Turquia, da antiga Iugoslávia e da Rússia e medimos até que ponto esses grupos de imigrantes aceitavam essa cultura machista. Antigamente isso era bem pronunciado, mas 20 anos depois isso é completamente diferente", comentou.
Ele também disse acreditar que casos de assédio sexual em larga escala, como o que aconteceu na noite de réveillon em Colônia, não devem se repetir na Alemanha.
Pfeiffer é ex-diretor do Instituto de Pesquisa Criminológica da Baixa Saxônia e foi secretário da Justiça daquele estado alemão de 2000 a 2003. Ele trabalha há muitos anos com jovens imigrantes.
DW: Os incidentes na noite de Ano Novo em Colônia levaram a um acalorado debate na Alemanha. Até agora, muito pouco se sabe sobre os agressores, além de que eles agiram em grupos, atacaram mulheres e as tocaram "em todas as partes do corpo", segundo as próprias vítimas. A que conclusão essa ação dos criminosos pode levar em relação ao meio cultural de onde eles vêm?
Christian Pfeiffer: Pelo que foi informado pela polícia, os autores vêm de países onde a dominação masculina é comum. Por isso é necessário um tempo até que eles se habituem ao fato de que na Alemanha isso é diferente – é necessário um tempo de integração.
Basicamente, o que podemos concluir do que aconteceu em Colônia não é apenas que a nossa polícia precisa estar mais bem preparada, mas também que temos um certo deficit em influenciar civilizatoriamente essa grande imigração de países que possuem uma cultura machista. Quando também o álcool entra em jogo e há uma pressão de grupo, como no réveillon, então ocorrem conflitos em larga escala, de uma maneira que ainda não conhecíamos na Alemanha.
O senhor lida desde 1998 com essa cultura machista de jovens homens imigrantes. Como esse trabalho é feito?
Há uma série de perguntas que revelam se o jovem é machista ou se é um rapaz esclarecido, que sabe que o papel da mulher na sociedade mudou. Por exemplo: "Um homem de verdade bate quando é ofendido". Os entrevistados podem concordar ou discordar.
Tivemos uma forte imigração da Turquia, da antiga Iugoslávia e da Rússia e medimos até que ponto esses grupos de imigrantes aceitavam essa cultura machista. Antigamente isso era bem pronunciado, mas 20 anos depois isso é completamente diferente. Todos os grupos mencionados se integraram bem – seus índices de violência caíram drasticamente, e tivemos o prazer de verificar que, nesses casos, a integração foi bem-sucedida. E que as culturas machistas não são praticadas como antigamente. Nem nas famílias nem fora delas.
Essa tarefa está agora novamente diante de nós, com esse enorme número de pessoas que vieram de países árabes e africanos nos últimos anos.
Com que frequência o senhor já realizou esta pesquisa com esses jovens?
Até agora já entrevistamos mais de 120 mil jovens. As moças também podem preencher os questionários. Perguntamos a elas se acham legal ou não essa masculinidade machista. As meninas turcas, russas e assim por diante disseram não gostar de rapazes de comportamento machista.
Mesmo dentro da própria família muita coisa mudou. Antigamente, jovens turcos eram agredidos ainda mais frequentemente por seus pais. Também há menos casos de homens que batem em suas esposas. Todos esses indicadores mostram que as famílias estão mais pacíficas. Essa é uma boa condição para que uma cultura machista nem mesmo se desenvolva.
Quanto mais tempo as pessoas vivem na Alemanha, menor fica a cultura machista?
Correto. E a condição inicial é a integração educacional. Quem pode alcançar alguma coisa na vida não tem motivos para se dedicar a trejeitos machistas. Em Hannover, por exemplo, onde 85% dos jovens de origem turca conseguem um diploma do ensino médio – a maior cota na Alemanha –, detectamos o menor índice de cultura machista.
Uma das perguntas sempre é: "Há alemães entre os seus amigos?". E vemos que quanto maior o número de amigos alemães, menor é a cultura machista e maiores as chances de que eles se identifiquem com a Alemanha.
Portanto, integração é algo viável. É muito gratificante concluir que ela foi tão bem nos últimos 20 anos. É por isso que estou otimista, caso os municípios recebam verba, caso a sociedade civil colabore – e ela tem colaborado magnificamente –, de que iremos absorver bem a imigração dos últimos anos, e especialmente a do ano de 2015.
O senhor teme que incidentes como o de Colônia se tornem mais frequentes?
Creio que não, e por três razões. Primeiro, a polícia aprendeu com esse incidente. Foi uma situação que nunca tivemos, e a polícia não estava preparada porque ela não esperava uma coisa dessas. A polícia vai estar preparada de forma muito diferente e estará mais vigilante no futuro.
Em segundo lugar, mulheres evitarão andarem sozinhas. Essa é uma limitação da liberdade delas e é lamentável, mas acredito que futuramente as mulheres estarão mais propensas a andarem de noite em grupos.
Em terceiro lugar, os próprios estrangeiros vão perceber que a polícia agirá agora de forma mais rígida. As pessoas temem uma pena de prisão ou mesmo uma deportação. Elas vieram para se estabelecer aqui.
Por tudo isso, eu penso ser improvável que algo como o que aconteceu em Colônia se repita.