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Ilija Trojanow, escritor viajante entre exílios e asilos

Joaquim Sciarra26 de agosto de 2013

Experiência em três continentes dá ao autor uma perspectiva universalista, mas ao mesmo tempo impiedosa, sobre a destruição do planeta pelo ser humano. Trojanow é prova da contribuição da imigração à literatura alemã.

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Foto: picture-alliance/dpa

Nascido na Bulgária em 1968, Ilija Trojanow, é um dos três escritores de língua alemã na Bienal do Rio nascidos em outros países, como Wladimir Kaminer (Rússia) e a jovem Olga Grjasnowa (Azerbaijão). Trojanow tinha 6 anos quando sua família deixou Sofia e mudou-se para a Alemanha, com passagens pela Iugoslávia e pela Itália.

Após receber asilo político na Alemanha, a família se mudou para o Quênia, onde Trojanow estudou numa escola de língua alemã em Nairóbi, retornando à Alemanha em 1985 para iniciar seus estudos de Direito e Etnologia na Universidade de Munique. Após fundar duas editoras dedicadas à literatura africana na Alemanha, o autor viveria ainda em Mumbai, Índia, e na Cidade do Cabo, na África do Sul. Hoje, vive e trabalha em Viena, Áustria.

Sua experiência na África foi definidora para seu trabalho. Escreveu várias reportagens e livros de viagem sobre o continente africano, como os livros In Afrika. Mythos und Alltag Ostafrikas (Na África. Mito e Cotidiano na África Oriental, 1993) – sobre sua vida no Quênia, Naturwunder Ostafrikas (Maravilhas da natureza na África Oriental, 1994), e Hüter der Sonne. Begegnung mit Simbabwes Ältesten (Chapéus do Sol. Encontro com os anciãos do Zimbábue, 1996), escrito em colaboração com o autor zimbabuano Chenjerai Hove.

No mesmo ano, aconteceu também sua estreia na prosa de ficção, o romance Die Welt ist gross und Rettung lauert überall (O mundo é grande e a salvação espreita em toda parte, 1996). Aqui, as experiências pessoais de Trojanow novamente formam sua escrita, mas a história de refugiados búlgaros que buscam asilo na Alemanha, com uma passagem pela Itália, se transforma nas mãos do autor em uma obra que foi classificada na Alemanha como pertencente à tradição do romance picaresco.

O autor receberia o Prêmio de Literatura da cidade de Marburg e dois anos mais tarde o livro foi filmado por Stefan Komandarev, numa coprodução búlgara, alemã, eslovena e húngara. O próprio Ilija Trojanow estrearia como cineasta no ano seguinte, com sua produção Vorwärts und nie vergessen Ballade über bulgarische Helden (Avante e jamais esquecer – baladas sobre heróis búlgaros, 1997), que foi ao ar nas emissoras alemãs 3sat e ZDF.

Extremamente produtivo, entre reportagens, livros de viagem e romances, são dezenas de publicações, entre elas o romance de ficção científica Autopol (1997), An den inneren Ufern Indiens (Às margens internas da Índia, 2003), Die fingierte Revolution. Bulgarien, eine exemplarische Geschichte (A revolução fingida. Bulgária, uma história exemplar, 2006) ou o romance EisTau (Degelo, 2011).

Buchcover Buch EisTau Ilija Trojanow
'EisTau', versão original de 'Degelo', que será lançado agora no BrasilFoto: dtv

Traduções no Brasil

A editora Companhia das Letras lançou dois romances de Trojanow no Brasil: O colecionador de mundos (2010), em tradução de Sergio Tellarolli, e agora Degelo (2013), em tradução de Kristina Michahelles, que o autor apresenta na Bienal do Livro do Rio. O romance, com pouco mais de 150 páginas, conta a história de "Mr. Iceberger", o apelido da personagem Zeno Hintermeier, coordenador da expedição de um navio à Antártida, o MS Hansen, carregando cientistas, turistas e a equipe, formada por filipinos.

Em forma fragmentária e experimental, o leitor vai descobrindo a trama a partir de trechos do diário de Hintermeier, comunicações via rádio, e com uma narrativa marcada pelo ódio da personagem ao chamado "progresso" e a maneira como vai destruindo o planeta.

Entre os turistas, mais ocupados em fotografar as geleiras que realmente contemplá-las, e um artista visual que quer emitir um SOS falso como performance artística, o leitor adentra o mundo contemporânea pela escrita satírica e picaresca de Trojanow, entre o cômico e o trágico. Todos os discursos parecem surgir em tom absurdo e ao mesmo tempo patético, num mundo tomado por boas intenções, ecológicas, artísticas, espirituais, mas que parecem fadadas à falsidade ou à falsificação imediata.

A experiência de Ilija Trojanow em três continentes, o europeu, o africano e o asiático, dá a ele uma perspectiva universalista, mas ao mesmo tempo impiedosa, sobre a destruição comum que o ser humano vai impondo ao planeta.