Idosa é multada por encobrir pichação de extrema direita
12 de outubro de 2019A aposentada Irmela Mensah-Schramm, de 73 anos, é uma figura conhecida no Leste da Alemanha por seu ativismo contra discursos de ódio manifestados por grupos de extrema direita.
Há mais de 30 anos, a berlinense dedica sua vida a limpar cidades de símbolos, pichações e adesivos neonazistas em locais públicos, muitas vezes desenhando corações, alterando frases ou simplesmente raspando ou encobrindo com spray slogans de linguagem racista, xenófoba e ofensiva.
Nesta quinta-feira (10/10), Mensah-Schramm foi multada por um tribunal no estado da Turíngia pelo crime de danos materiais. Embora essa não seja sua primeira batalha na Justiça alemã, é a primeira vez que um juiz decide contra ela.
Segundo a emissora pública MDR, a denúncia contra a aposentada está relacionada a pinturas com spray realizadas por ela na cidade de Eisenach.
Ali, em dezembro passado, ela encontrou uma pichação que dizia "NS-Zone", ou zona do NS, sigla para nacional-socialismo, com a qual os alemães costumam se referir aos nazistas e à época em que estavam no poder. Mensah-Schramm encobriu as letras NS com um coração, transformando em algo como "zona do amor", e fez o mesmo em outras três ocorrências semelhantes na cidade.
Alguém fotografou essas pinturas e fez uma denúncia à polícia. Mensah-Schramm contou à MDR que foi condenada a pagar uma multa de 300 euros (cerca de 1.360 reais), além de arcar com os custos do tribunal.
Antes da sentença, a alemã havia recusado uma proposta do juiz para doar 500 euros a organizações sem fins lucrativos a fim de evitar um julgamento. Segundo ela, se aceitasse a oferta, estaria admitindo perante a Justiça que fez algo errado.
Mensah-Schramm afirmou que vai recorrer da condenação. "Eu não cometi um erro", disse ela à emissora, acrescentando que a pessoa que pichou o slogan neonazista antes dela foi quem cometeu danos materiais.
Alemães expressaram indignação em redes sociais, especialmente porque o veredito veio no mesmo dia de um ataque antissemita em Halle, também no Leste, que matou duas pessoas. "[Esta é] a luta da Alemanha contra a extrema direita", escreveu um usuário no Twitter sarcasticamente.
Apesar da condenação, Mensah-Schramm não dá sinais de que vai parar com seu ativismo, que já lhe rendeu alguns prêmios ao longo desses anos. Ela disse que, se o que fez foi criminoso, "gostaria de se ver como uma reincidente".
Sua missão começou por acaso. Depois de ver um adesivo neonazista colado próximo a sua casa, ela não teve dúvida de que aquele pedaço de papel remetendo a um passado monstruoso não poderia ficar ali. A limpeza a encheu de satisfação. Desde então, a aposentada se dedica a apagar mensagens desse tipo em várias partes da Alemanha e países da Europa.
"Não alcançaremos nada se não fizermos nada. E se você não fizer nada, quem vai fazer?", disse a aposentada em entrevista à DW Brasil em 2017.
EK/ots/dw
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