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Há 25 anos o mundo conhecia Dolly, primeiro animal clonado

Clare Roth
22 de fevereiro de 2022

Em 1997, o anúncio da clonagem bem-sucedida da ovelha Dolly deu início a uma revolução científica. Pesquisas com células-tronco obtiveram grandes avanços, e vários outros animais foram clonados – incluindo de estimação.

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Ovelha Dolly
Dolly nasceu em julho de 1996 e morreu aos 6 anos de idadeFoto: Curtis/epa/dpa/picture alliance

Vinte e cinco anos atrás, uma ovelha chamada Dolly foi apresentada ao mundo como o primeiro mamífero clonado, a partir de uma célula somática adulta. O experimento explodiu nos noticiários em todo o mundo em fevereiro de 1997. Ele mudou o mundo da pesquisa com células-tronco – e num nível mais pessoal, manteve vivo o instituto que sediou o experimento.

"De um ponto de vista pessoal, uma das coisas mais importantes que resultaram de Dolly foi a sobrevivência do instituto de pesquisa em que trabalho", afirma, rindo, o pesquisador Alan Archibald, que fez parte do experimento de 1996, apoiado pelo Instituto Roslin, do Reino Unido.

"Estávamos sofrendo cortes do governo. E o dinheiro que ganhamos com a venda da propriedade intelectual de Dolly nos manteve funcionando até que achássemos fontes alternativas de renda", completa o especialista, em entrevista à DW.

Como Dolly foi clonada

Dolly foi clonada a partir de uma célula extraída da glândula mamária de outra ovelha. Ela nasceu em julho de 1996, com o rosto branco – um claro sinal de que havia sido clonada, porque se fosse parente da ovelha que a deu à luz, Dolly teria o rosto preto.

Os pesquisadores a batizaram em homenagem a Dolly Parton, conhecida por suas grandes "glândulas mamárias" – seios.

Dolly foi o único filhote de ovelha a nascer vivo de um total de 277 embriões clonados. Ela ainda deu à luz seis bebês antes de morrer de doença pulmonar aos 6 anos de idade.

Outros avanços derivados de Dolly

"[Dolly] mudou a visão do mundo científico sobre quão flexível é o desenvolvimento [celular]", afirma Archibald. "Havia uma visão de que, uma vez que um óvulo fertilizado se desenvolvesse em um animal multicelular, em células do fígado e células do sangue e células cerebrais, para essas células era um beco sem saída. Não havia caminho de volta para lugares alternativos para essas células existirem. Assim, a reprogramação que foi fundamental para o experimento Dolly colocou de ponta-cabeça o dogma científico de longa data."

A clonagem de Dolly ajudou a levar à descoberta das células iPS por uma equipe liderada pelo cientista japonês Shinya Yamanaka, que ganhou um Prêmio Nobel pelo feito.

Esse é provavelmente o mais importante desenvolvimento em pesquisa sobre células-tronco resultante da clonagem de Dolly, disse à DW Robin Lovell-Badge, que chefia o Laboratório de Biologia de Células-Tronco e Genética do Desenvolvimento do Instituto Francis Crick, em Londres.

As células iPS oferecem uma maneira de modelar doenças humanas e atualmente estão sendo usadas em pesquisas biológicas sobre envelhecimento prematuro, câncer e doenças cardíacas.

Além disso, Archibald lembra que o coração geneticamente modificado usado no primeiro transplante de coração de porco para humano, em janeiro, foi criado usando a tecnologia do experimento Dolly.

Clonagem de outros animais

Embora um embrião humano tenha sido clonado com sucesso em 2013, até então não há progressos na clonagem de um ser humano completo.

Mas macacos já foram replicados: na China, Zhong Zhong e Hua Hua se tornaram os primeiros primatas a serem clonados usando a tecnologia de Dolly, em janeiro de 2018. De quase 150 embriões clonados, as mães de aluguel desses dois macacos foram as únicas a dar à luz filhotes vivos.

Algum progresso também foi feito na clonagem de animais à beira da extinção. Pesquisadores dos Estados Unidos clonaram com sucesso uma doninha-de-patas-pretas em 2021 e o ameaçado cavalo-de-przewalski em 2020.

Atualmente há esforços para clonar o mamute-lanoso, o panda-gigante e o rinoceronte-branco do norte.

O cientista Ian Wilmut, cuja equipe criou Dolly
O cientista Ian Wilmut, cuja equipe criou DollyFoto: Andrew Milligan/empics/picture alliance

Clonagem para produzir alimentos

Juntamente com a capacidade de clonagem de células para estudar doenças, a clonagem de animais permite que grandes indústrias agropecuárias produzam mais comida.

A Food and Drug Administration (FDA), agência do governo americano que regula alimentos e medicamentos, permite a clonagem de bovinos, suínos e caprinos e seus descendentes para a produção de carne e leite. Em 2008, a agência afirmou que os alimentos são tão seguros quanto os derivados de animais não clonados – e, portanto, não precisam ser rotulados como tal.

Assim, não está claro quanta carne e leite derivados de animais clonados são vendidos nos mercados dos Estados Unidos.

A prática não é permitida na Europa – em 2015, o Parlamento Europeu votou para proibir a clonagem de todos os animais voltados para a agropecuária. Mas isso não significa que experimentos de laboratório não estejam sendo realizados em território europeu, afirma Lovell-Badge.

"O campo em que os procedimentos de clonagem estão sendo ativamente conduzidos, inclusive na Alemanha, é voltado para animais agrícolas como uma forma de ajudar a gerar ou propagar porcos e gado com características genéticas valiosas", diz o pesquisador.

Células de um animal podem ser editadas por cientistas, explica ele. Em seguida, os métodos de clonagem poderiam ser usados para derivar animais com uma nova característica genética, como resistência a doenças, ou para torná-los mais adequados como doadores de órgãos para humanos.

Clonagem de animais de estimação

Uma pequena indústria foi criada em torno da clonagem de animais de estimação. Exemplos incluem a companhia ViaGen, nos Estados Unidos, Sinogene, na China, e Sooam Biotech, na Coreia do Sul.

O cachorro Snuppy foi clonado em 2005 na Coreia do Sul; o gato Garlic, em julho de 2019 na China; e as irmãs caninas Miss Scarlet e Miss Violet, da cantora americana Barbra Streisand, são filhas clonadas da cadela Samantha, que morreu em 2017.

"A justificativa para fazer isso é 'substituir um animal de estimação muito querido que se foi'", diz Lovell-Badge. "Mas é um absurdo." Ele afirma que, embora seja verdade que o animal clonado terá essencialmente o mesmo DNA genômico que o pet original, os animais "não são simplesmente um produto de seu DNA".

Mesmo que a clonagem seja bem-sucedida, a natureza de um animal é parcialmente determinada por seus genes, mas também pelo ambiente, o que significa que um clone nunca será exatamente igual ao animal original, explica o especialista.

Archibald acrescenta que, embora a tecnologia de clonagem seja mais eficiente hoje do que quando Dolly foi concebida, o processo ainda é bastante ineficiente. "Você precisaria de muitas fêmeas para gerar os óvulos que seriam usados no processo", afirma.