Humanidade está numa "espiral de autodestruição", diz ONU
26 de abril de 2022Em um curto período de tempo, o mundo assistiu a um aumento sem precedentes do número de catástrofes naturais, e a ação humana pode piorar ainda mais o cenário, diz um relatório divulgado pela ONU nesta terça-feira (26/04).
O documento elaborado pelo Escritório da ONU para Redução de Riscos de Desastres (UNDRR) conclui que os impactos das mudanças climáticas e do mau gerenciamento de riscos levaram a um aumento das catástrofes naturais.
Nas últimas duas décadas, entre 350 e 500 médios a grandes desastres foram registrados por ano, mas os governos estão "fundamentalmente" subestimando seu verdadeiro impacto, de acordo com o relatório.
Os eventos, que vão de queimadas e enchentes à pandemias e acidentes químicos, podem aumentar para 560 por ano até 2030, ou seja, cerca de 1,5 por dia, potencialmente, colocando em risco a vida de milhares de pessoas.
As mudanças climáticas, que resultam em eventos climáticos mais extremos, são a principal causa do aumento das ocorrências.
Segundo a ONU, os governos não fazem o suficiente para melhorar o gerenciamento de risco de desastres, o que deixa a humanidade amplamente despreparada para o que está por vir.
"O mundo precisa fazer mais para incorporar o risco de desastres à maneira como vivemos, construímos e investimos", afirmou Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta da ONU. Ela disse ainda que o rumo que seguimos atualmente está colocando a humanidade numa "espiral de autodestruição".
As catástrofes geraram ao mundo custos de 170 bilhões de dólares em média (cerca de 845 bilhões de reais) por ano na última década, segundo consta no relatório.
Os países de renda baixa e média são os que sofrem os piores efeitos do aquecimento global e os que arcam com a maior parte desses custos.
Países pobres pagam preço mais alto
Os países em desenvolvimento gastam todos os anos em torno de 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) com desastres. Em comparação, os países ricos gastam somente entre 0,1% e 0,2% de seus PIBs. E isso provavelmente não mudará nas próximas décadas, de acordo com o relatório.
Nações da região da Ásia-Pacífico sofreram os piores danos, com perda de 1,3% do PIB com os desastres anuais. O continente africano está em segundo lugar, com prejuízos de 0,6% do PIB.
As nações mais pobres possuem menos cobertura de seguros, o que aumenta ainda mais sua vulnerabilidade. Desde 1989, somente 40% das perdas em consequência de catástrofes naturais nessas regiões estavam cobertas por seguros.
Jenty Kirsch-Wood, coautora do relatório, alertou que o sistema financeiro global deve se antecipar para corrigir as desigualdades. "Caso contrário, teremos riscos acumulados que não estão sendo levados em conta na forma como tomamos as decisões."
rc/lf (Reuters, AFP, AP)