Hilla von Rebay: a mulher por trás da Coleção Guggenheim
23 de julho de 2006O "rei do cobre" Solomon R. Guggenheim preferia os velhos mestres da arte – até que encontrou a jovem artista alemã Hilla von Rebay, no final dos anos 20. Sua mulher, Irene, a havia conhecido através do dono de uma galeria local.
Enquanto pintava um retrato de Guggenheim, Hilla convenceu-o a investir em arte moderna abstrata, da qual ela era defensora fervorosa. Através de sua influência, o milionário aprendeu a conhecer e a amar o trabalho artístico da vanguarda européia.
A subseqüente colaboração entre Von Rebay e Guggenheim resultou numa das mais belas coleções de arte moderna do início do século passado, ou como a designava Hilla, arte "não-objetiva".
Descobrindo o Modernismo na Europa
Os Guggenheim tornaram-se "como meus segundos pais", revelou Hilla numa rara entrevista, concedida em 1966 ao Arquivo Smithsonian de arte norte-americana. Ela lembrou, na ocasião, como a coleção começou a partir de uma viagem pela Europa com os Guggenheim.
"Eles vieram visitar meus pais em Baden e lá ele viu algumas pinturas não-objetivas nas paredes", contou a artista. "'Ah', ele disse, 'isso é o que eu quero colecionar'."
Nascia o núcleo da coleção. Hilla apresentou Guggenheim a Vassily Kandinsky e, com seu incentivo, ele adquiriu mais de 150 obras do artista, assim como de outros abstratos e não-objetivos, incluindo Paul Klee, Rudolf Bauer, Albert Gleizes, Léger, e László Moholy-Nagy.
Determinada a tornar-se uma artista
Para Hilla, nascida baronesa numa nobre família alemã, em 1890, estava muito claro desde o início que ela seria uma artista. Seu pai, general prussiano, era rígido e inflexível. "Quando comuniquei aos meus pais que não queria ser musicista, mas sim uma pintora profissional, meu pai disse: 'Vou permitir que você pinte até os 18 anos, mas, você é minha filha, depois vai acabar com isso", relembra Hilla, "Nada de artistas em nossa família." Mas ela era muito decidida e foi estudar em Paris, Munique e Berlim.
Ela fez exposições de sucesso na Alemanha e na França, mas a arrancada veio depois da mudança para os Estados Unidos, em 1927. Suas pinturas venderam bem entre os ricos nova-iorquinos, e a levaram a conhecer os Guggenheim.
Hilla manteve contato com artistas europeus, principalmente Bauer, que conheceu em Berlim, em 1916. Mais tarde, tornou-se sua mais importante mentora, e o ajudou a imigrar para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Wright construiu o museu "para e em torno" de Hilla
Em 1937 foi criada a Fundação Solomon R. Guggenheim, e Hilla tornou-se a primeira curadora e diretora. Ela também defendia a idéia de um museu para abrigar a coleção de arte moderna.
Guggenheim encarregou-a de achar um arquiteto e, em 1943, Hilla contatou Frank Lloyd Wright. Ela percebeu uma afinidade, e que ele poderia desenhar o museu dos seus sonhos, "um templo da não-objetividade", como o denominou.
"Expliquei a ele o que eu queria, um museu que fosse subindo lentamente. Sem escadas, nem interrupções", lembrou Hilla. "Ele disse: 'Você tem um design?' E entreguei um a ele". O resultado pode ser visto na Fifth Avenue de Nova York.
Para Wright, o museu era o bebê de Hilla. "Todo este prédio foi construído para você, em torno de você, quer você saiba disso ou não", escreveu Wright a Hilla, em 1945.
Reconhecimento tardio
O museu com a famosa forma arredondada foi inaugurado em 1959. Naquela época, Wright e Solomon já haviam falecido, Hilla foi deserdada pelos Guggenheim e expulsa do cargo. Eles alegavam que ela era uma pessoa difícil e mandona, que nunca pisara no museu que ajudara a criar.
O Museu Guggenheim é um prédio arquitetonicamente a frente de sua época, assim como a artista. "Ainda criança, eu era precoce. Gostaria de viver até 2004", disse Von Rebay na entrevista ao Smithsonian.
Hilla morreu praticamente esquecida, em Connecticut, em 1967. Foram necessários quase 40 anos até seu trabalho como artista ser reunido e apresentado, numa exibição de 2005, no Museu Guggenheim, intitulada Arte de Amanhã.