Herdeira de fabricante alemã de biscoitos minimiza nazismo
16 de maio de 2019A herdeira da fabricante alemã de biscoitos Bahlsen gerou polêmica esta semana ao afirmar que a empresa "tratou bem" trabalhadores forçados durante o regime nazista.
"Isso foi antes do meu tempo, e nós pagamos os trabalhadores forçados assim como os alemães, nós os tratamos bem", declarou Verena Bahlsen, de 26 anos, ao jornal Bild, nesta segunda-feira (13/05).
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Depois das reações negativas, a jovem herdeira se desculpou pelas declarações. "Nada mais distante das minhas intenções do que minimizar o nazismo e suas consequências", afirmou, um dia depois.
Verena, que detém uma quarta parte da empresa, disse que lamenta profundamente o que disse. "Foi um erro amplificar esse debate com respostas impensadas. Peço desculpas por isso", afirmou em comunicado no site da família Bahlsen.
A polêmica começara já antes, quando Verena afirmou, durante uma entrevista num evento comercial, que "só quer ganhar dinheiro e comprar iates com seus dividendos" na empresa.
Quando foi lembrada, nas redes sociais, que sua família ganhou dinheiro às custas de trabalho forçado durante o nazismo, respondeu com a declaração polêmica ao Bild.
Segundo estimativas, 13 milhões de pessoas realizaram trabalhos forçado durante o regime nazista. Em 2000, cerca de 60 habitantes do Leste Europeu que foram forçadas a trabalhar para a Bahlsen entraram na Justiça contra a empresa. Segundo estimativas, entre 1941 e 1945, mais de 200 pessoas, a maioria mulheres ucranianas, foram forçadas a trabalhar na fábrica da Bahlsen em Hannover.
O caso foi rejeitado pela Justiça alemã, que afirmou que ele já prescrevera, mas a Bahlsen optou por se unir a uma iniciativa para compensar milhões de vítimas de trabalhos forçados no regime nazista, colaborando com mais de 1,5 milhão de marcos alemães.
"Devo reconhecer que preciso aprender mais sobre a história da empresa cujo nome eu carrego", admitiu Verena Bahlsen em seu comunicado.
A diretora do Centro de Documentação sobre o Trabalho Forçado Nazista, Christine Glauning, se disse chocada com as declarações de Verena Bahlsen, mas acrescentou que o caso ilustra a falta de conhecimento sobre o sofrimento dos trabalhadores forçados da era nazista.
Glauning ressaltou que muitas outras empresas alemãs enfrentaram uma situação semelhante, entre elas a Volkswagen, que "adotou medidas para lidar com o seu passado ao abrir um memorial dedicado aos seus trabalhadores forçados durante a Segunda Guerra Mundial".
O caso da herdeira da Bahlsen gerou ampla discussão nas redes sociais alemãs. Algumas pessoas disseram que ela deveria prestar um ano de serviço social para melhorar seus conhecimentos sobre a história da Alemanha.
Outros foram irônicos e disseram que os biscoitos da Bahlsen são, a partir de agora, o "lanchinho oficial" da Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido populista de extrema direita.
A Bahlsen comemora este ano 130 anos de existência e tem um faturamento anual de 560 milhões de euros.
AS/dpa/rtr/afp/dw
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