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Helmut Kohl, chanceler da reunificação e da unidade europeia

Karin Jäger / Klaus Dahmann (ca)1 de outubro de 2012

Em 1º de outubro de 1982, Helmut Kohl assumia o cargo de chanceler federal alemão, que ocuparia por 16 anos. Os pontos altos de sua carreira política foram a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha.

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Foto: picture-alliance/dpa

Ele marcou toda uma geração – a "Geração Kohl". Os jovens que cresceram durante o mandato do cristão-democrata Helmut Kohl como chanceler federal da Alemanha sabiam que ele costumava chamar convidados oficiais para sua cidade natal, Oggersheim, para que experimentassem seu prato predileto: saumagen (estômago de porco recheado com pasta de carne, batata e outros ingredientes, típico da região do Palatinado).

Nas horas de folga, gostava de usar casacos de lã (cardigans) um tanto antiquados sobre seu pesado corpo. Ele sempre passava as quatro semanas de férias que tinha durante o verão com sua esposa Hannelore no lago Wolfgangsee, na Áustria.

Aqui e ali, fazia dieta seguindo o método do médico austríaco F. X. Mayr, perdendo alguns quilos, que em breve voltaria a ganhar. Piadas sobre Kohl não paravam de circular, e seus críticos zombavam da forma lenta com que o político de 1,93m de altura, proveniente da região do Pfalz, andava e falava. Por causa do físico e do estilo provinciano, Kohl foi frequentemente subestimado, mas durante seu mandato como chanceler federal, ele sabia muito bem o que queria.

Calculista e perseverante

Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão) quando tinha 17 anos. Além de estudar história e direito, que ele finalizou com um doutorado, já na juventude ele se engajou politicamente. Com apenas 39 anos tornou-se o mais jovem governador do estado da Renânia-Palatinado. Em 1976, concorreu ao cargo de chanceler federal pela união conservadora formada por democrata-cristãos e social-cristãos (CDU/CSU).

Kohl acena em evento eleitoral em 1990, na Turínga, Leste alemão
Kohl acena em evento eleitoral em 1990, na Turíngia, Leste AlemãoFoto: picture alliance/dpa

Com 48,6% dos votos, Kohl obteve o segundo melhor resultado que CDU/CSU haviam alcançado, mas isso não bastou para derrubar a coligação de social-democratas e liberais liderada pelo então chanceler federal Helmut Schmidt.

Seis anos mais tarde, no entanto, em 1° de outubro de 1982, Kohl alcançou seu objetivo: o líder da oposição foi eleito chanceler federal pela maioria dos deputados no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), tornando-se assim o político mais poderoso do país. Kohl chegava ao poder não pelo voto do povo, mas por uma moção de censura contra o governo Schmidt.

Kohl havia convencido o então presidente do Partido Liberal Democrático (FDP), Hans-Dietrich Genscher, a desfazer a coalizão com o Partido Social Democrata (SPD). Com a ajuda dos liberais, tornou-se chefe de governo. Uma polêmica moção de confiança apresentada por ele em dezembro deu origem a novas eleições, vencidas pelo democrata-cristão.

Das dificuldades iniciais à queda do Muro

Nos primeiros anos de seu mandato, no entanto, a insatisfação se espalhou pela população alemã: Kohl ganhou a fama de não resolver os problemas internos, mas de "esperar". Às críticas, reagiu com inúmeras reformas ministeriais. A visita com o então presidente americano Ronald Reagan ao cemitério da cidade de Bitburg, onde soldados norte-americanos e alemães estava enterrados ao lado de membros da Waffen SS, desencadeou acalorados debates. Kohl foi acusado de "manipular a história". Também a comparação entre o então líder soviético Mikhail Gorbatchov e o ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, suscitou críticas.

Ministro do Exterior Genscher (e), Mikhail Gorbachev (c) e Helmut Kohl (d) , na região do Cáucaso, em 1990
Ministro do Exterior Genscher (e), Mikhail Gorbatchov (c) e Helmut Kohl (d), na região do Cáucaso, em 1990Foto: picture-alliance/dpa

Mas foram justamente as políticas Perestroika e Glasnost de Gorbatchov que trouxeram frutos duradouros a Kohl. O líder alemão recebeu o chefe de Estado soviético em junho de 1989, em Bonn. Ainda não se vislumbrava a queda do Muro de Berlim, alguns meses mais tarde. Mas Kohl recebeu Gorbatchov com palavras esperançosas: "Muitas esperanças estão ligadas à sua visita a nós. Em sua pátria e na nossa".

Em seguida, os acontecimentos se sucederam e Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da antiga Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental.

Apesar de Kohl ter interrompido imediatamente a visita à Polônia, ele não conseguiu ser o primeiro político alemão ocidental a falar a todos os alemães a partir do símbolo da divisão, o Portão de Brandemburgo. Em vez de Kohl, foram as palavras do então presidente alemão, Richard von Weizsäcker, que ecoaram naquela noite.

Mas Kohl logo retomou a iniciativa e lançou um plano de dez pontos que visava a uma reunificação rápida dos dois Estados alemães. Ele tentou refutar medos externos diante de uma Alemanha poderosa, nacionalista e reunificada. "Nós alemães aprendemos com a história. Somos um povo pacífico e amante da liberdade. Para nós, amor à pátria, amor à liberdade e espírito de boa vizinhança caminham sempre juntos", disse Kohl na ocasião.

Dificuldades da reunificação subestimadas

Em 1989-1990, Helmut Kohl atingiu o ápice de sua carreira política. Na Alemanha Oriental, ele era festejado como uma estrela. Às pessoas do Leste alemão, ele havia prometido as até hoje citadas "paisagens florescentes", um eufemismo para os tempos melhores que estavam por vir.

Mas, apesar da introdução de uma taxa de solidariedade para a reconstrução do Leste, não foi possível uma rápida equiparação dos padrões de vida entre Leste e Oeste. Muitos alemães do Leste, que haviam perdido seu emprego após a reunificação, não tinham mais perspectivas e se mudaram para o Oeste. A reconstrução nos cinco novos estados do Leste transcorria lentamente. A frustração era geral, e a popularidade de Kohl caiu rapidamente.

Merkel e Kohl em convenção partidária, em 1991
Merkel e Kohl em convenção partidária, em 1991Foto: picture-alliance/dpa

Apesar disso, ele é considerado o "chanceler federal da reunificação" e um "grande europeu", porque em nível europeu continuou a exercer um importante papel até o fim de seu mandato: juntamente com o então presidente francês, François Mitterand, fez avançar a integração política e econômica da Europa.

Mas, apesar de todas as tentativas de persuasão, enfrentou dificuldades para convencer os alemães a abrir mão do marco e aceitar o euro.

Escândalo de financiamento partidário

Mas também o triunfo europeu não durou para sempre. A insatisfação com o defasado sistema Kohl era muito grande, muitas pessoas o consideravam um político em busca do poder. Além disso, surgiram boatos de doações partidárias ilegais e de uso de caixa dois em seu partido, a CDU – Kohl ficava cada vez mais acuado.

Em coligação com o Partido Verde, o SPD conseguiu vencer as eleições de 1998 e derrubar a coalizão conservadora-liberal. Após 16 anos na chancelaria federal, um recorde na Alemanha, Kohl teve de deixar o poder.

As investigações sobre o caso de financiamento ilegal da CDU continuaram. Kohl tentava pôr panos quentes na história, fazia-se de inocente e reiterava sempre não ser corruptível. Finalmente, a CDU retirou-lhe o cargo de membro honorário e, numa convenção partidária extraordinária, instou que ele renunciasse também a seu mandato no Bundestag. Ao final, Kohl admitiu que sabia, mas nunca divulgou o nome dos doadores anônimos.

Hannelore Kohl e Kohl, em 1984
Hannelore Kohl e Kohl, em 1984Foto: dapd

O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária. Nos anos seguintes, ele se retirou completamente da política.

Em julho de 2001, teve de suportar um duro golpe: a esposa Hannelore se suicidou com uma overdose de pílulas para dormir. Ela sofria de alergia à luz.

Com o passar do tempo e o distanciamento do escândalo de financiamento partidário, Kohl voltou a ser lembrado e reconhecido pelos seus feitos. A cerimônia solene que, na quinta-feira passada (27/09), em Berlim, celebrou o 30° aniversário do início de seu primeiro mandato demonstrou o respeito que se tem por suas realizações como chanceler federal da reunificação alemã e como força motriz da integração europeia.