"Guerra de anúncios" reacende conflito em torno das Ilhas Malvinas
4 de janeiro de 2013O tabloide britânico The Sun publicou, por iniciativa própria, um apelo à presidente argentina, Cristina Kirchner, pedindo que ela mantenha distância das Ilhas Malvinas, administradas pelo Reino Unido. O anúncio do The Sun foi publicado nesta sexta-feira (04/01) no jornal argentino Buenos Aires Herald, em resposta à carta aberta de Kirchner, veiculada em forma de anúncio pelo diário The Guardian e por outros periódicos britânicos um dia antes.
"A soberania britânica sobre as Ilhas Falklands remonta a 1765 – antes que a República Argentina sequer existisse", escreve o The Sun. O texto termina com palavras de ordem: "Em nome de nossos milhões de leitores, e para dizer em outras palavras: tire as mãos!"
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, recusou o pedido de Kirchner de retomar negociações para devolver à Argentina as Ilhas Malvinas, como informou nesta sexta-feira (04/01) um porta-voz de Downing Street. Em sua carta aberta, Kirchner havia conclamado Cameron a "pôr fim ao colonialismo" e a "devolver as Malvinas", chamadas pelos ingleses de Ilhas Falkland. A carta de Kirchner, endereçada diretamente a Cameron, também teve como destinatário o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
O porta-voz do governo britânico afirmou que a população de aproximadamente 3 mil pessoas que vivem nas Ilhas Malvinas demonstra "o claro desejo" de permanecer sob governo britânico. Sendo assim, completou o porta-voz, o premiê irá "fazer o possível" para proteger os interesses dessas pessoas. Os habitantes das ilhas do Atlântico Sul, cuja tutela a Argentina reivindica desde 1833, vão participar de um referendo em março para definir a situação política das ilhas. Tendo isso em vista, o porta-voz de Cameron pediu à Argentina que aceite o resultado.
"Troca de população"
Um porta-voz do ministério britânico do Exterior havia declarado anteriormente que não haveria qualquer negociação sobre a soberania das Ilhas Malvinas enquanto os moradores delas se opusessem a um possível desligamento de Londres. "A população é britânica e escolheu sê-lo", disse uma representante do ministério britânico do Exterior. Os habitantes locais "são livres para escolher seu próprio futuro, tanto política como economicamente, e têm direito à autodeterminação como está consagrado na carta das Nações Unidas", disse a porta-voz.
"Este é um direito fundamental de todos os povos", salientou a porta-voz, acrescentando que há três partes envolvidas neste debate "e não duas, como quer dar a entender a Argentina". Os moradores das ilhas "não podem ser eliminados da história", completou.
Kirchner não mencionou a realização do futuro plebiscito em sua carta aberta, mas lembrou que os argentinos que viviam nas ilhas foram sendo gradualmente expulsos pela Marinha britânica, enquanto o Reino Unido iniciava uma política de assentamento de britânicos no arquipélago "nos moldes do que ocorreu em outras regiões sob poderio colonial".
"Fim ao colonialismo"
Em sua carta, Kirchner salientou que Londres deve cumprir uma resolução da ONU de 1960, que determina aos países-membros que "encontrem uma solução negociada para todas as formas de colonialismo". Segundo a presidente argentina, o governo britânico deveria dar início às negociações sobre a soberania das ilhas, que foram "violentamente tomadas da Argentina há exatos 180 anos, no dia 3 de janeiro de 1833, num ato escancaradamente típico do colonialismo do século 19, embora as ilhas fiquem a 14 mil quilômetros distantes de Londres".
O Reino Unido, então potência colonial, recusa-se até hoje a devolver as ilhas, num ato que recobraria, aos olhos de Buenos Aires, a integridade territorial argentina. Desde o ano passado, por ocasião dos 30 anos da guerra pela posse do arquipélago, as relações entre os dois países têm sido tensas.
A guerra que opôs a Argentina ao Reino Unido pela posse das ilhas começou no dia 2 de abril de 1982 e terminou a 14 de junho do mesmo ano, com a rendição da Argentina e um saldo de mais de 250 soldados britânicos e 650 soldados argentinos mortos. Na região próxima às Ilhas Malvinas foram descobertas recentemente grandes reservas de petróleo, o que justificaria o interesse exacerbado dos dois países pelo controle do arquipélago.
SV/dpa/lusa/epd/afp
Revisão: Francis França