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Grécia exige reparações de guerra durante visita de presidente alemão

7 de março de 2014

Visita de Joachim Gauck é ofuscada por exigências inesperadas vindas do anfitrião, que retomou o tema das reparações por crimes cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.

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Foto: Reuters

Durante visita à Grécia, o presidente alemão, Joachim Gauck, prometeu solidariedade e ajuda ao país abalado pela crise do euro. Mas o anfitrião surpreendeu a todos ao voltar a exigir enfaticamente bilhões de euros em indenizações por crimes de guerra cometidos pelos nazistas.

Em entrevista para a imprensa nesta quinta-feira (06/03), ao lado de Gauck, o presidente grego, Karolos Papoulias, exigiu o início imediato das negociações sobre reparações de guerra. O presidente grego lembrou ao seu colega alemão que a Grécia nunca renunciou às indenizações pelos crimes cometidos pelos nazistas no país.

Gauck, no entanto, afirmou não haver meios legais que permitam tais reparações e que as negociações já foram encerradas. "Eu não vou comentar o assunto. E, certamente, a posição do meu governo não é diferente." Ele disse que o presidente grego "sabe que não posso lhe dar outra resposta a não ser que a via legal está encerrada."

Apesar da resposta clara, o presidente grego reiterou a exigência no banquete solene oferecido a Gauck durante a noite. "Minha ligação especial com a Alemanha dificulta ainda mais entender a recusa do governo alemão em falar sobre o tema dos empréstimos compulsórios durante a ocupação e as reparações", afirmou Papoulias, segundo a agência de notícias DPA.

Papoulias, que estudou em Colônia, onde também trabalhou na redação grega da Deutsche Welle, criticou que a Grécia é obrigada, sem discussões, a cumprir exigências dolorosas para sanear as suas finanças estatais, enquanto a Alemanha, por outro lado, recusa-se a conversar sobre obrigações que remontam à Segunda Guerra Mundial. Papoulias afirmou que se trata de um tema de moral política.

Bundespräsident Gauck in Griechenland
Gauck e Papoulias conversam durante encontro em AtenasFoto: DW/P. Kouparanis

Bilhões em indenizações

O tema das reparações de guerra prejudica há décadas as relações entre os dois países e ganhou novo fôlego com a abalada situação financeira da Grécia devido à crise de endividamento do euro.

Além das indenizações por bens materiais e por vidas humanas, as exigências dos gregos também se referem aos empréstimos compulsórios no valor de 475 milhões de Reichsmark, concedidos aos nazistas pelo Banco da Grécia em 1942. Na Grécia, em setembro de 2012, um grupo de trabalho calculou o montante das indenizações em 162 bilhões de euros.

O governo alemão, por sua vez, sempre defendeu que a questão das indenizações de guerra foi resolvida no âmbito dos acordos entre os países na Conferência de Paris, em 1945.

Durante o banquete solene na noite de quinta-feira, o presidente alemão não abordou diretamente as exigências de reparação. Ele disse, no entanto, que lamenta o fato de que os crimes praticados pelos nazistas na Grécia ainda sejam desconhecidos na Alemanha e, "infelizmente, também impunes".

Denkmal im Dorf Lingiades Griechenland
Monumento a vítimas do nazismo na cidade de LinguiadesFoto: picture alliance/AP Photo

Linguiades e Janina

Nesta sexta-feira, último dia de sua visita de três dias à Grécia, Gauck desloca-se com Papoulias a Linguiades, vilarejo localizado a 400 quilômetros a noroeste de Atenas, onde em 3 de outubro de 1943 os nazistas mataram 92 pessoas, entre elas dezenas de crianças, em represália a ataques efetuados pela resistência grega contra o Exército nazista.

Gauck deverá ainda visitar Janina, cidade natal de Papoulias, de 84 anos. O presidente grego participou da resistência aos nazistas, entre 1942 e 1944. Em Linguiades, Gauck pretende reconhecer a culpa alemã pelos crimes praticados na Segunda Guerra e pedir perdão. Em Janina, Gauck lembrará os muitos judeus mortos pelos nazistas durante a ocupação da Grécia.

À margem da visita de Gauck, houve confrontos entre manifestantes de esquerda e policiais nesta quinta-feira, em Atenas. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para expulsar as centenas de manifestantes que tentaram chegar à praça em frente ao Parlamento. O local estava fechado por motivos de segurança, já que Gauck havia pernoitado num hotel próximo da praça.

CA/dpa/lusa/afp