Greve dos maquinistas
6 de agosto de 2007O Sindicato dos Maquinistas Alemães (GDL) anunciou nesta segunda (06/08) que 95,8% da categoria decidiu entrar greve por tempo indeterminado, na próxima quinta-feira, para exigir um aumento salarial de 31% e um acordo exclusivo para os profissionais associados ao GDL.
O presidente da entidade, Manfred Schell, não descartou, porém, a possibilidade de ainda chegar a um acordo com a companhia ferroviária Deutsche Bahn, o que evitaria uma paralisação. Ele não revelou detalhes do plano de greve, mas anunciou que ela começará pelos trens de carga.
A empresa, que é controlada pelo governo federal alemão, tem reiterado que não concederá mais do que os 4,5% de aumento, além de um pagamento extra de 600 euros previstos no acordo coletivo fechado no início de junho passado com outros dois sindicatos dos ferroviários (Transnet e GDBA).
Conseqüências
Segundo informações da companhia ferroviária, até cinco milhões de clientes poderão ser atingidos por dia, caso os maquinistas parem os 28 mil trens de transporte de passageiros. De acordo com cálculos do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW), a greve poderá causar um prejuízo econômico de meio bilhão de euros por dia ao país.
Caso ocorra uma paralisação completa dos trens, a Deutsche Bahn sofreria perdas diárias de 27 milhões de euros no transporte de passageiros e de 15 milhões de euros no setor de cargas, prevê o DIW. O presidente da Deutsche Bahn, Harmut Medohrn, ameaçou entrar com pedidos de indenização contra o GDL para cobrar os prejuízos causados pela greve.
Greve de advertência dos pilotos
Quem já estava planejando trocar o trem pelo avião nos próximos dias pode ser decepcionado: 96% dos pilotos das companhias alemãs LTU e DBA, que realizam vôos nacionais e internacionais baratos, também ameaçam entrar em greve por tempo indeterminado.
Nesta segunda-feira, 14 dos 15 vôos das duas companhias partiram com duas horas de atraso de Düsseldorf e Munique, devido a uma greve de advertência. Os pilotos da LTU e da DBA exigem a renegociação de um acordo coletivo rompido pelos empregadores. Um porta-voz da Associação Cockpit disse que "a greve por tempo indeterminado será o último recurso".
Poder dos nanicos
Sobretudo a anunciada greve dos maquinistas está sendo considerada uma prova do crescente poder dos pequenos sindicatos na Alemanha. O GDL tem apenas 34 mil afiliados, mas não aceita o acordo que a Deutsche Bahn fechou com os demais 134 mil funcionários da empresa.
A reivindicação de 31% de aumento salarial é considerada "absurda" pelos outros dois sindicatos dos ferroviários, que fizeram um abaixo-assinado contra a "rota de colisão" seguida pelo GDL
O principal argumento do GDL é que os maquinistas alemães ganham pouco (em média, 1620 euros bruto por mês), em comparação com seus colegas europeus, que têm salários de, por exemplo, 2370 euros na França e 4455 euros na Suíça.
Mesmo assim, o pedido de aumento de 31% é incomum na Alemanha, onde os sindicatos nos últimos anos têm reivindicado algo entre 5% e 10% e, no final das negociações, conquistavam em torno de 3%. "O aumento de 4,5% para os ferroviários foi o maior da história da Deutsche Bahn", disse Mehdorn, em julho.
Até mesmo a Confederação dos Sindicatos Alemães (DBG) critica o GDL. Segundo o presidente da DBG, Michael Sommer, o Sindicato dos Maquinistas divide os funcionários da Deutsche Bahn. "Se o GDL tiver sucesso e for imitado, isso poderá colocar em risco os acordos coletivos nacionais", advertiu Sommer à revista Focus.
Fim das grandes centrais sindicais?
O racha entre os sindicatos GDL, Transnet e GDBA e a queda de braço entre os maquinistas e a companhia ferroviária preocupa a central sindical ainda por outro motivo: a DBG, maior confederação sindical do mundo, com 6,5 milhões membros, vem perdendo força.
Após a reunificação alemã, quando assumiu os sindicatos da ex-Alemanha Oriental, a confederação chegou a ter 10 milhões de filiados. Deste total, perdeu 43% nos últimos anos. "Não temos mais jovens nos sindicatos, as mulheres estão sub-representadas e 35% a 40% dos filiados são aposentados", diz Horst Udo Niedenhoff, perito em sindicalismo do Instituto da Economia Alemã, em Colônia.
Segundo Niedenhoff, a tendência ao individualismo levou muitos trabalhadores a desistir dos grandes sindicatos, como o Verdi (do setor de serviços), que representa cerca de mil profissões. "A crença do pós-guerra, de que grandes sindicatos unificados são menos sujeitos à manipulação, está sendo abandonada. A tendência atual vai em direção a pequenas representações para cada profissão, muitas das quais já riscaram a palavra 'sindicato' do nome", diz Niedenhoff.
Ele explica que esse não é um fenômeno apenas alemão, mas que o duelo entre os maquinistas e a Deutsche Bahn pode ser exemplar. "Imagino que no exterior agora se olha para a Alemanha, para ver se uma pequena associação tem condições de arrancar um acordo melhor. E é bem possível que se formem associações semelhantes em outros países", diz. (gh)