Gregos vão às urnas em eleição incerta
18 de setembro de 2015Nas últimas pesquisas eleitorais, o partido de esquerda Syriza, de Alexis Tsipras, e os conservadores do Nova Democracia, do ex-presidente do Parlamento Evangelos Meimarakis, estão praticamente empatados.
Ao lado dos dois favoritos, outros sete partidos lutam para entrar no Parlamento grego. Desta forma, é altamente provável que nem os esquerdistas e nem os conservadores consigam obter a maioria absoluta – e que dependam de parceiros de coalizão para governar.
Diversos partidos da oposição, entre eles o Partido Comunista da Grécia (KKE) e a Unidade Popular, formada por dissidentes do Syriza, estão certos: as duas principais legendas estão rumando para a formação de uma grande coalizão.
Desta forma, as medidas de austeridade podem ser implementadas, já que ambas as legendas votaram a favor delas na votação parlamentar de agosto. O líder conservador Meimarakis defende abertamente a criação de uma grande coalizão, inclusive afirmando que abdicaria do cargo de primeiro-ministro em prol dos trabalhos conjuntos do governo.
Por muito tempo, Tsipras se esquivou da questão. Nos últimos dias de campanha política, porém, parece que ele tomou uma decisão: uma coalizão com os conservadores "não seria natural". Pouco depois, ele foi além numa entrevista a um jornal: a última grande coalizão, liderada pelo ex-chefe do Banco Central Europeu (BCE) Loukas Papademos em 2011, foi "dolorosa para as pessoas e à sociedade" e levou à desestabilização do país.
Ao contrário de eleições anteriores, Tsipras até agora tem evitado ataques pessoais contra os adversários conservadores – o que levanta a suspeita de que uma grande coalizão não está totalmente descartada.
"Não, de jeito nenhum", garante o jornalista Nikolas Voulelis, considerado um profundo conhecedor dos bastidores do Syriza. "Caso o Syriza feche de fato uma coalizão com os conservadores, Tsipras estará liquidado. No dia seguinte, a maioria dos deputados de esquerda o abandonaria."
Eleitores indecisos
Segundo estimativas do jornal Ethnos, a principal tarefa dos grandes partidos é a mesma: conquistar os cerca de 650 mil gregos, que, segundo pesquisas de opinião, seguem indecisos. Assim, talvez ainda tenham a chance de garantir uma maioria considerável no Parlamento, e impor sua própria agenda política a potenciais parceiros menores de coalizão.
"No domingo, o experimento Syriza estará finalizado", anunciou Meimarakis, em seu último grande comício eleitoral, na quinta-feira.
Por outro lado, segundo Voulelis, a estratégia de Tsipras consiste em advertir os eleitores contra uma guinada para a direita: "Ele diz a eles: 'Aqueles que votam em Meimarakis não receberão nada além de um novo Samaras [premiê grego entre 2012 e início de 2015]'", afirma o jornalista.
Apesar da polarização pouco antes da eleição, a opção por uma grande coalizão não está completamente descartada. "Uma cooperação entre Syriza e Nova Democracia é provável, mesmo que a aparência seja outra", afirma o portal grego de notícias econômicas Bankingnews.
Até mesmo o esquerdista Jannis Panoussis pleiteia por uma coalizão entre esquerda e direita: os dois principais partidos devem se juntar durante três ou quatro anos para resolver os grandes problemas do país. Depois, eles entrariam para a história como os salvadores da Grécia e, então, terão tempo suficiente para brigarem, salientou Panoussis numa entrevista.
Segundo pesquisas, a maioria dos gregos se mostra favorável a uma grande coalizão. Mas também há ponderações: "Não acredito que essa coalizão seria realmente eficaz para avançar rapidamente com as reformas necessárias", afirma o analista econômico Kostas Stoupas, em entrevista à DW. Seu raciocínio: está simplesmente na natureza do partido Syriza exercer o trabalho de oposição, mesmo estando no governo.
A alternativa
Há também a alternativa de formar uma coalizão com partidos menores de esquerda. Tanto para o Syriza como para a Nova Democracia, dois possíveis parceiros minoritários estariam em questão: a legenda social-democrata Pasok ou o partido social-liberal To Potami, fundado em 2014. Ambos aspiram a terceira colocação, se mostram abertos a uma suposta coalizão governamental e, de acordo com sondagens, estão com cerca de 5% das intenções de voto.
Não totalmente descartadao, mas pouco provável, é uma coalizão entre o Syriza e o novo partido esquerdista Unidade Popular, do ex-ministro da Energia Panagiotis Lafazanis. Há apenas algumas semanas, a legenda formada por dissidentes do Syriza foi fundada com o objetivo declarado de se estabelecer como a terceira força política no país, de reverter todas as medidas de austeridade e de reintroduzir uma moeda nacional na Grécia.
De acordo com as pesquisas, a Unidade Popular detém atualmente menos de 4% de intenções de voto – quantidade que provavelmente impede a maioria absoluta do Syriza, mas inviabiliza suas próprias chances de entrar numa coalizão de governo.