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Morre grande dama da psicanálise alemã

13 de junho de 2012

Considerada fonte de inspiração do movimento estudantil dos anos 60, Margarete Mitscherlich faleceu. A ela se atribui retorno da psicanálise à Alemanha após a Segunda Guerra e a luta pelo resgate coletivo da era nazista.

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Foto: HERIBERT PROEPPER/AP/dapd

O Instituto Sigmund Freud que a psicanalista Margarete Mitscherlich faleceu na terça-feira (12/06) em Frankfurt, pouco antes de completar 95 anos de idade. Ela era considerada uma das mais importantes psicanalistas alemãs do pós-guerra.

Ela ficou conhecida sobretudo pelo livro Die Unfähigkeit zu trauern (A incapacidade para o luto), publicado na Alemanha em 1967 juntamente com seu marido, o psicanalista Alexander Mitscherlich. A coletânea de ensaios é considerada um texto-chave sobre o passado nazista, que, segundo os autores, não teria sido superado pelos alemães.

O casal se engajou em prol de um resgate coletivo da ditadura de Hitler. O livro, que teve grande influência sobre o movimento estudantil, foi traduzido em diversas línguas. Atribui-se a Margarete Mitscherlich o retorno da psicanálise à Alemanha.

O Instituto Sigmund Freud a louvou como uma mulher de "imponente verdade intelectual". Ela e seu marido teriam prestado uma grande contribuição, ao retornar à Alemanha após o exílio forçado durante a Segunda Guerra Mundial, declarou em sua página de internet a instituição sediada em Frankfurt, onde Mitscherlich lecionou durante vários anos.

Precursora do movimento estudantil

Durante mais de meio século, a médica estudou o estado psicológico dos alemães e contribuiu para o discurso sociopolítico contemporâneo. De pai dinamarquês e mãe alemã, Mitscherlich nasceu em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, e cresceu na região de fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca. Após estudar literatura e medicina, ela fez sua formação como psicanalista.

Capa do livro mais célebre do casal Mitscherlich
Capa do livro mais célebre do casal MitscherlichFoto: Piper

Em 1955, ela e seu marido se mudaram com o filho para Heidelberg. Durante os anos 60, o casal trouxe de volta à Alemanha a psicanálise, que fora banida pelos nazistas. Em 1960, os Mitscherlich fundaram o Instituto Sigmund Freud em Frankfurt.

A instituição foi dirigida por Alexander Mitscherlich durante vários anos. O Instituto é considerado um precursor do movimento estudantil do final dos anos 1960. O casal tornou-se fonte de inspiração para as revoltas juvenis.

"O radicalismo da idade"

O dois psicanalistas tiveram grande sucesso como autores. Em 1967, publicaram o estudo sobre a incapacidade para o luto, no qual atestam uma falta de reflexão dos alemães, em relação ao seu sentimento de culpa quanto à era nazista.

Já com quase 60 anos de idade, em meados dos anos 70, Margarete Mitscherlich tornou-se também conhecida como ativista do movimento feminista. Na época, ela se engajou pela legalização do aborto. Em 1985, ela escreveu Die friedfertige Frau (A mulher pacífica), no qual estudava o papel das mulheres na política. Durante toda a vida, a chamada "Grande Dama da psicanálise alemã", recebeu diversas condecorações, entre elas, a Cruz de Mérito do governo alemão (Bundesverdienstkreuz).

Margarete Mitscherlich atendia pacientes mesmo em idade avançada
Margarete Mitscherlich atendia mesmo em idade avançadaFoto: picture-alliance/dpa

Mesmo em idade avançada, ela atendia em seu consultório de psicanálise em Frankfurt. Em 2011, chegou a publicar um livro sobre o envelhecimento. "Você sabe desde o nascimento que a única coisa certa na vida é a morte. Com absoluta certeza, você morrerá um dia", escreveu Mitscherlich em Die Radikalität des Alters (O radicalismo da idade). E "esta certeza", complementou, "lhe chega da forma mais radical quando tiver a minha idade."

CA/dapd/afp/epd
Revisão: Augusto Valente