Grande coalizão: obstáculo para o crescimento?
6 de outubro de 2005À medida em que se tornam mais concretas as negociações para a formação de uma grande coalizão – em que a aliança de apoio a Angela Merkel (CDU/CSU) e o partido de Gerhard Schröder (SPD) partilhariam o governo do país –, crescem as especulações de que a economia da Alemanha não sairá do estagnação em que se encontra.
Entre economistas de instituições financeiras e universidades da Alemanha, a impressão é a de que a união entre políticos de ideologias diferentes pode dificultar a criação de um projeto único de desenvolvimento.
O consenso é de que a Alemanha ainda é um país "muito caro" para investidores estrangeiros. Por isso, as reformas que aliviariam a carga tributária sobre as empresas são vistas como o ponto número um para fazer o motor do crescimento voltar a funcionar, proporcionando aos cidadãos o que eles mais querem no momento: empregos.
"Precisamos de uma reforma tributária a partir de 1º de janeiro de 2006", afirmou o secretário de Finanças do Estado de Baden-Württemberg, Gerhard Stratthaus (CDU), ao jornal Berliner Zeitung.
A reforma tributária alemã, que visa basicamente a geração de mais postos de trabalho, reduziria a carga de impostos sobre todas as empresas instaladas no país de 25% para 19%. Desta forma, investir na Alemanha ficaria mais barato para companhias estrangeiras.
Entretanto, esta foi a proposta acordada em março de 2005, quando o chanceler federal Gerhard Schröder ainda estava no poder. No programa de governo da aliança CDU/CSU, a carga tributária média das empresas seria reduzida para 22%.
Pessimismo generalizado
Entre economistas, há a impressão de que as forças políticas terão dificuldades em superar diferenças-chave. "Estou muito cético [de que as reformas venham a ocorrer]", afirmou o economista-chefe do Deutsche Bank, Norbert Walter, à DW-TV. "De todos os resultados possíveis, a grande coalizão é certamente o pior", disse o presidente do Arquivo da Economia Mundial de Hamburgo, Thomas Straubhaar, ao jornal Rheinische Post.
O grande problema, dizem os especialistas, é que o impasse político em que a Alemanha se encontra desde a convocação das eleições antecipadas, em junho deste ano, não será resolvido com a grande coalizão. O empresariado e o mercado financeiro também vêem o governo conjunto de SPD e CDU/CSU com desconfiança.
Segundo o economista-chefe do Serviço de Informações de Munique, Gernot Nerb, a economia precisa de direcionamento e regras claras – é preciso que o mercado tenha a impressão de que uma solução para a crise alemã será apresentada de forma rápida. "Ninguém vê o cenário [da grande coalizão] como ideal", frisa ele, em entrevista ao jornal Financial Times Deutschland.
Com uma ponta de resignação – já que a aliança entre SPD e CDU/CSU é a única alternativa para trazer governabilidade à Alemanha –, o economista da Baviera afirma que, mesmo com a aliança entre os partidos de Merkel e Schröder, o país ainda pode sair do "buraco" financeiro: "Nem tudo está perdido".
Precedente histórico
Entretanto, a história alemã mostra que os economistas podem estar errados. Na única vez em que a Alemanha foi governada por uma aliança entre CDU/CSU e SPD, entre 1966 e 1969, o resultado não foi dos piores – foi uma época de crescimento econômico e também de grandes mudanças político-sociais.
Na época, a Alemanha também vivia uma crise econômica e o trabalho conjunto dos ministros das Finanças, Franz-Josef Strauß (CSU), e da Economia, Karl Schiller (SPD), foi visto como o responsável por sua superação.
Na época, porém, a aliança entre democrata-cristãos e social-democratas tinha apenas um partido de oposição – o FDP – e o nível de competitividade da economia mundial era muito menor. Em 2005, a idade média da população alemã é bem mais alta.
E o Leste Europeu oferece concorrência direta ao país, com a vantagem de exigir o pagamento de salários bem menores que os da Alemanha. Além disso, o corte em benefícios sociais nos próximos anos terá de ser muito profundo para surtir efeito – o que certamente causará a resistência da população.
Por isso, olhar para trás em busca de alento para a crise atual, alertam especialistas, pode ser uma ilusão perigosa.