Governo venezuelano intimida oposicionistas
18 de janeiro de 2015Leopoldo López (foto) é coordenador nacional do partido oposicionista Vontade Popular, da Venezuela. Ele foi detido em 18 de fevereiro de 2014, durante uma manifestação contra a política do governo, e encontra-se até hoje em uma prisão militar. Em abril, a promotoria pública acusou-o formalmente de incitação à violência, incêndio culposo, danos materiais e formação de quadrilha.
O venezuelano rechaça todas as acusações como pura invenção. Essa também é a opinião da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que exige a libertação imediata de López. Porém, os tribunais e o governo vão procrastinando qualquer ação.
Oposição perseguida
De fato, há muitos indícios de que essa prisão só se deu por motivos políticos. Há anos o governo socialista em Caracas vem investindo contra os oposicionistas. Em 2008, Hugo Chávez impedira a candidatura de López para a prefeitura da capital, interditando-lhe por seis anos o acesso a cargos políticos. A decisão contrariou o veredicto contrário da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
No início de janeiro de 2015, o presidente Nicolás Maduro propôs libertar López em troca do separatista porto-riquenho Oscar López Rivera, preso nos Estados Unidos desde 1981 por conspiração, entre outras acusações. Poucos dias depois, sugeriu-se que Leopoldo López seria liberto, caso deixasse a Venezuela.
Segundo o preso, "isso nunca vai acontecer", e ele interpreta a proposta como mais uma prova da motivação política de Maduro. Essa visão é compartilhada por um observador em Caracas – que por motivos de segurança preferiu permanecer anônimo: "O governo tenta neutralizar os cabeças do movimento La Salida", comentou, em entrevista à DW.
"A saída" é o nome da campanha com que o grupo oposicionista liderado por López e sua correligionária María Corina Machado desencadearam protestos de massa contra Maduro, no início de 2014.
Machado foi eleita para a Assembleia Nacional no pleito de 2010 como a deputada com o maior número de votos. Em março, porém, o presidente do Parlamento, Diosdado Cabello, a exonerou de seu cargo, depois que ela pedira à Organização dos Estados Americanos (OEA) ajuda para a democracia na Venezuela. María Machado "está sob prisão domiciliar de fato, não podendo participar de nenhum evento político", relatou o observador venezuelano.
Apoio a Maduro em declínio
O governo Maduro tem motivos suficientes para querer calar López e Machado. Ambos são os representantes mais carismáticos da ala oposicionista, que não quer esperar até as próximas eleições para defender a democracia, mas está disposta a fazê-lo agora, nas ruas.
A oposição, porém, não é a única fonte de pressões sobre Caracas. A situação econômica venezuelana é tão ruim que atualmente até mesmo o governo admite haver recessão. A inflação devora os gestos de beneficência para com os setores mais pobres da população.
Consequentemente, vem despencando o apoio ao presidente Maduro, e não só entre os eleitores. Há boatos recorrentes de que seus correligionários gostariam de se livrar dele. Pois, além dos ideólogos do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), há também as alas dos pragmáticos e dos militares, em que se inclui também Cabello, como número dois da legenda.
Mais recentemente, vozes críticas alegaram que Maduro estaria vendendo o futuro do país ao obter da China créditos a serem pagos com extrações futuras de petróleo.
Também entre suas próprias alas vai-se desfazendo a esperança de que o presidente ainda conseguirá retomar o leme. Em vez de finalmente dar impulso à economia, Maduro hesita, anuncia reformas e pede novos créditos à China. Nesse ínterim, a população passa fome, sem que se note qualquer avanço.