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Globalização: prós e contras

8 de agosto de 2002

Dois pontos de vista extremos sobre a globalização: o empresário Hans-Olaf Henkel a defende com euforia, Ernst-Ulrich von Weizsäcker, pesquisador e político social-democrata enumera seus perigos.

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Henkel: "Xingar a economia não leva a nada"Foto: AP

A Deutsche Welle entrevistou duas personalidades da economia e política alemãs sobre um dos grandes conceitos da atualidade: a globalização. Quais são seus reais efeitos, para além dos temores ou do fato de que estreite os laços entre os mercados? As perguntas são de Oliver Schilling.

A favor: Hans-Olaf Henkel

Até 2000, Hans-Olaf Henkel foi presidente da Confederação Alemã da Indústria (BDI). Na qualidade de representante do empresariado, sempre insistiu no significado da globalização para a política e a economia. Ele participa de diversos conselhos administrativos, além de presidir o Grupo Científico Gottfried W. Leibniz, que engloba 79 instituições de pesquisa da Alemanha. Henkel é um declarado entusiasta da globalização. A mais recente de suas numerosas publicações intitula-se A ética do sucesso.

Sr. Henkel, o que significa globalização para o senhor?

Para mim, é a melhor notícia para a humanidade, desde o Iluminismo e a Declaração dos Direitos Humanos. Globalização não significa apenas que bens, mercadorias e serviços circulam pelo mundo inteiro; acima de tudo, ela implica o intercâmbio das melhores idéias.

Quais são as chances e riscos da globalização?

Via de regra, dá-se demasiada ênfase a seus riscos, há um sem-número de best-sellers que fazem a caveira da globalização. As vantagens são o que eu chamaria de triângulo mágico: democracia, direitos humanos e economia social de mercado.

A economia alemã está preparada para a globalização?

Como segundo maior exportador do mundo, a Alemanha está plenamente acostumada às condições da globalização. O novo é que cada vez mais nações querem participar dela, e nos fazem concorrência. E se a Alemanha não enfrentar esses concorrentes, então se tornará uma das vítimas da globalização.

Os adversários da globalização criticam a perda de poder do Estado. Qual seria a sua tarefa, em tempos de globalização?

Todo Estado tem de garantir que as pessoas possam compartilhar da globalização e com ela lucrar. É preciso entender que o empresariado não apenas se beneficia do processo social, como também contribui significativamente para ele. Um exemplo: O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, assegurou-me há pouco que, sem a presença de empresas estrangeiras, ainda haveria o apartheid em seu país.

Afinal, as empresas também exercem pressão sobre o governo e ameaçam com o corte de empregos e a transferência para o exterior de seus centros de produção...

Assim parece ser, à primeira vista. Mas não esqueçamos que as firmas também estão sujeitas a boicotes por parte dos consumidores. Cada vez mais o consumidor determina grande parte da política empresarial. Se, por exemplo, ele dá a entender que não mais comprará produtos fabricados na Alemanha, por considerá-los caros demais, então o empresário só tem duas opções: ou exige dos políticos que melhorem as condições estruturais, ou muda-se para o exterior.

Os críticos consideram um déficit de legitimação o fato de o empresariado influenciar as decisões dos representantes do povo. Eles têm razão?

O que quer dizer "déficit de legitimação"? São governos eleitos aprovando leis que, por sua vez, as empresas têm que respeitar. Essa discussão não tem sentido.

Como explica o fato de cada vez mais pessoas protestarem nas ruas contra a globalização?

Nos últimos anos ocupei-me desses grupos, e é difícil colocá-los num mesmo saco. Em diálogo com pessoas racionais e com capacidade de reflexão, confirmei que é possível chegar a um consenso. Geralmente elas concordam comigo, em que a globalização é uma coisa fantástica, e que ajuda a humanidade. As chamadas vítimas da globalização, como os pobres da África ou dos países islâmicos, não colhem os frutos da globalização, e sofrem sob ela. Não devido à globalização em si, são antes os regimes feudais e ditatoriais que lhes barram o acesso a ela.

Não será este um ponto de vista muito individual e eufemístico?

Não. De braços dados com a globalização, temos que protestar contra os sistemas feudais na África, Ásia e América Latina. Xingar os norte-americanos e a economia é que não leva a nada.

Contra: Ernst-Ulrich von Weizsäcker

A internacionalização dos mercados é uma velha conhecida de Weizsäcker. Ele é o presidente da comissão de estudos "Globalização da economia mundial", do Parlamento federal alemão. De seu relatório final, que acaba de ser entregue após dois anos e meio de pesquisa, constam sugestões concretas sobre como lidar com a globalização. Antes de assumir esta função, Ernst-Ulrich von Weizsäcker dirigiu o renomado Instituto de Wuppertal para Clima, Meio Ambiente e Energia. Além disso, é membro do Club of Rome, uma ONG que se define como um "tanque de idéias global".

Globalisierungsgegner protestieren während des EU-Gipfels in Laeken
Protesto contra globalização durante cúpula da UE em Laeken/BelgienFoto: AP

Sr. Weizsäcker, quais as chances e riscos que oferece a globalização?

Ela é uma faca de dois gumes, há vencedores e perdedores desse processo. Por um lado, nos proporciona uma gigantesca gama de mercadorias, porém a diversidade de sementes e plantas úteis reduziu-se dramaticamente. Existem espigas de milho amarelas, vermelhas e cor de laranja, mas todas provêm do mesmo campo. No todo, o fato é que os fracos pouco levam da globalização, e os fortes lucram com ela.

Quais os efeitos da globalização sobre o Estado?

Com o fim do conflito Leste-Oeste, o papel do Estado transformou-se radicalmente. Os movimentos de migração e os gestos de ameaça do empresariado forçaram pouco a pouco os Estados a introduzir privilégios fiscais para os ricos. Antigamente, os milionários tinham que descontar um porcentual mais alto do que a média dos assalariados. Agora presenciamos uma redução sistemática de todos os impostos sobre o capital e as empresas, enquanto crescem as taxas sobre o consumo e as alíquotas para os empregos de baixa remuneração. Essa é uma reviravolta bem significativa.

A globalização também traz algo de positivo para o Estado?

Avançamos alguns passos no tocante à democratização e à liberdade de imprensa, através do processo da globalização.

Pode-se falar num déficit de legitimação, quando os empresários co-determinam a política e influenciam representantes eleitos?

Sim, sem dúvida. Acrescente-se o fato de que, freqüentemente, as mesmas pessoas circulam nos meios empresarias e no serviço do Estado, e não se pode saber se agem livres de interesses econômicos. Esse fenômeno é chamado "princípio da porta giratória", e está sendo visto com olhos muito críticos, também nos Estados Unidos.

Esta é também a crítica dos numerosos adversários da globalização que protestaram nas ruas de Seattle, Praga, Göteborg e Gênova?

Os que condenam a globalização diagnosticaram corretamente que governos isolados pouco podem fazer contra o poder concentrado dos mercados financeiros. Muitos têm a forte impressão de que os Estados não mais representam os interesses dos membros mais fracos da sociedade.

Como se pode cercear as conseqüências negativas?

Certamente uma maior cooperação mútua entre os Estados ajudará: o que se denomina global governance. Assim pode-se estabelecer regras que a economia internacional também terão que obedecer. O fim dos oásis fiscais, regulamentação internacional contra o dumping (preços e salários abaixo da tabela), medidas para proteger os direitos humanos, tudo isso se pode alcançar através de organizações internacionais e de uma melhor cooperação entre os governos. A ONU, a OMC e a Organização Internacional do Trabalho já fazem isso em alguns setores. Precisamos seguir seu exemplo em bases muito mais amplas.

Muito grato por esta conversa!

os / av