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Gilmar diz que incentivar invasão de hospitais é crime

14 de junho de 2020

Fala de ministro do STF ocorre depois de Bolsonaro pedir que apoiadores filmassem interior de unidades de saúde. Filho do presidente reage e chama Gilmar de "doente mental”. PGR pede que invasões sejam investigadas.

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Brasilien Oberstes Wahltribunal in Brasilia - Gilmar Mendes
"É vergonhoso - para não dizer ridículo - que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração", disse ministro. Foto: Getty Images/I. Estrela

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmou neste domingo (14/06) que estimular a invasão de hospitais em meio à pandemia é um crime e pediu que o Ministério Público tome medidas contra quem defender essa prática.

A declaração do ministro ocorre dois dias após o presidente Jair Bolsonaro pedir para que seus apoiadores "arranjassem uma maneira de entrar" em hospitais públicos e filmassem as alas para verificar se os leitos estão livres ou ocupados. A fala de Bolsonaro, transmitida em uma live na quinta-feira, provocou repúdio entre médicos e autoridades estaduais e municipais.

Em mensagem no Twitter, Gilmar afirmou que "invadir hospitais é crime – estimular também”. "É vergonhoso - para não dizer ridículo - que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração, colocando em risco a saúde pública”, escreveu o ministro, que pediu ainda que o Ministério Público tome providências.

Nos últimos meses, Bolsonaro tem travado um embate com autoridades estaduais e municipais sobre a forma de gerir a pandemia de coronavírus. O presidente vem contestado, sem provas, os números de mortes e de casos. Na live de quinta-feira, ele afirmou, sem provas, de que o governo vem recebendo informações de que o número de mortes vem sendo inflado para "prejudicar o governo federal"

Nas redes sociais, contas ligadas à família do presidente também têm alimentado teorias conspiratórias de que os hospitais do país estão vazios, o que mostraria que a situação não seria tão grave.

Na última sexta-feira, após a fala de Bolsonaro, o Hospital Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, registrou um tumulto quando parentes de um paciente recém-falecido tentaram invadir uma ala do prédio para verificar a ocupação. Um médico relatou ao jornal O Globo que os envolvidos no tumulto citaram o pedido do presidente. No sábado, um grupo de deputados estaduais do Espírito Santo fez uma visita surpresa a um hospital no munícipio de Serra.

No início de junho, o hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo, também havia sido alvo de uma ação semelhante por parte de cinco deputados estaduais. Na ocasião, os deputados fizeram lives em suas redes sociais, questionando se havia  leitos ociosos no local. A atitude foi condenada pela prefeitura, que afirmou que os parlamentares estavam "tentando enganar a opinião pública”.

Após os episódios, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu uma investigação sobre invasão a hospitais e agressões a profissionais de saúde nas últimas semanas. Pelo pedido de Aras, os procedimentos vão depender do Ministério Público em cada Estado.

"Indubitavelmente, condutas dessa natureza colocam em risco a integridade física dos valorosos profissionais que se dedicam, de forma obstinada, a reverter uma crise sanitária sem precedentes na história do país", afirmou Aras, em ofício ao Ministério Público de São Paulo.

Ainda neste domingo, após a reação de Gilmar Mendes, o vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente e que é suspeito de coordenar o chamado "Gabinete do Ódio” - uma rede de propagação de ataques e fake news -, atacou o ministro. Sem citar Gilmar nominalmente, ele afirmou: "Só um bandido ou um doente mental para minimamente crer que o Presidente incentivou invasão a hospitais”.

Em mensagem no Twitter, Carlos ainda disse tudo que o presidente só teria estimulados os cidadãos a cumprir "seu direito de fiscalizar os gastos públicos”.

Também neste domingo, o líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), informou que pretende apresentar uma notícia-crime na PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Bolsonaro por causa da fala sobre os hospitais.

JPS/ots

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