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"Geração de bebês sem aids na África é objetivo alcançável"

Rick Fulker (lpf)9 de maio de 2015

A DW entrevistou os organizadores de um concerto beneficente promovido pela Fundação Alemã para a Aids. Eles apontam avanços no continente africano, graças à ajuda internacional e a medicamentos antirretrovirais.

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Foto: Fotolia/Africa Studio

A Fundação Alemã para a Aids realizou neste sábado (09/05) um concerto de gala beneficente em Bonn. Ao lado do coro do teatro municipal e da orquestra Beethoven da cidade, jovens estrelas internacionais do mundo da música apresentaram-se sem receber cachê. A renda do concerto será revertida para a fundação, que apoia vítimas do HIV e da aids na Alemanha e no exterior.

Em entrevista à Deutsche Welle, parceira do evento, os organizadores do concerto dão detalhes sobre o trabalho da fundação e sobre o atual estágio da epidemia da aids na África. A DW falou com Ulrich Heide, diretor-executivo da Fundação Alemã para a Aids; Dieter Wenderlein, coordenador de projetos da Comunidade de Santo Egídio em Moçambique; e Noorjehan A. Majid, que dirige o programa Dream no país africano.

"Não se pode esquecer que a doença precisa ser tratada até o fim da vida. Quando se começa um programa desse tipo, é preciso fazer de tudo para que seja possível seguir adiante com ele. É uma obrigação moral", destaca Heide.

Deutsche Welle: O concerto em Bonn é beneficente. A renda vai para a Fundação Alemã para a Aids, que apoia projetos na África, entre eles o programa Dream para mães e bebês em Moçambique. Qual o objetivo do programa?

Noorjehan A. Majid: O programa Dream existe em dez países e envolve ajuda e tratamento. Desde que foi fundado, em 2002, cerca de 260 mil pacientes foram beneficiados, e 28 mil bebês de mães soropositivas nasceram sem o vírus. Além do tratamento com medicamentos antirretrovirais durante a gravidez, também oferecemos apoio e aconselhamento, e, em 99% dos casos, conseguimos impedir que o vírus seja transmitido para o bebê.

Que somas de dinheiro estão envolvidas?

Dieter Wenderlein: A proteção de um bebê custa cerca de 500 euros, o que, do ponto de vista econômico, não é muito quando se pensa quanto se economiza em longo prazo. Depois, essas crianças não precisam mais de tratamento. Atualmente cerca de 60 mil pacientes estão registrados no programa de antirretrovirais. De 75% a 80% dos fundos vêm de doadores privados, entre eles a Fundação Alemã para a Aids, que apoia o programa há dez anos. A fundação financia os custos atuais de três centros de tratamento em Moçambique, por exemplo.

Deutsche AIDS-Stiftung Sant’Egidio
Os três entrevistados da esq. à dir.: Noorjehan A. Majid, Ulrich Heide e Dieter WenderleinFoto: Sebastian Zimer/Deutsche AIDS-Stiftung

O programa também é apoiado por governos e instituições públicas?

Dieter Wenderlein: Isso poderia ser melhor. Medicamento antirretrovirais são fornecidos de graça por governos africanos, que, por sua vez, recebem fundos internacionais. Esses fundos vêm das mais diferentes fontes, entre elas de uma iniciativa do governo [do ex-presidente dos EUA] George W. Bush. Infelizmente, os fundos diminuíram ao longo dos anos.

Ulrich Heide: Não se pode esquecer que a doença precisa ser tratada até o fim da vida. Quando se começa um programa desse tipo, é preciso fazer de tudo para que seja possível seguir adiante com ele. É uma obrigação moral. A Fundação Alemã para a Aids começou seus trabalhos há cerca de 30 anos. Naquele tempo, nos procuraram pessoas que viviam na Alemanha, mas eram estrangeiras.

O índice de novas infecções na Alemanha estava estável e até decrescente, então, há alguns anos, decidimos expandir nosso alcance. Pensamos no sul da África, onde há o maior índice de infecções. Conhecemos o programa Dream em 2005 e, dois anos depois, visitamos Moçambique. Tivemos uma impressão muito boa, sobretudo porque há pessoas envolvidas [no programa] que também são soropositivas ou têm aids.

Qual o estado atual da epidemia na África?

Ulrich Heide: Mesmo em países que sofreram muito com o ebola, o HIV ainda é o maior problema. E hoje o índice de infecções na Libéria é menor que na Estônia! Nos últimos dez anos, foram feitos avanços enormes na África; muito mais pessoas recebem tratamento médico – de 35% a 40% dos que precisam de tratamento.

Mas isso também significa que mais de 60% não têm acesso [ao tratamento]. Ou seja, a situação vem melhorando aos poucos, e para isso também contribui o programa Dream. Mas ainda não chegamos aonde queremos. Tememos que os doadores cortem os fundos.

Quais as perspectivas para o futuro?

Dieter Wenderlein: Falamos em sustentabilidade. Na África, o número de novas infecções está diminuindo, assim como o número de mortes. Uma geração de bebês sem aids na África pode ser possível. É um objetivo alcançável, mesmo que ainda sejam necessários mais 40 ou 50 anos.