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Genscher, o acrobata da diplomacia

Beatrix Beuthner /Jeanette Seiffert (lpf/as)1 de abril de 2016

Ele comandou a diplomacia alemã por quase duas décadas e ajudou a moldar a Alemanha do pós-Guerra. Hans-Dietrich Genscher faleceu aos 89 anos, reconhecido como um dos principais nomes da Reunificação.

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Foto: picture-alliance/dpa/M. Balk

"Nós viemos até vocês para informá-los de que a sua saída do país foi aprovada hoje": sobretudo essa frase de Hans-Dietrich Genscher ficará na memória. Ele a disse no dia 30 de setembro de 1989, na varanda da embaixada da Alemanha em Praga. As palavras finais se mesclaram ao júbilo de milhares de cidadãos da República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Oriental, que haviam buscado proteção na representação diplomática ocidental e resistiram durante dias nos jardins da embaixada.

Mais tarde, Genscher declarou que esse havia sido o momento mais emocionante de sua carreira política. "Foi um grito de alegria difícil de imaginar", disse.

Genscher ocupou uma série de cargos políticos durante a vida, mas nenhum o marcou tanto quanto o de ministro do Exterior. Logo ao assumir a pasta, em 1974, muitos o chamavam de "um hábil advogado do equilíbrio" entre o Leste e o Oeste. Com as iniciativas em prol do desarmamento da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), ele desenvolveu sua própria política de distensão, nos anos 1980.

Com uma irredutível disposição ao diálogo e uma grande habilidade para a negociação, Genscher se empenhou pelo fim da Guerra Fria. "É nosso objetivo trabalhar por uma Europa em um estado de paz, no qual o povo alemão, por meio da livre autodeterminação, possa reencontrar sua unidade", afirmou em 1975, num discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Vertragsunterzeichnung zur Deutschen Einheit in Moskau 1990
Helmut Kohl, Genscher e Mikhail Gorbatchov em Moscou, na assinatura do acordo da Reunificação, em 1990Foto: Imago/S. Simon

"Aproximar-se do outro" era o credo de Genscher: ouvir, envolver-se e conversar. Com essa estratégia, ele conseguia, por um lado, externar posições firmes, por exemplo quando condenou veementemente, em 1979, a invasão soviética no Afeganistão. Por outro lado, sua habilidade diplomática permitia a ele continuar sendo aceito como interlocutor.

O grande momento de Genscher como ministro do Exterior apareceu no momento em que se anunciava uma mudança na linha política de Moscou. A União Soviética dava início a um programa de reformas econômicas e sociais que previa reformas internas nos países do Pacto de Varsóvia, incluindo a Alemanha Oriental.

Genscher aproveitou essa situação para cobrar uma mudança de mentalidade na liderança política da Alemanha Oriental. As manifestações das pessoas que pediam mais liberdade na Alemanha Oriental e os milhares de refugiados alemães-orientais que buscavam refúgio nas embaixadas alemãs na Hungria e na Tchecoslováquia ajudavam a pôr pressão nas suas exigências.

Com a Reunificação, um sonho se tornou realidade para Genscher: ele próprio vinha da Alemanha Oriental. O "gordo de orelhas grandes", como ele era representado nas caricaturas da imprensa alemã, nasceu em 1927 nas proximidades de Halle – depois da Reunificação, ele retornaria para sua terra natal.

Como membro do Partido Liberal-Democrático da Alemanha (LDP), ele viveu os primeiros anos do domínio comunista na Alemanha Oriental. Em 1952, mudou-se para Bremen, no Oeste, e virou advogado.

Mais tarde, como líder do Partido Liberal-Democrático (FDP), Genscher ocupou, de 1969 a 1974, o cargo de ministro do Interior na coalizão dos social-democratas com os liberais, no governo do chanceler Willy Brandt. Foi no seu mandato que aconteceu o atentado terrorista à equipe israelense, nos Jogos Olímpicos de 1972 em Munique, executado por palestinos.

Os atletas tomados reféns, um policial alemão e cinco terroristas morreram durante a operação de libertação. Esse foi o dia mais horrível do meu longo mandato como integrante do governo alemão. "Eu não desejo essa experiência para ninguém, disse", mais tarde. Genscher havia se empenhado pela libertação dos reféns sem emprego da violência.

100 Jahre Willy Brandt Maueröffnung 1989
Genscher e Willy Brandt em 1989 em Berlim, logo depois da queda do Muro. Ao fundo, KohlFoto: picture-alliance/dpa

De 1974 a 1992, Genscher foi ministro do Exterior e, concomitantemente, vice-chanceler, inicialmente no governo do chanceler Helmut Schmidt. Em 1982, o FDP rompeu com os social-democratas, abrindo a possibilidade de uma coalizão com os conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU). Genscher foi muito criticado por essa decisão. Mais tarde, ele diria que ela não foi fácil, também porque tinha um grande apreço por Schmidt, que ele via como uma personalidade forte.

Em meio a críticas ao seu estilo de liderança, Genscher abandonou a presidência do FDP em 1985 – mas não o partido, do qual se tornou presidente de honra em 1992. Ele era reconhecido como um incentivador de jovens talentos. Guido Westerwelle, há pouco falecido, foi uma das pessoas que Genscher mais apoiou. Westerwelle se tornou presidente do FDP e também ministro do Exterior e vice-chanceler.

Genscher se retirou da política em 1992. Muitos caricaturistas lamentaram a decisão, já que ele era um motivo recorrente. A revista Titanic até mesmo criou o personagem Genschman, em alusão a ele e ao super-herói Batman. O personagem é um salvador do mundo capaz de resolver qualquer crise, bem ao estilo do antigo ministro do Exterior.

Hans-Dietrich Genscher faleceu aos 89 anos, como um dos poucos políticos alemães a alcançar reconhecimento internacional.

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