Genscher diz que reunificação alemã teve que ser rápida
3 de outubro de 2005O político liberal Hans-Dietrich Genscher foi ministro das Relações Exteriores da Alemanha Ocidental de 1974 a 1992. Nascido em 1927, cresceu na cidade de Halle, no Leste alemão. Após a guerra, estudou Direito e se transferiu para a Alemanha Ocidental em 1952, onde ingressou para o Partido Liberal. Ele foi parlamentar do Bundestag de 1965 a 1998. Como ministro das Relações Exteriores da coalizão de governo entre democrata-cristãos e liberais sob Helmut Kohl, Genscher teve um papel de destaque na reunificação alemã.
DW-WORLD: Parece até um esporte nacional o hábito de rebaixar a Alemanha. Onde se encontram aspectos positivos do país reunificado?
Hans Dietrich Genscher: Primeiro, na unificação em si e no fato de a Alemanha ser hoje um membro importante e ativo da União Européia. Isso vale para os alemães do norte e sul, leste e oeste. Por isso, não vejo motivo nenhum para fazer uma avaliação negativa. A Alemanha enfrenta grandes problemas e temos que executar as reformas necessárias.
Isso não tem tanto a ver com a unificação, mas sim com as conseqüências da má administração socialista anterior à reunificação, com o fato de que a pirâmide etária da população está se alterando. Como todos os outros países, nós também temos de enfrentar os desafios da globalização, mas neste ponto as chances são maiores do que os riscos. Acho que é preciso direcionar o olhar para frente. Tenho certeza de que o nosso país vai conseguir superar isso.
Muita coisa aconteceu. Acredito que se faz cada vez menos distinção entre as pessoas no Leste e no Oeste do país. A geração mais jovem encara o futuro do nosso país na Europa como um desafio coletivo. Contra a nossa vontade, fomos obrigados a viver separados e em dois sistemas políticos diferentes. As coisas já não são mais assim.
Mas o futuro é um desafio comum, e a decisão de enfrentá-lo também deve ser a meta de todos. Mas há uma série de pessoas que sempre encontram algo negativo. Em alguns casos, tenho a impressão de que elas até procuram. E também há quem não tenha desejado a reunificação com tanto ardor como a grande maioria dos alemães no Leste e no Oeste.
O Muro continua existindo nas cabeças como antes. Por que os alemães do Oeste ainda têm tantos preconceitos contra os do Leste e vice-versa?
Esta não é a minha impressão. Vejo que muitos alemães do Leste se põem a caminho do Oeste e se sentem como alemães. É claro que a Alemanha é um país com muitas paisagens diferentes e muitas características regionais. Essa história do Muro nas cabeças é um jogo de palavras. Tenho a impressão de que as pessoas gostam de falar disso, mas isso não corresponde à realidade dos nossos dias.
Há um ano, o senhor apelava pela unificação das condições de vida no Leste e no Oeste como um "direito constitucional adquirido". Há 15 anos, o senhor imaginava que a equiparação dos níveis de vida duraria tanto tempo?
Na época, eu disse isso com muita clareza e não fiz promessas impossíveis de serem cumpridas. Eu disse que seria um caminho árduo, um caminho com possíveis estagnações e até retrocessos. Mas vamos conseguir.
Não se pode eliminar do dia para a noite problemas gerados em mais de 40 anos de economia socialista no Leste. Quem previu ou prometeu outra coisa provavelmente não tinha noção da situação no Leste ou foi leviano ao avaliar o quadro.
Mas quem olhar as cidades no Leste vai notar a mais moderna infra-estrutura da Alemanha, indústrias modernas, que surgem muitas médias e pequenas empresas. Acredito que é uma noção bastante realista, uma perspectiva positiva.
Observando as dificuldades dos últimos 15 anos, o senhor acha que foi certo reunificar a Alemanha Oriental e Ocidental com a rapidez como as coisas aconteceram?
Não dava para ser de outro jeito. Era a janela, a oportunidade histórica que se abria. E a aproveitamos para executar a unificação alemã pacificamente. Isso foi absolutamente certo. Na época, eu tinha uma opinião divergente quanto aos subsídios. Eu defendia que se fomentasse a economia do Leste, a fim de atrair a produção para lá. Mas esta idéia não teve apoio nem dos nossos parceiros de coalizão da CDU (União Democrata Cristã) e CSU (União Social Cristã) e nem dos social-democratas.
Recentemente foi lançada uma campanha nacional, "Você é a Alemanha", para motivar os alemães deprimidos. Do que o país precisa para sair do mau humor?
Sobretudo de um governo que gere confiança e fale abertamente dos problemas. Não um governo que reclame dos problemas, pois reclamação é o que não falta, mas um que aponte possibilidades de solucioná-los e demonstre confiança nos seus caminhos. Esta é a tarefa agora. Veremos se as expectativas serão preenchidas.
O hábito de reclamar não é tipicamente alemão?
Há um fundo de verdade nisso.
Há duas semanas, o senhor disse que uma "grande coalizão significa estagnação". Agora é provável que sejamos governados em breve por uma grande coalizão. Como o senhor enxerga o futuro imediato?
Continuo achando que uma grande coalizão significa um bloqueio recíproco, que pode levar até mesmo a decisões errôneas. E hoje, quando se fala da necessidade de uma reforma do federalismo, isso significa um apelo para reverter definitivamente o que a grande coalizão de 1966 a 1969 fez de errado. Isso não inspira confiança.