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Fracassado, mas adorado – Horário de verão está de volta

mw27 de março de 2004

Ele não cumpre o objetivo para o qual foi criado. Mesmo assim ninguém pensa em extingui-lo na Alemanha e na Europa. Lazer é o grande beneficiado.

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Cuco, hora de acertar os ponteirosFoto: AP

Ao menos nos relógios, o verão europeu começa neste domingo. Pela 25ª vez, os alemães têm de antecipar seus ponteiros em uma hora. O que foi instituído em conseqüência da crise do petróleo com a meta de economizar energia tornou-se, antes de tudo, uma tradição apreciada pela população.

O balanço deste um quarto de século de horário de verão na Alemanha mostra que ele proporciona dias mais longos para as pessoas curtirem, mas perturba o corpo humano. Poupar energia, não poupa.

Perspectiva não correspondida

O horário de verão foi adotado pela primeira vez na Alemanha em 1980. De acordo com a lei de 1978 que o regula, seu objetivo é aproveitar melhor a claridade do dia. Empresas e residências ganhariam uma hora a mais de luz natural, atrasando o acendimento de lâmpadas. Valeu a intenção, mas seus idealizadores esqueceram de ponderar outros efeitos da decisão.

"O que se economiza de luz à noite, gasta-se pela manhã em calefação", explica Thomas Hagbeck, do Departamento Federal de Meio Ambiente. Não raro nos dias de primavera do início do horário de verão, quanto nos de outono na reta final antes de se voltar a atrasar os relógios, as manhãs registram baixas temperaturas, inclusive negativas.

Astrid Fischer, da Federação das Companhias Elétricas (VDEW), acrescenta que a luz representa hoje em dia, em média, apenas 1% do consumo residencial de eletricidade. Ou seja, a economia à noite pouco pesa nas contas finais.

Mudança no relógio biológico

Zugverspätungen wegen Stromausfall
No primeiro dia da mudança, sono atrasado é comumFoto: AP

No funcionamento do corpo humano, entretanto, pesa. Para o organismo, o início do horário de verão corresponde a um jet lag, aquela diferença de fuso horário que perturba quem faz longas viagens internacionais.

Diretor do Centro de Medicina do Sono da Universidade de Regensburg, Jürgen Zulley esclarece que, embora trate-se de apenas uma hora dormida a menos na noite de introdução do horário de verão, o corpo sente falta de outros sinais do meio ambiente para sua adaptação. Sinais que existem num deslocamento no planeta.

De acordo com Zulley, os dois primeiros dias são terríveis. Não à toa acontecem mais acidentes de trânsito neste período do que normalmente, assegura o cientista.

Mas mesmo depois desta transição, o organismo sofre as conseqüências. Por exemplo, na hora de dormir. No auge de verão, há claridade no céu até quase 23 horas. Em muitas pessoas, os olhos recusam-se a fechar. As crianças, então, não entendem como já chegou a hora de ir para a cama, se o sol lá fora ainda está brilhando e o céu, azul.

Economia já se adaptou

Os agricultores e pecuaristas também resistiram inicialmente ao horário de verão. Eles temiam sobretudo problemas na produção de leite. Afinal, na primeira noite, as vacas teriam uma hora a menos para produzi-lo, recorda-se Anni Neu, da Federação Alemã de Agricultura.

No entanto, uma adaptação gradual ao novo horário contornou satisfatoriamente a questão. Basta ir antecipando lentamente o horário da ordenha, ao longo de vários dias, que a mudança quase não se faz notar.

Uhr Signal
Deutsche Bahn tem 120 mil relógios nas plataformas, salas de operações e caixas automáticos. Sorte que eles se atualizam sozinhosFoto: AP

A companhia ferroviária Deutsche Bahn não dispõe deste tempo para adaptação. Seus trens noturnos precisam recuperar uma hora de atraso artificial na madrugada da virada. Mas graças à folga no planejamento do tráfego, poucas composições têm chegado atrasadas a seus destinos na noite de introdução do horário de verão.

Este inclusive começa às 2 horas da madrugada (antecipando-se os relógios para as 3 horas), exatamente para criar o mínimo possível de confusão no tráfego ferroviário e aéreo, assim como transmissões de tevê e outros serviços que funcionam 24 horas por dia.

Para aqueles que esquecem de antecipar os ponteiros antes de irem dormir, na Alemanha são comuns os relógios e despertadores digitais que se ajustam automaticamente, através de sinais de rádio emitidos a partir de Frankfurt, conforme a hora certa do relógio atômico do Instituto Federal de Técnica e Física, de Braunschweig.

UE acertou ponteiros dos europeus

Na União Européia, os países membros entram e saem juntos do horário de verão desde 1996. Ou seja, respectivamente, sempre no último domingo de março e no último de outubro. A necessidade de harmonização dos horários entre os vizinhos foi o argumento decisivo, justifica Gilles Gantelet, porta-voz da Comissão Européia para assuntos de transportes e energia.

Até então, por exemplo, as companhias ferroviárias da Alemanha e da França tinham sempre de acertar suas planilhas de horários quando um dos países dava início ou encerrava a hora de verão.

IFA Berlin Biergarten
No verão, alemães curtem o sol nos biergarten (cervejarias ao ar livre) até o sol se porFoto: AP

Nem mesmo na Comissão Européia há quem ainda pense no horário de verão como forma de poupar energia. Um estudo de 1998 confirmou que ele não cumpre este objetivo, mas, apesar disso, nenhum país pretende desistir dele.

Hagbeck, do Departamento Federal de Meio Ambiente: "As pessoas gostam do horário de verão. Elas podem aproveitar melhor o dia, se há claridade até tarde da noite."

Pelo mesmo motivo, o horário de verão significa lucro para vários setores da economia. Que o digam, por exemplo, os donos de cervejarias ao ar livre.