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Fim do bipartidarismo abre fase de incerteza na Espanha

21 de dezembro de 2015

Podemos e Ciudadanos abalam estrutura bipartidária e, pela primeira vez desde restauração da democracia, espanhóis vão dormir sem saber nome do chefe de governo após uma eleição.

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Pablo Iglesias, líder do Podemos, exige reforma Constitucional para partido aliadoFoto: Reuters/S. Perez

Apesar de ter vencido as eleições espanholas deste domingo (20/12), o Partido Popular (PP, de centro-direita) ficou longe da maioria que detinha até então no Congresso dos Deputados, em Madri. O segundo lugar coube ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). O PP elegeu 123 deputados e os socialistas, 90.

O PP perdeu assim 63 deputados em relação à eleição de 2011. O PSOE vai ter 19 deputados a menos no Congresso de 350 assentos. Em terceiro lugar ficou o esquerdista e antiausteridade Podemos, que conquistou 69 assentos, seguindo-se a legenda de centro-direita Ciudadanos, com 40 deputados.

Para os espanhóis, está aberto agora o jogo das possíveis coligações: uma grande coalizão entre conservadores e socialistas, como a liderada pela chanceler federal Angela Merkel na Alemanha? Ou um conglomerado de siglas minoritárias que apoiam uma aliança esquerdista?

O certo é que nenhum dos dois grandes partidos que se alternavam no poder em Madri desde 1978 – com cinco governos conservadores e seis do PSOE – voltará a governar sozinho.

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Partido do chefe de governo, Mariano Rajoy, perdeu 63 assentos no Congresso dos Deputados, em MadriFoto: Reuters/M. del Pozo

Além disso, nem a nova formação de centro-direita, Ciudadanos, somou votos suficientes para se converter no parceiro natural que o PP precisa para chegar aos necessários 176 assentos, nem uma aliança entre o PSOE e o Podemos alcançaria essa maioria parlamentar.

Também entraram no Congresso a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com nove eleitos, a Democràcia y Llibertat (oito deputados), e o Partido Nacionalista Basco (seis deputados). Depois vêm a Esquerda Unida (dois deputados), o partido basco EH-Bildu (2 lugares) e a Coligação Canária (um deputado).

Poder dividido

A partir de agora, o poder na Espanha não estará mais divido entre dois, mas entre quatro grandes partidos, e serão necessárias alianças para assegurar a governabilidade de um país que tem pela frente dois grandes desafios: a consolidação do crescimento econômico e a vontade de independência da Catalunha, uma de suas regiões mais ricas.

"É uma verdadeira bagunça", diz Manuel Villoria, professor de ciências políticas na Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, sobre o resultado das urnas. "Essa fragmentação vai trazer grandes dificuldades para a formação de um novo governo."

Se nenhum pacto chegar a ser concretizado entre os partidos, em maio próximo serão realizadas novas eleições. Analistas acreditam, no entanto, que o governo espanhol, que conseguiu aprovar o orçamento público pouco antes das eleições, continuará funcionando enquanto a crise política estiver em resolução.

PSOE e Podemos

O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, de 43 anos, reconheceu que cabe ao atual chefe de governo, Mariano Rajoy, a primeira chance de tentar organizar um governo, já que o PP foi o vencedor das eleições.

Como alternativa, Sánchez disse que os socialistas poderiam se unir num "governo de esquerda", mas não explicou como ele pretende chegar a uma ampla coalizão, que necessariamente teria que incluir o Podemos, uma organização de esquerda que surgiu dos protestos antiausteridade de 2011 e evoluiu para partido político.

Como, mesmo juntos, PSOE e Podemos não têm a quantidade de assentos necessária para garantir maioria, eles teriam que procurar uma aliança com parceiros regionais menores. Para Villoria, essa não é uma opção viável. "Estou inclinado a dizer que uma grande coalizão de esquerda não duraria muito tempo", afirmou.

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Sánchez, dos socialistas, falam em coalizão de esquerdaFoto: Reuters/S. Vera

Ainda na noite eleitoral, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, 37, anunciou que só apoiaria um partido que concordasse com a reforma constitucional, que incluiria a garantia de que os espanhóis teriam uma residência paga pelo governo se o banco tomassem sua residência por falta de pagamento e o projeto de um referendo nacional sobre qualquer primeiro-ministro que não cumprisse seu programa eleitoral.

Já o líder da legenda Ciudadanos, Albert Rivera, de 36 anos, advertiu que seu grupo vai se abster de votar a favor de qualquer governo do PP ou do PSOE no Congresso.

Em busca de parceiros

Rajoy, de 60 anos, reconheceu que o panorama pós-eleitoral "não será fácil" e que terá de chegar a "entendimentos", acrescentando que considera a possibilidade de formam um governo de minoria.

"A Espanha necessita de segurança, estabilidade, certeza e confiança", assegurou Rajoy em discurso na sacada da sede do PP, no centro de Madri. Ele anunciou que, na nova etapa que se inicia, será necessário "dialogar muito e chegar a acordos".

Rajoy baseou sua campanha quase exclusivamente no êxito de sua gestão econômica, que permitiu à quarta maior economia da zona do euro dispensar um pacote de resgate quase certo em 2012 e se tornar uma das que mais crescem atualmente no bloco europeu.

No entanto, os duros anos de crise e a austeridade imposta pela doutrina europeia, aliados a uma série de escândalos de corrupção envolvendo importantes dirigentes do PP, explicam a diversidade histórica do resultado que penalizou seriamente o partido de centro-direita nas urnas espanholas.

CA/efe/rtr/ots/dw