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O 'caçador de nazistas'

(av)15 de fevereiro de 2007

Documentário presta homenagem a Simon Wiesenthal. Produzido pelo centro que leva seu nome, o filme o mostra do melhor ângulo possível, sem porém deixar de fora as arestas de uma personalidade fascinante.

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Simon Wiesenthal em 'Jamais esqueci de vocês'
Simon Wiesenthal Sammlung unter dem Hammer
Wiesenthal, colecionador de selos: exemplares de 1945, com a efígie de Adolf HitlerFoto: picture-alliance/ dpa

Poucos meses antes de falecer, em setembro de 2005, Simon Wiesenthal recordou uma promessa que fizera à sua esposa, Cyla. O casal viveria ainda "entre três e quatro anos" em Viena, para investigar as pistas de criminosos nazistas, migrando, após esse período, para Israel.

Na realidade, os Wiesenthal passaram o resto da vida na capital austríaca, uma vez que Simon jamais deixou de levar à Justiça os autores do Holocausto. "Para curar a malária é preciso viver com os mosquitos", explicava o "caçador de nazistas" aos amigos que não entendiam por que ele não ia embora, apesar de todas as hostilidades, ameaças de assassinato e mesmo um atentado a bomba em sua residência. "O lugar de um soldado é no campo de batalha", era um de seus lemas.

"Como construir casas após tal ruptura?"

Nicole Kidman
Nicole Kidman foi escolhida para narrar o documentário (foto da Berlinale 2003)Foto: AP

Um documentário procura agora explicar por que Wiesenthal não pôde cumprir a promessa feita à esposa. I have never forgotten you – The life and legacy of Simon Wiesenthal (Jamais esqueci de vocês: Vida e legado de Simon Wiesenthal) acaba de ter estréia no festival de cinema Berlinale.

Arquiteto de profissão, ele se perguntara, ao deixar o campo de concentração de Mauthausen, quase morto e pesando 45 quilos: "Como recomeçar minha vida, após uma tal ruptura, e sair construindo casas?"

Em entrevistas com o próprio Wiesenthal, familiares e amigos, o diretor Richard Trank traçou o perfil deste homem corajoso, do nascimento numa aldeia polonesa, passando pelos horrores da época nazista, até seu papel como um dos mais importantes perseguidores de criminosos nazistas.

Controvérsias

A película produzida pelo Simon Wiesenthal Center mostra o protagonista do melhor ângulo possível, e Trank não oculta sua admiração. "Foi feito com o coração", revela o diretor, que já realizou vários filmes para a associação.

Apesar disso, as controvérsias em torno da vida de Wiesenthal não ficam totalmente de fora. "Não queríamos pular esse aspecto", comenta Trank. Assim, menciona-se que o "caçador" foi acusado de tomar para si um papel exagerado na prisão de Adolf Eichmann, enforcado em 1962, em Israel, por seus atos de crueldade.

Com base em informações falsas, Wiesenthal também afirmou que o médico nazista Josef Mengele estava vivo, quando na realidade já morrera há muito tempo. O fato o tornou alvo de críticas de que teria causado sofrimento desnecessário aos descendentes das vítimas.

Polêmicas foram também suas revelações, após as eleições de 1975, de que o então presidente do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), Friedrich Peter, teria pertencido a uma tropa da SS responsável por crimes de guerra. Bruno Kreisky, chanceler federal da Áustria na época, acusou Wiesenthal de empregar métodos mafiosos.

Obsessão contagiante

Sir Ben Kingsley auf der Berlinale 2007
Para Ben Kingsley, este gesto de Wiesenthal denotava sua dorFoto: picture alliance / dpa

Contudo, tais episódios empalidecem diante dos elogios dos admiradores. Entre estes se encontra Ben Kingsley, que representou o caçador de nazistas na produção de TV Murderers among us (Assassinos entre nós).

"Ele era obcecado, e quem estivesse em suas proximidades ficava dependente", revela o ator britânico, que viajou especialmente a Berlim para a estréia do documentário. "[Wiesenthal] era como um pai para mim, e me ensinou muitíssimo."

Richard Trank revelou já haver encontrado uma distribuidora para sua película na Alemanha, que também chegará aos cinemas dos Estados Unidos no segundo trimestre de 2007.

Tapa na cara do presidente iraniano

Iran Holocaust Konferenz in Teheran
Ahmadinedjad (e) saúda rabinos anti-sionistas na conferência de 2006Foto: AP

A transmissão televisiva e o lançamento em DVD estão igualmente em perspectiva. "O mais importante para mim é o filme ser utilizado nas escolas", comenta o diretor.

O Centro Wiesenthal planeja também traduzir o documentário para o idioma farsi (persa), falado no Irã, assim como encontrar uma forma de mostrá-lo naquele país asiático. Em 2006, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinedjad, organizou uma conferência para aqueles que, como ele, negam o Holocausto.

"Vamos conseguir que as pessoas que querem saber da verdade possam ver esse filme", prometeu o rabino Abraham Cooper, vice-presidente do Simon Wiesenthal Center.