Festival de Oberhausen garante vida longa aos curtas
3 de maio de 2012Recém-encerrado, o Festival de Curtas de Oberhausen serviu mais uma vez como espaço de reflexão sobre o cinema. Considerado um dos fóruns mais importantes para os curtas-metragens do mundo, o festival levanta algumas questões em torno do formato ao qual se dedica. Paira sobretudo a pergunta a respeito da relevância do curta e sobre sua persistência em existir, já que, apesar dos esforços dos donos de salas de cinema, de distribuidores e de outras instituições, há quem acredite que eles desapareceram da paisagem cinematográfica.
Festival resiste, apesar das transformações da mídia
O tradicional Festival de Oberhausen deixa claro, porém, que pelo menos no meio cinematográfico alemão o curta-metragem sobrevive e está mais presente do que nunca. Apesar da tão aclamada transformação das mídias, das mudanças de comportamento no que diz respeito às formas de lazer, da internet e da revolução digital, o formato do curta dá provas de resistência.
Lars Henrik Gass, diretor do Festival desde 1997, está ciente disso tudo. Ele modificou a mostra no decorrer dos últimos anos, tornando-a aberta para novas formas e transformando-a em um espaço onde o discurso sobre o cinema se mantém vivo. E isso tudo em uma cidade como Oberhausen, cuja tristeza da paisagem urbana chega a chocar quem vem de fora.
E Gass dedicou ainda ao tema o livrinho Film und Kunst nach dem Kino (O filme e a arte depois do cinema), editado pela Philo Fine Arts – uma espécie de guia filosófico-cultural sobre o gênero e um breviário conceitual do festival, cujas reflexões vão bem além do cotidiano da mostra.
Espécie de "estação final" para os filmes
Segundo Gass em entrevista à DW, os festivais passaram a exercer hoje uma função totalmente diferente no meio cinematográfico. Antigamente, eles assumiam principalmente a tarefa de exibir filmes, que depois seriam mostrados no cinema. Hoje, são mais uma espécie de "estação final" para os filmes, aponta Gass.
Ou seja, é comum que muitos dos filmes exibidos em um festival nunca cheguem à programação regular de um cinema. "Os festivais acabaram assumindo o papel imprevisto, do ponto de vista histórico, de aproveitamento de filmes que nunca teriam uma perspectiva comercial ou que a teriam, mas somente de maneira muito limitada", completa o diretor do Festival de Oberhausen.
E como a produção cinematográfica cresceu como um todo, aumentou também o número de festivais no mundo. Gass relata que quando assumiu a direção de Oberhausen, em 1997, recebia inscrições de 2700 filmes. Hoje, são mais de 6 mil. Uma evolução respeitável, acredita. Gass não compreende, neste contexto, reclamações acerca de um suposto "excesso de festivais", uma vez, que, segundo ele, há um público interessado e uma demanda cultural suficiente.
"Festival como universidade"
"Imagino um festival como uma grande universidade", diz Gass, deixando claro que a programação do festival que dirige não gira mais em torno de uma mostra competitiva e de curtas selecionados da Alemanha e do mundo. Há anos, por exemplo, os videoclipes de música foram inseridos na programação fixa do festival – um formato que se desenvolveu depois da decadência da MTV. E não se pode esquecer que a avalanche de curtas, que circulam hoje em dia em canais como YouTube, contribuem para o boom do gênero.
Oberhausen adquiriu também um feeling para os artistas, ou seja, para a interseção entre o cinema e as artes plásticas, oferecendo fóruns de discussão regulares sobre o assunto, que vão além da exibição de filmes. O festival publica ainda livros e DVDs em edições especiais e mantém naturalmente uma abertura às novas mídias, tornando-se um lugar de debate consistente sobre o assunto. "A internet não é uma ameaça para nós, nem uma concorrência, mas uma chance para o festival", resume Gass.
Lembrança de 1962
O festival deste ano não deixou naturalmente de lembrar os 50 anos do lendário "Manifesto de Oberhausen", que sacudiu o cinema alemão do pós-guerra com seus preceitos fixos, em 1962. E além disso, Oberhausen assume agora a condição de produtor de uma série de dez capítulos, dirigida pelo jovem Maximilian Linz e intitulada Das Oberhausener Gefühl (O sentimento de Oberhausen).
A série gira em torno da revolução político-cinematográfica do referido Manifesto de 1962. "A concretização desta série já diz alguma coisa sobre as condições de produção cinematográfica na Alemanha", fala Maxilian Linz.
Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer