Festival de Berlim homenageia Spielberg com Urso de Ouro
21 de fevereiro de 2023O Festival de Cinema de Berlim homenageou nesta terça-feira (21/02) o diretor americano Steven Spielberg com o Urso de Ouro Honorário, pelo conjunto da sua obra de mais de meio século, que inclui sucessos como Tubarão, Indiana Jones e E.T., o extraterrestre.
Spielberg estava visivelmente emocionado ao receber o prêmio das mãos dos diretores da Berlinale, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian. "Não fiz nada sozinho. Fiz todos os filmes em colaboração com excelentes pessoas. Minha vida inteira, minha família – tudo é cooperação", afirmou.
Ele também disse estar agradecido ao cinema alemão, e nomeou os pioneiros Murnau e Lubitsch, mas também diretores como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Margarethe von Trotta, Wim Wenders, Wolfgang Petersen, Volker Schlöndorff e Tom Tykwer. "Fui inspirado por todos eles, por seus filmes", disse. "Meu trabalho está de alguma forma também em casa na Alemanha, e eu realmente me sinto quase em casa aqui esta noite."
Antes da cerimônia, Spielbeg havia dito que receber um prêmio pela realização de toda a sua obra "envia você de volta ao passado, quer você goste ou não, e isso te deixa muito reflexivo".
O último filme de Spielberg, o drama semiautobiográfico Os Fabelmans, será exibido no festival, assim como uma retrospectiva de alguns de seus sucessos.
Nomeado para sete Oscars, incluindo Melhor Fotografia, Os Fabelmans é o trabalho mais pessoal de Spielberg até o momento. O cineasta sabia que um dia chegaria a um termo com o divórcio de seus pais e o impacto que isso teve no início da sua vida, mas admitiu que levou algum tempo para que ele encontrasse o momento certo.
Ele disse que sua mãe, antes de morrer, há seis anos, sempre perguntava: "Quando você vai contar nossa história? Eu lhe dei tanto material! Quando você vai usar esse material?" disse o diretor de 76 anos, em Berlim.
Nos estágios iniciais da pandemia de covid-19, ele enfim "começou a pensar sobre a mortalidade e o envelhecimento". "De certa forma, o medo que senti antes da pandemia me deu a coragem de contar minha história pessoal", disse.
Infância movimentada
Nascido em 18 de dezembro de 1946 em Cincinnati, Ohio, Steve Allen Spielberg mudou de endereço várias vezes enquanto crescia, passando parte de sua juventude no Arizona e a maioria de sua carreira profissional na meca da indústria cinematográfica, a Califórnia.
Em razão de sua origem judaica ortodoxa, ele cresceu ouvindo histórias sobre como alguns de seus ancestrais perderam a vida no Holocausto. Vítima de bullying antissemita na escola, ele admitiu anos mais tarde que tinha alguns problemas com suas raízes judaicas. Décadas mais tarde, sua catarse veio através do filme A lista de Schindler, que lhe rendeu seu primeiro Oscar como diretor.
Aos 12 anos ele se tornou escoteiro e, para tentar conseguir a medalha de honra ao mérito de fotografia, ele usou a câmera de filmes de 8 milímetros de seu pai para fazer um filme de nove minutos chamado O último duelo. Depois disso, ninguém mais conseguiu parar o cineasta amador, que citou Lawrence da Arábia, de 1962, como o filme que o colocou "em sua jornada”.
Essa jornada começou quando ele se tornou um dos mais jovens diretores de televisão para a Universal no final dos anos 1960, com seu primeiro filme feito para a TV em 1971, intitulado Duelo. O filme foi, em geral, bem recebido pela crítica.
Em 1974, Spielberg fez sua estreia com o filme Louca escapada, baseado na história real de um casal em fuga, desesperado para reaver a custódia de seu bebê de uma família adotiva. A obra marcaria também o início de uma longeva colaboração entre Spielberg e o compositor John Williams, que escreveu as trilhas sonoras de quase todos os filmes do diretor.
Despertando emoções diversas
Mas foi um tubarão mecânico que às vezes não funcionava direito que selou sua reputação como um cineasta que podia atrair multidões e arrecadar dinheiro – quebrando os recordes de bilheteria da época.
O filme Tubarão, de 1975, é considerado o primeiro blockbuster de verão. A imagem daquela barbatana cortando as águas, acompanhada do célebre Tema de Tubarão de John Williams, que sinalizava o perigo iminente, provoca arrepios até os dias atuais.
A partir daí, nada mais detinha Spielberg. Seus filmes – que quase sempre retratavam crianças ou adultos de famílias fragmentadas de classe média, ou pessoas comuns fazendo coisas extraordinárias – evocam uma variedade de emoções.
Ele incitou nossos medos primários com Tubarão ou Guerra dos Mundos, de 2005; despertou nossa criança interior com ET, o extraterrestre (1982) e As Aventuras de Tintin (2011); nos fez pensar em mundos além do nosso em Contatos imediatos do terceiro grau (1977), nos fascinou com as peripécias do famoso arqueólogo Indiana Jones em Caçadores da arca perdida (1981) ou nos fez torcer para jornalistas que desvendavam verdades incômodas em The post – A guerra secreta (2017).
Assistimos abismados quando predadores há muito extintos foram ressuscitados e vagaram sobre a Terra mais uma vez em Jurassic Park – o parque dos dinossauros, e ficamos horrorizados com a violência de O resgate do soldado Ryan, que lhe rendeu o segundo Oscar de melhor diretor.
Explorando novas áreas
Essa é apenas uma seleção dos filmes que ele dirigiu. É impressionante também ver tudo o que ele produziu ou escreveu, o que dá a impressão que cobriu todos os gêneros possíveis nos manuais de cinema.
Através de sua empresa de produção Amblin Entertainment, fundada em 1981, ele produziu sucessos como Os Gremlins, a trilogia de De volta para o futuro, Uma cilada para Roger Rabbit, a série Os homens de preto e A conquista da honra.
Com a Dreamworks SKG, fundada em 1994 com Jeffrey Katzenberg e David Geffen, pudemos ser agraciados com filmes de animação inovadores como Formiguinhaz (1998) e a franquia de imenso sucesso Shrek. Em 2005, a empresa foi vendida para a Viacom por 1,6 bilhão de dólares.
Spielberg também se aventurou no campo do streaming. Sua empresa Amblin Partners assinou em 2021 um acordo com a gigante do ramo Netflix para produzir vários filmes por ano.
Nesta terça-feira, o cineasta disse que está trabalhando em um roteiro original de Stanley Kubrick sobre Napoleão, para criar uma série. "Estamos montando uma grande produção" para uma série de sete capítulos para a rede HBO nos EUA, baseada no roteiro de 1961, afirmou.