Festival de Cinema
16 de fevereiro de 2011Há 53 anos, o diretor Ingmar Bergman recebeu um Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim pelo seu Morangos Silvestres. Aquela foi sua primeira grande premiação. Em 2011, o festival, que acontece há mais de seis décadas na capital alemã, dedica uma retrospectiva ao mestre sueco.
O diretor da Cinemateca Alemã, responsável pela curadoria da retrospectiva, rebate as críticas de que a obra de Bergman já é suficientemente conhecida, não necessitando, por isso, de uma mostra especial em um grande festival. Rainer Rother lembra que os filmes de Bergman não estão, hoje, mais tão presentes no cinema, local para onde foram feitos.
Clássicos do cinema podem ser vistos hoje em DVD, mas raramente nas salas de cinema. Isso legitima a retrospectiva do Festival de Berlim, na qual também são exibidos trabalhos mais antigos do cineasta sueco, bem como filmes de outros diretores, rodados a partir de roteiros escritos por Bergman.
Redescobrindo Bergman
O diretor alemão Wim Wenders salienta que há poucos cineastas cujas obras valem a pena ser revistas. Segundo Wenders, Bergman deve "ser visto com imparcialidade", opinião dividida por Rainer Rother, que se diz convencido de que o cineasta sueco "foi deixado de lado muito cedo por ser tachado intelectual, profundo e sério".
Na retrospectiva berlinense, podem-se redescobrir todos os filmes de Bergman, inclusive aqueles feitos para a TV, bem como outros rodados a partir de roteiros escritos por ele e documentários sobre a Suécia. O cineasta, que se manteve ativo até uma idade avançada e morreu há três anos, deixou um legado de aproximadamente 60 filmes. Nascido em 1918 em Uppsala, Bergman atuou não somente por trás da câmera. Incontáveis são também seus trabalhos para o teatro, além de ter escrito livros, material autobiográfico e ensaios sobre cinema e teatro.
Convidados interessantes
Em vários de seus filmes, Bergman trabalhou com um grupo fixo de atores, como conhecia da prática teatral. Os atores e atrizes que trabalharam com ele eram reconvocados a cada novo filme. O diretor também trabalhou com apenas dois fotógrafos durante toda a sua carreira.
O Festival de Berlim convidou alguns desses profissionais próximos a Bergman, entre os quais as atrizes lendárias Liv Ullmann, Harriet Andersson e Gunnel Lindblom, que deverão falar sobre o trabalho com o diretor.
A retrospectiva é acompanhada da exposição Ingmar Bergman – Sobre Mentira e Verdade, que apresenta, no Museu do Cinema e da Televisão, verdadeiros tesouros pertencentes ao acervo pessoal do cineasta. Uma "sensação", nas palavras de Rainer Rother. Durante o festival em Berlim, é possível pensar a obra do diretor como um todo, a partir, entre outros, de filmes conhecidos como O Sétimo Selo e O Silêncio –provas da atualidade da obra do cineasta.
Grande exemplo
Não há dúvidas sobre a influência de Bergman sobre toda uma geração de grandes cineastas, como Woody Allen (admirador ferrenho do diretor sueco). Allen, até hoje, continua citando esporadicamente o mestre em seus filmes. Mas diretores mais jovens, como Michael Haneke, também se inspiraram em Ingmar Bergman, vendo-o como um exemplo a ser seguido e um ponto importante de orientação.
Além da impressionante linguagem visual de Bergman, sua estética espartana, ao lado, contudo, de imagens opulentas e grandiosas, também os temas escolhidos por ele inspiraram outros cineastas: a busca pelo sentido da vida, questões religiosas, o amor e a paixão nas relações humanas – todos quesitos hoje tão atuais quanto no início da carreira de Bergman.
Dieter Kosslick, o diretor do Festival de Berlim, resume: "Como praticamente nenhum outro cineasta, ele mostra um sentimento dilacerado típico do homem moderno. Os filmes de Bergman pertencem à história do Festival de Berlim e fico feliz de poder honrar esse grande diretor com a retrospectiva".
Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer