Desafio ao otimismo
20 de abril de 2009O presidente alemão, Horst Köhler, abriu oficialmente neste domingo (19/04) a Feira de Hannover. Durante cinco dias, até a próxima sexta-feira, 6.150 expositores de 61 países apresentam, na maior mostra industrial do mundo, suas soluções para otimizar os processos de produção.
Tendo como país-parceiro a Coreia do Sul, o evento deste ano ostenta o slogan "Inovação para sair da recessão". Entre os focos estão proteção do clima, eficiência energética e automatização.
Indústria é pilar da economia alemã
Hannover, capital da Baixa Saxônia, mostra-se de seu melhor ângulo: sol resplandecente, temperaturas amenas, dias primaveris como num conto de fadas.
Mas bastará isso para manter os ânimos no gigantesco terreno da feira? Afinal, ela transcorre em meio à mais profunda crise atravessada pela economia mundial nas últimas décadas, tendo a indústria como principal vítima. E a indústria é o cavalo de batalha da economia alemã, responsável por quase um quarto do Produto Interno Bruto do país.
O diretor da Feira de Hannover, Wolfram von Fritsch, registra mais de 4 mil novidades, para ele uma prova de que a indústria não se retrai, mas sim procura se afirmar, "com muitas ideias, muitos programas, bons temas e verdadeiro espírito empreendedor".
"Este ano há, com certeza, uma expectativa especial em torno da Feira de Hannover, pois aqui se demonstrará como a indústria pode contribuir para o desenvolvimento de inovações econômicas e para uma saída mais rápida da crise", avalia Von Fritsch.
A importância de ser paciente
As inovações tecnológicas da feira representam, sem dúvida, um enorme potencial. Na opinião de Hans-Peter Keitel, presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), "quando passar a crise, estas são exatamente as coisas de que precisaremos".
No entanto, paciência é do que mais se precisa, no momento, já que nada aponta para uma recuperação rápida. Grande parte dos clientes se mostra reticente no tocante a novas aquisições, à proporção que os bancos se retraem na concessão de créditos para esse fim. Só quando o dinheiro voltar a fluir poderá haver uma melhora.
Franqueza e desafio
Espantoso é o grau de franqueza com que os empresários falam de sua situação em Hannover: cortes de encomendas de 30% ou 40%, faturamento em declínio, redução das jornadas de trabalho; é o que se ouve em muitos estandes. Mas também um tom quase desafiador, de "não nos deixaremos abater".
A feira de informática CeBIT, realizada há seis semanas na mesma locação, acusou uma drástica diminuição do número de participantes, o que, no entanto, não ocorre com o atual evento. Este fato dá esperanças – ou, quem sabe, os expositores comparecem para dar esperança uns aos outros?
Prognósticos esperançosos
Justamente a fabricação de máquinas e equipamentos, setor-modelo da indústria alemã, vem sendo duramente atingido pela crise, após cinco anos de expansão. Em fevereiro de 2009 foi registrada a metade das encomendas do mesmo mês no ano anterior.
Não obstante, as empresas que expõem em Hannover mantêm o otimismo. Peter Smits, presidente da divisão alemã do conglomerado ABB, aconselha as empresas que queiram manter sua competitividade a aumentar a produtividade e a fazer os investimentos necessários para poder começar melhor, após a crise.
O empresário Manfred Wittenstein, presidente da VDMA (associação dos fabricantes de máquinas e equipamentos da Alemanha), vislumbra algo como uma luz no final do túnel. Ele crê que o ponto crucial da crise será atingido no início do segundo semestre, e que as perspectivas voltarão a ser positivas perto do fim do ano.
Os dados estatísticos para confirmar sua teoria só chegarão em um a dois meses. Porém, segundo a VDMA, já voltam a fluir as encomendas do Brasil, da China e da Índia. As cifras negativas diminuem: assim é o otimismo em tempos de crise.
Autor: Henrik Böhme
Revisão: Alexandre Schossler