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Feira do Livro de Porto Alegre homenageia a Alemanha

Alexandre Schossler, de Porto Alegre29 de outubro de 2004

No contexto dos 180 anos da imigração alemã para o Brasil e antecipando a Copa do Mundo de 2006, a Feira do Livro de Porto Alegre volta-se em sua 50ª edição para a literatura germânica.

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Feira na capital gaúcha tem sua 50ª edição (Foto: Ventura/Paz – CRL)Foto: Luís Ventura/Michael Paz – CRL

A Alemanha é o país homenageado da 50ª Feira do Livro de Porto Alegre, a maior já realizada na cidade. De 29 de outubro a 15 de novembro, devem circular pela feira cerca de dois milhões de visitantes, que deverão comprar quase 500 mil livros nos mais de 140 estandes espalhados pela Praça da Alfândega, no centro da capital gaúcha. Mais de 450 autores estarão presentes às sessões de autógrafo, oficinas e mesas-redondas, entre eles Fernando Morais, Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo, Silviano Santiago, Heloísa Buarque de Holanda e Arnaldo Antunes.

"É uma grande honra para a Alemanha ser o país homenageado na edição de 50 anos da Feira", afirma o diretor do Instituto Goethe de Porto Alegre, Reinhard Sauer. Os alemães não mediram esforços para marcar sua presença no evento e desde março estiveram envolvidos na organização do seu estande e de uma extensa programação cultural. As verbas vieram do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e da Feira do Livro de Frankfurt.

Alemanha atual

– Segundo Sauer, a intenção é lembrar ainda os 180 anos da imigração alemã no Brasil, os 15 anos da queda do Muro de Berlim e a Copa do Mundo de 2006, que terá como palco os estádios alemães. O slogan adotado na feira é A Alemanha de hoje, uma ponte entre o ontem e o amanhã. "A percepção da Alemanha ainda é muito antiga no Brasil, o que leva, por exemplo, os jovens a desistir de estudar alemão. Nós queremos oferecer uma imagem para atrair os mais jovens e não apenas agradar aos mais velhos", explica.

Inka Parei
Inka Parei ao receber o Prêmio Ingeborg Bachmann (2003)Foto: AP

Coerente com esse objetivo é a vinda da jovem escritora Inka Parei, um dos nomes fortes da nova literatura alemã, agraciada no ano passado com o Prêmio Ingeborg Bachmann. Inka estará na feira dia 4 de novembro para falar sobre a produção alemã contemporânea. Também aguardadas são as vindas do escritor e professor da Universidade de Leipzig Hans-Ulrich Treichel e do jornalista Günter Wallraff.

A homenagem à Alemanha é destacada pelo patrono da feira, o escritor e tradutor Donaldo Schüler, que recebeu o prêmio Jabuti pela tradução de Finnegans Wake, de James Joyce. "Essa escolha representa uma tradição do Rio Grande do Sul de se comunicar com os países que formaram o Estado e mostra o interesse dos gaúchos pelas suas origens."

Clássicos

– Interesse não só dos gaúchos, mas dos brasileiros também, e que pode ser medido em vendagens. Segundo números da editora L&PM, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe, vendeu mais de 40 mil exemplares na edição de bolso e é um dos 15 mais vendidos da coleção de livros de bolso da editora – entre mais de 350 títulos.

Günter Wallraff
Günter Wallraff também é esperado em Porto AlegreFoto: AP

"Há um grande interesse pelos clássicos alemães", diz o editor da L&PM, Ivan Pinheiro Machado, que também editou traduções de Friedrich Schiller, Heinrich Heine e Arthur Schnitzler, entre outros, e prepara para a feira o lançamento de uma antologia de contos reunindo mais de 54 autores de língua alemã, a cargo do tradutor Marcelo Backes. Para a escritora e tradutora Lya Luft, o interesse dos brasileiros pela literatura alemã também se explica pelo fato de autores como Thomas Mann fazerem parte da cultura ocidental, e não apenas alemã.

Novos autores

– Backes, um dos mais prolíficos tradutores do alemão, opina que o Prêmio Nobel entregue à austríaca Elfriede Jelinek pode aumentar ainda mais o interesse brasileiro pela literatura em língua alemã. "Em todo caso, escritores conhecidos da nova geração, como Thomas Brussig, Judith Hermann e Karen Duve continuam absolutamente desconhecidos no Brasil", afirma.

O desconhecimento dos novos autores pode ser visto também como resultado de práticas do próprio mercado editorial, que opta pelas traduções de textos já consagrados. Como não há livros disponíveis de autores jovens, eles não se tornam conhecidos. O escritor Luiz Antonio de Assis Brasil diz perceber uma descoberta da atual literatura alemã graças a empreendimentos editoriais específicos, ainda que sejam poucos. "É o mercado editorial e de traduções que comanda essa área", afirma o escritor, que foi bolsista do Instituto Goethe e viveu um ano na Alemanha, em 1984.

Mesmo que os autores alemães tenham encontrado leitores no Brasil, ainda há muito por fazer. Até os dois maiores nomes da literatura alemã, Goethe e Schiller, não têm traduções completas no país. Backes calcula que não mais de 15% da obra de Schiller tenha sido vertida para o português. "E o Brasil talvez seja o único país entre as economias mais importantes a não ter uma edição completa das obras de Goethe", avalia.